O JARDINEIRO DO REI
Era uma vez um rei
viúvo que se tornou a casar. Tinha da primeira mulher um filho
muito querido. A nova rainha, porém, não o amava, e intentava por
todos os meios perde-lo no coração do rei. Como este a não
escutasse, ela vivia cheia de despeito, decidida a desembaraçar-se
do príncipe, fosse de que maneira fosse.
Ora, um dia em que o
rei tinha ido caçar onças na Montanha Negra, ela pegou na taça de
ouro por onde ele costuma beber, encheu-a de hidromel e pingou dentro
algumas gostas de veneno.
À noite o rei chegou
mal humorado, porque uma onça estripara o seu cavalo favorito.
Disse-lhe então a rainha, mostrando-lhe a taca de ouro sobre a mesa:
— Reparai no que fez
vosso filho ingrato. Vos que o defendeis sempre, defendê-lo-eis
também agora? Espiando pelo buraco da fechadura, eu o surpreendi
pondo veneno em vosso hidromel.
— Senhora, isso é
impossível!
— Se não me
acreditais, daí esse hidromel ao cachorro e vereis o que sucede.
— Bem, — disse o
rei. Vou fazer isso.
E misturou o hidromel
na comida do cachorro. Logo que o pobre animal começou a beber, caiu
rígido, com as quatro patas no ar, o ventre inchado — morto!
— Menti? —
perguntou a rainha.
— Ah, senhora! —
exclamou o rei ébrio de dor e de cólera. Por que vos não quis
ouvir antes?
O príncipe, em vão
protestou sua inocência. Desta vez o rei acreditou na madrasta.
— Levai-o ao mais
denso da floresta, — ordenou aos soldados — e cortai-lhe a
cabeça.
Para assegurar-se de
que a ordem seria fielmente executada, acrescentou:
— E trazei-me o seu
coração e a sua língua.
Começaram os soldados
a caminhar com o príncipe no meio deles, e atravessaram assim toda a
capital do reino. Por toda parte o povo se amontoava para o ver e lhe
beijar as mãos, pois ele era muito querido.
— Meus amigos, —
dizia o príncipe, — acreditais que sou culpado?
— Não, não! —
respondia o povo.
Naquele reino, todo o
mundo chorava.
Os soldados tinham
também o coração oprimido. Mas que podiam eles fazer? uma ordem é
uma ordem. Em vão lhes rogava o príncipe que o deixassem com vida,
garantido-lhes que ninguém saberia de coisa alguma pois ele iria
para muito longe, muito longe, e não regressaria nunca mais.
— Pobre de nós! —
respondiam eles. De muito boa vontade vos pouparíamos a vida, porém,
o rei exige que lhe levemos o vosso coração e a vossa língua. Se
não lhe obedecermos seremos enforcados.
O príncipe teve então
uma idéia:
— Apanhai um
cachorro, degolai-o em meu lugar e levai ao rei o seu coração e a
sua língua. Fazei isto por mim! Eu estou inocente. Foi de certo
minha madrasta quem, para me perder, derramou veneno na taça de ouro
de meu pai.
Os soldados, contentes
por evitar assim um crime que de antemão lhes pesava nas
consciências, seguiram o conselho do príncipe, e deixaram-no ficar
sozinho no meio da floresta, não sem lhes suplicar que jamais
voltasse à capital do reino.
— Ide tranqüilos, —
disse o príncipe. Não sofrereis nunca por me haverdes dado a
liberdade.
Quando os homens de
armas apresentaram ao rei a suposta língua e o suposto coração do
filho, ele voltou a cabeça e afastou-se sem dizer palavra.
O príncipe internou-se
pela floresta e foi andando, foi andando, até que chegou ao término
dela. Atravessou em seguida outra selva, e mais outra, — e
encontrou-se afinal em um país desconhecido. Caminhou errante por
espaços de muitos dias sem encontrar alma vivente, quando, uma
tarde, bem ao cair da noite, esbarrou com um ancião que lhe propôs
entrar ao seu serviço.
— Com muito gosto, —
disse o príncipe, pois estava cansado e cheio de fome.
O velho conduziu-o à
casa, levou-a à cavalariça, onde havia apenas uma égua, e
confiou-lhe o cuidado de a tratar.
— Penteia-lhe as
crinas, prende-a bem à manjedoura e da-lhe de comer duas vezes por
dia.
E — coisa
surpreendente! — acrescentou:
— Sobretudo, não lhe
poupes pancada. Bate-lhe com um pau sempre que possas e até ficares
cansado de bater.
Depois, apontando-lhe
um poço, a curta distância, coberto de um todo espesso, disse:
— Vês aquele poço?
— Vejo.
— Pois bem, —
advertiu-lhe o ancião, — guarda-te de espiar o que nele existe.
Arrepender-te-ás se o fizeres.
O príncipe servia
muitos anos em casa do velho. Nunca foi ver o que havia dentro do
poço. Tratava da égua, mas não lhe batia, porque gostava dos
animais. O velho, também, nunca vinha à cavalariça, —
naturalmente porque era pouco curioso. Lá de vez em quando
perguntava:
— Deste uma boa coça
na égua?
— Bati-lhe a valer.
Está com o lombo todo ensangüentado!
— Muito bem, meu
rapaz! Continua.
Um dia o ancião saiu
de viagem, e o príncipe, tendo ficado só, sentiu um desejo
irresistível de saber o que havia dentro do poço misterioso. Não
quis tirar o toldo, com receio de não saber depois coloca-lo direito
no seu lugar, o que, infalivelmente, o denunciaria. Limitou-se,
portanto, a levantar um pouco uma das extremidades da coberta e a
meter dentro do poço o dedo mindinho da mão direita. Quando retirou
a mão, — oh, surpresa! — tinha o dedo dourado. Intentou
limpa-lo, esfregou, lavou-o, mas em vão! Trabalho perdido! O dedo
ficava sempre dourado, por mais que ele o ensaboasse e raspasse.
Compreendeu então que o velho era um mago. Temendo a sua cólera,
envolveu o dedo num lenço fino.
— Assim, — pensou,
— ele não dará conta da minha desobediência.
Engano! Quando o mago
regressou e lhe viu o dedo embrulhado, soube imediatamente o que
tinha acontecido mas, fingindo que não sabia, perguntou-lhe se se
tinha machucado.
— Foi um rato que
estava num saco de aveia e me mordeu quando eu ida dar de comer à
égua.
— Um rato? Estás
certo de que foi um rato? Parece-me que o rato foste tu, que quiseste
ver o que havia no meu poço e ficaste pegado. Perdôo-te por esta
vez, mas não repitas a aventura.
Outro dia em que o mago
saíra de viagem, o príncipe, estando a limpar a cavalariça, ouviu,
com grande espanto, que a égua o chamava pelo nome. voltou-se a ela
disse-lhe:
— Nunca me bateste
porque és bom. vou recompensar-te.
— Como?
— Vai ao poço, tira
o toldo que o recobre, lava a cara na sua água e verás...
Seguiu o príncipe o
conselho, e os seus cabelos se converteram em fios de ouro, leves e
tênues como seda.
— Agora, — disse a
égua, — desata-me, pula sobre mim e fujamos!
Correram com a rapidez
do vento, — do vento minuano cuja carreira vertiginosa coisa alguma
pode deter.
O mago persegui-os, mas
não lhes pôde fazer mal, porque em poucas horas a égua transpôs a
fronteira do país, onde o poder dele terminava.
Chegaram a outro reino
distante. O príncipe desceu da égua, cujas narinas fumegavam,
deitou-se no chão e, cansado com estava por aquela correria louca,
adormeceu profundamente. Ao despertar volveu a montar na égua, que
também tinha dormido, e saiu trotando ligeiramente pela estrada.
Dentro de poucas horas chegaram à vista de um castelo, residência
do velho monarca daquele país. Então a égua tomou outra vez a
palavra e disse-lhe:
— Precisas de
arranjar modo de vida. quanto a mim a coisa é simples, vou para o
campo. Em todo lugar há erva com que me sustente. O teu caso é mais
difícil. Dirige-te ao castelo do rei. Ele tem falta de jardineiro, e
talvez tu consigas agradar-lhe. antes de mais nada, porém, envolve a
tua cabeça num pano para que ninguém suspeite que são de ouro os
teus cabelos. Além disso, finge-te de mudo.
— Por que, égua?
— Não queiras saber
por que. Segue os meus conselhos e verás.
— Compreendido.
— Bem. Agora, adeus!
Vem ver-me de quando em quando, e se te encontrares em dificuldades
pensa em mim.
Dito isto, a égua
trotou para um bosque que havia perto e o jovem seguiu caminho do
castelo. O rei gostou dele e contratou-o como jardineiro.
Este rei tinha três
filhas. E todas três se sentiram desgostosas ao ver que seu pai
havia tomado como jardineiro um homem de cabeça vendada, e mudo
ainda por cima. Achando-o muito feio, batizaram-no com o nome de
Mudo-Espanto e foram se queixar ao monarca.
— Bom, minha filhas!
Não se aflijam por causa do jardineiro. Arranjarei outro, quando
aparecer. Por agora, todavia, conservarei Mudo-Espanto.
O príncipe tratou de
fazer o serviço da melhor maneira possível! Quando não sabia
qualquer coisa ia em busca da égua, que sempre lhe dava ótimos
conselhos. Tão bem se desempenhou da sua tarefa, que dentro em breve
o rei se convenceu da excelente escolha que fizera. Nunca tivera em
seu jardim rosas tão belas e árvores tão bem tratadas como agora!
— Afinal de contas, —
disse um dia, um jardineiro não precisa de ser formoso.
E decidiu que não
tomaria outro.
Quando as princesas
encontravam Mudo-Espanto nas avenidas do parque, voltavam-lhe a
cabeça com enfado, — à exceção da mais nova, que era muito
bondosa e tomava sempre a defesa do jardineiro se as outras falavam
mal dele. As irmãs reprovavam-lhe aqueles gostos vulgares, mas ela
não fazia caso.
Um dia em que o
príncipe se julgava sozinho, tirou o pano da cabeça e começou a
pentear os seus cabelos dourados. Precisamente nessa ocasião a
princesinha mais nova, que era um tanto curiosa, estava espiando por
uma fresta do muro. Imaginai a surpresa dela quando viu serem de ouro
puro os cabelos de Mudo-Espanto! Não disse nada a ninguém, mas
tomou daí por diante, com maior afinco, a defesa do jardineiro. As
irmãs tratavam-na de louca!
Passaram-se muitos
meses. Um belo dia o rei do país declarou guerra ao da nação
vizinha. Mudo-Espanto deixou a pá e a enxada, e foi procurar a égua.
— Bons dias, égua!
— Bons dias, amigo.
Sei perfeitamente o que te traz aqui.
Havia no chão, junto
dela, uma armadura de ouro.
— Veste essa
armadura, — disse a égua ao príncipe, — monta em mim e vamos
pelejar.
O príncipe vestiu a
armadura, montou na égua, que já estava perfeitamente ajaezada, e
foi para a guerra marchando a todo galope. Quando chegou ao campo de
batalha o exército inimigo estava quase vencedor e o rei olhava
desesperadamente para os seus soldados sem ânimo, que começava a
empreender a fuga em debandada. Já os “cornetas” iam tocar a
retirada, quando Mudo-Espanto surgiu e mandou que se calassem.
Avançou sem medo contra o inimigo, precipitou-se no mais acesso da
peleja e levou os soldados à vitória. A sua coragem causava
admiração até aos próprios adversários, que em menos de uma hora
se renderam e se confessaram vencidos.
O rei, naturalmente,
ficou satisfeitíssimo e quis, depois do combate, recompensar o
esforçado guerreiro. O príncipe, porém, tinha-se apressado em
regressar ao bosque, e o monarca teve de voltar para o castelo sem
saber o nome do seu misterioso salvador.
Vestido novamente de
jardineiro, — ninguém suspeitou que fosse Mudo-Espanto o famoso
cavaleiro misterioso. Ele trabalhava de manhã à noite, nunca se
esquecendo, todavia, de mandar todas as tardes um soberbo buquê de
rosas à princesinha mais nova, que se convertera em escárnio das
irmãs e de alguns cortesãos desejosos de agradar às duas.
Pela segunda vez
estalou a guerra. O jardineiro tornou ao bosque, onde já encontrou a
égua toda ajaezada de prata.
— Bons dias, égua!
Sabes ao que venho?
— Já te esperava.
Põe em esta armadura branca, monta em mim e marcharemos.
Quando chegaram ao
local do combate a situação do rei era desesperada. Cercados por
todos os lados, os soldados batiam-se ao acaso e feriram-se uns aos
outros. Os chefes estavam decididos a render-se. A derrota era
inevitável!
Eis, porém, que
Mudo-Espanto surge na vanguarda das tropas, e avança, de espada
erguida contra o formidável exército inimigo. Reanimam-se os
soldados ao reconhecer o cavaleiro misterioso que da outra vez os
salvara, e marcham entusiasmados sob o seu comando, dispostos a
morrer ou a vencer. Em poucos minutos a sorte da batalha muda por
completo, e o adversário tem de fugir por fim.
O rei, jubiloso em
extremo, queria a todo custo agradecer a quem pela segunda vez o
salvara. Mudo-Espanto, porém, abriu caminho por entre a multidão
entusiasta que o aclamava, e foi de novo trata do seu jardim.
Contrariado pelo que
sucedera, o monarca regressou triste ao castelo, e muito tempo ficou
aborrecido por ter feito, embora involuntariamente, o feio papel de
homem ingrato.
Durante seis semanas
não se falou no reino de outra coisa senão no cavaleiro de armas
brancas. O rei, entretanto, procurava por todas as formas achar um
meio de descobrir o seu misterioso salvador. E eis o que resolveu:
Com pretexto de
festejar a vitória, organizou um grande baile ao qual todos os
súditos do reino seriam obrigados a comparecer, sob pena de terrível
castigo. As princesas também assistiriam, do balcão do castelo
real. E cada uma delas teria na mão uma pelota de ouro que, a um
sinal dado, lançariam no ar. Aquele sobre quem a pelota caísse
poderia escolher para esposa uma das três. Eram pelotas mágicas,
oferecidas ao rei por um grande feiticeiro seu amigo. Ele supunha que
o bravo cavaleiro viesse.
No dia designado para o
baile todos os súditos se juntaram no parque do palácio, que era
formidavelmente grande. Quando o rei surgiu no balcão com as três
filhas, fez-se imediatamente em todo o parque um silêncio enorme. A
um sinal do monarca a princesa mais velha arremessou a sua pelota,
que deu três voltas no ar e foi cair suavemente sobre a cabeça de
Mudo-Espanto.
— O meu jardineiro!
Resmungou o rei. Ter-me-ia enganado o feiticeiro?
— Não! Não! —
gemeu a princesa, desfazendo-se em pranto. Não quero semelhante
marido!
— Tem toda razão! —
gritaram os cortesãos indignados.
Um mocinho bobo e
pretensioso que se queria casar com ela, fazia mais barulho que
ninguém e repetia com voz de falsete:
— Tem toda razão!
Tem toda razão!
Decidiu-se repetir a
prova.
Desta vez a princesa
arremessou a pelota para o lado oposto àquele em que se encontrava o
jardineiro. A bola, porém, voltou no ar, e ia outra vez tombar-lhe
na cabeça, quando ele, abaixando-se de repente, e fez cair em cheio
sobre o nariz do mocinho gritador. A princesa regozijou-se porque ele
era o seu namorado.
A pelota da segunda
princesa caiu também na cabeça do jardineiro. O rei indignou-se, a
menina chorou, a multidão, gritou, e a prova foi repetida. Como da
vez primeira, o jardineiro abaixou-se e a bola caiu na boca de uma
fidalgo barrigudo que namorava aquela filha do rei.
Chegou a vez da
princesinha mais nova. Adiantou-se com a sua pelota e arremessou-a.
ela deu três voltas no ar e foi cair no rosto do jardineiro.
— Isso já é demais
— bradou o rei.
— Que repita! —
gritou a multidão.
— Não! — disse a
princesa. — Eu aceito o jardineiro por esposo. Sorte é sorte.
Começaram todos a
protestar, o soberano ficou roxo de cólera, mas em vão! A
princesinha manteve a sua palavra.
— Senhora! — disse
o jardineiro, aproximando-se dela. — achais-me muito feio?
— Não, Mudo-Espanto!
— Tendes vergonha de
vir a possuir um marido como eu?
— Não, Mudo-Espanto!
Anuncio-se o casamento,
com grande escândalo da corte. Para mitigar a má impressão que
daria com toda certeza o noivo-jardineiro caminhando ao lado da
princesinha na festa nupcial, decidiu o rei que as três se casassem
no mesmo dia. E esse dia finalmente chegou. Todos os convidados se
reuniram na grande sala de recepções do castelo. Eram onze horas da
manhã. Os dois primeiros noivos estavam já muito ocupados em fazer
corte às suas duas prometidas. Só o jardineiro tardava.
Procuraram-no por toda
parte e não o encontraram. Ninguém sabia o que pensar de semelhante
desaparição...
— Certamente fugiu, —
disse o rei. Talvez se tenha envergonhado à última hora.
Estava todo satisfeito
por isso. E os cortesãos também. A princesinha, — coitada!! —
com o coração cheio de angústia, não se atrevia sequer a chorar,
pois sentia pousados sobre ela os olhares escarnecedores de toda a
corte de seu pai.
Subitamente, ao dar do
meio-dia, ressoou um toque vibrante de clarim! Os convidados correram
às janelas e viram, pela avenida de palmeiras que conduzia à porta
principal do castelo, avançar, magnificamente montado, o cavaleiro
de armas brancas que duas vezes salvaram o reino.
— Oh! Meu príncipe!
Perdoai-me! Há muito tempo que eu ansiava, como rei deste país,
apresentar-vos os meus respeitos.
— Majestade! Sou o
filho de um poderoso monarca e venho buscar a minha prometida.
— Vossa prometida?
Príncipe! Que contratempo! Que infelicidade não terdes vindo alguns
dias antes! As minhas filhas já escolheram noivos. A mais nova
decidiu casar-se com o meu jardineiro, um joão-ninguém que só sabe
cavar e regar as plantas. Parece-me, porém, que ele fugiu. Se assim
foi, podeis casar-vos com ela.
— Majestade! — eu
sou o jardineiro de quem falais. Tive de esconder a minha cabeça
porque os meus cabelos são de ouro, e guarde silêncio para vos
ensinar a julgar as pessoas, não pelo que dizem, mas pelo que fazem.
— Ah! Príncipe! Se
eu soubesse...
O rei ficou deslumbrado
por ter semelhante genro, e a princesinha pulava de contente. As duas
maiores estavam muito despeitadas, e olhavam de revés, — uma para
o seu fidalgo barrigudo, outra para o seu mocinho bobo de com voz de
falsete.
As bodas foram
esplêndidas. Depois do banquete o príncipe foi à cavalariça
agradecer à égua, — disse-lhe ela — trataste-me bem quando eras
criado do feiticeiro. Paguei-te dando-te bons conselhos e
servindo-te. Achas que fui alguma vez má para contigo?
— Nunca! Nunca!
Sempre foste boa.
— Pois agora, —
príncipe, — sabes tu quem sou eu ?
— Não, égua! Não
sei.
— Sou tua madrasta.
Fui eu quem te caluniou ao rei teu pai. Na mesma noite do meu crime
fui transformada em égua e condenada a expiar as minhas faltas na
cavalariça daquele feiticeiro a quem foste servir. Só poderia ficar
livre quando te devolvesse em bem todo o mal que te causara. Terminei
por fazer-te! Tu perdoas-me, príncipe?
— Oh! Senhora! —
disse o príncipe, beijando-a.
— Se me perdoaste,
corta-me a cabeça!
— Isso nunca!
— Não deixes de me
fazer este favor. Só assim ficarei totalmente liberta.
O príncipe sacou então
a espada e cortou a cabeça da égua, que imediatamente se
transformou em nuvem e desapareceu no ar. Tinha acabado o seu
castigo.
Decorrido os tempos das
festas conduziu o príncipe a sua linda mulherzinha à corte do rei
seu pai, que ainda vivia e passava as noites lamentando a ordem cruel
que outrora havia dado. Não se imagina a alegria que ele sentiu ao
ver novamente o filho que supunha morto, e ao sabe-lo casado com a
filha de um dos grandes monarcas seus vizinhos.
Houve bailes públicos
e banquetes de regozijos durante três meses e três dias. Eu não
estive lá para assistir, mas minha avó, que esteve, contou-me que
nunca vira um casal mais bonito e festas mais suntuosas que aquelas!
Amei ao reencontrar essa história postada do Jardineiro do Rei, pois quando era criança, ouvi minha mãe contar na escola primária em que lecionava e achei tão linda...algumas das minhas colegas até choraram. A minha mãe tinha o livro com essa história, mas desapareceu, e até ela gostaria de ler novamente pois não lembra mais como era. Agora vou imprimi-la para ela ler e relembrar.Obrigada Sérgio por esta postagem, foi sensacional, relembrei do meu tempo de primário, que sempre uma vez por semana, era contada história na escola em que estudava e a minha professora era minha mãe.
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