terça-feira, 29 de abril de 2014

MERECE SER LEMBRADO II - A GALINHA DE TIA MICAELA


A GALINHA DE TIA MICAELA

Era noite de mutirão.
Doze ou quinze homens trabalhavam ao redor de enormes lampiões.
Na cozinha, tia Micaela tirava as primeiras fornadas de broa de fubá, e o cheiro de café enchia as salas até as varandas.
O vozerio dos moços misturavam com o estalido seco das palhinhas dos cestos que as mulheres teciam num canto.
No meio deste movimento, Joaquim Sara levou as mãos ao bolso, apalpou-o, olhou o chão ao redor de si e exclamou:
— Meu relógio! Perdi o meu relógio. Ainda há pouco, uns dez minutos, estava aqui no meu bolso.
Todos se levantaram e puseram-se a procurar no chão, entre as palhinhas, em cima das mesas.
Alguns olhavam para Colatino, conhecido como mentiroso e desonesto. Impossível achar o ladrão!
Mas lá veio tia Micaela com uma galinha sob sua blusa.
Era uma galinha preta, com machas brancas no peito, de olhos vivos e brilhantes que lançavam reflexos vermelhos à luz trêmula dos lampiões.
Tia Micaela pachorrentamente pegou um tamborete e foi assentar-se no canto mais escuro da sala.
Colocando a galinha no colo, pediu que todas as pessoas presentes fizessem fila e que, uma após outra, passassem a mão nas costas da galinha.
Todos, calados, olhavam uns para os outros, como se quisessem indagar por que a galinha havia de apontar o ladrão. Dar-se-ia ocaso de a galinha estar enfeitiçada e de se por a cantar, quando sentisse sobre as suas costas a mão do ladrão?
Começou o desfile.
Cada um, ao pôr a mão sobre a galinha, parava de respirar, com medo de que ela viesse a gritar.
Chegou a vez de Colatino.
Pálido e trêmulo. Colatino fez o mesmo que os outros. Mas nada!
Nem para ele, nem para ninguém a galinha abriu o bico.
Afinal, a tia Micaela pôs a galinha no cestinho pachorrentamente, foi buscar uma candeia.
Voltou e, chamando outra vez um por um, começou a examinar a palma das mãos.
Todas estavam pretas, menos a de Colatino que revelou, assim, sua falta.
Tia Micaela havia passado nas costas da galinha fuligem engordurada, para que cada mão se tornasse preta ao passar sobre ela.
Colatino que não tinha a consciência em paz, fingiu apenas passar a mão, mas não tocou nas penas da galinha.
Ah! Quem pensa que esconde uma falta?



MERECE SER LEMBRADO II - A CRUZ DA ESTRADA


A CRUZ DA ESTRADA
Castro Alves

Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz, dormir na solidão.

Que vale o ramo de alecrim cheiroso
Que lhe atiras nos braços ao passar?
Vai espantar o bando buliçoso
Das borboletas, que lá vão pousar.

É de escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz:
Deixa-o dormir no leito de verdura
Que o Senhor, entre as relvas, lhe compôs.

Não precisa de ti. O gaturamo
Geme por ele à tarde no sertão:
E a juriti, do taquaral no ramo,
Povoa, soluçando, a solidão.

Entre os braços da cruz, a parasita,
Num abraço de flores, se prendeu;
Chora orvalhos a grama, que palpita,
E acende o vaga-lume o facho seu.

Quando à noite o silêncio habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus...
Prende-se a voz na boca das cascatas
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.

Caminheiro! do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.

MERECE SER LEMBRADO II - A CAVALGADA DAS BRUXAS


A CAVALGADA DAS BRUXAS

Dizem que as velhas bruxas, que se escondem nas grutas solitárias, não incomodam mais a gente.
Por que será?
Só Adrião o sabe, mas Adrião não conta a ninguém, pois tem medo que seu nariz fique de palmo e meio.
E como é que Adrião o sabe?
Aí é que está a história.
Adrião era um pastor muito valente que vivia a guardar os seus rebanhos ao pé da Montanha Negra.
Um dia — era ele mocinho — ficou procurando um carneirinho que desaparecera de repente, procurando, procurando, até que, desanimado de acha-lo, resolveu voltar para casa.
Adrião olhou para as estrelas e viu que já era perto de meia-noite.
A noite estava muito escura.
Meia-noite era a hora em que as bruxas costumavam sair das cavernas.
Adrião ia a caminho de casa, quando, ao passar perto de uma caverna, ouviu algumas vozes estranhas e o barulho de cabos de vassoura.
— Quem poderá andar por aqui, por estas horas? — disse Adrião consigo mesmo.
Adrião olhou em roda, mas não viu ninguém.
— Ah! E se fosse as bruxas? — disse ele — É hora delas saírem.
Adrião escondeu-se numa moita de capim e pôs-se a escutar.
Pouco a pouco, as bruxas foram saindo da caverna nos seus cavalinhos de pau, que eram cabos de vassoura.
Elas foram indo pelo ar e cantavam:
— No cabo desta vassoura,
Pelo dom desta hora,
Vamos pelo mundo afora.
Voaram até as nuvens, mas algumas ficaram perto da caverna, e uma gritou:
— Carne humana! Estou sentindo cheiro de carne humana! Há uma pessoa por aqui perto de nós.
Adrião pensou, pensou:
— E agora? As bruxas acabam por me descobrir e...
Uma bruxa deixou seu cabo de vassoura e deu vota à gruta, á procura de alguém.
Adrião, então, pegou o cabo de vassoura, nele e saiu voando. Adrião foi voando também porque o seu cabo de vassoura o carregava.
As bruxas voavam e cantavam, e Adrião foi voando e cantando atrás delas:
— No cabo desta vassoura,
Pelo dom desta hora,
Vamos pelo mundo afora.
Voando e cantando, as bruxas atravessaram as florestas, os mares, as montanhas, até que chegaram aos paises gelados do Norte. Passaram pela Dinamarca, pela Suécia e pela Noruega e foram das á Lapônia.
Viram, no meio de salgueiros brancos de neve, um castelo coberto de neve. Havia luz lá dentro.
Devia ser bem quentinho. Resolveram entrar nele e para ele se dirigiram.
Adrião viu uma porção de guardas, muito bem armados, ao redor do castelo, e disse consigo:
— E agora? Essas bruxas passarão, mas e eu, que não sou bruxa? Que vai ser de mim?
Adrião, porém, não sabia que, quando era preciso, o cabo de vassoura o tornava invisível como as bruxas, e, por isso ficou espantado de ouvir os guardas gritar, quando passaram no meio deles:
— Irra! Que ventania!
Os salgueiros sacudiram seus galhos com violência, e os guardas seguraram os capacetes com a mão, para não voarem.
As bruxas passaram no meio dos guardas e chegaram perto do grande portão de ferro, que estava fechado com sete chaves.
— E agora? Como é que vou passar?
Entretanto, as bruxas iam entrando pelos buracos da fechadura e Adrião também.
Foram direitinho à adega, sentaram-se em torno de uma larga mesa e ali comeram as melhores comidas e beberam os melhores vinhos.
Fartas de beber e comer, puseram-se de volta.
No cabo desta vassoura,
Antes que venha a aurora,
Antes que passe a hora,
Vamos, vamos embora...
Voaram, cantando, chegaram cantando, e, antes de entrarem nas suas cavernas, uma bruxa disse a Adrião:
— Adrião, bico calado! Não diga uma palavra do que viu, senão o seu nariz crescerá palmo e meio.
Adrião não sabe o que se passou depois.
Quando acordou, o sol já ia alto, e o seu chapéu de palha ia rolando pela montanha abaixo, levado pela brisa fresca da manhã.
Adrião olhou ao redor e não viu nada.
Só, ali perto, o carneirinho, que lhe dera tanto trabalho, comia a relva verde e tenra da encosta da Montanha Negra.
Adrião lembrou tudo o que acontecera de noite e pôs a mão no nariz para ver se continuava do mesmo tamanho. O nariz era o mesmo. Não contaria nada a ninguém.

HISTÓRIAS TIRADAS DO LIVRO AS MAIS BELAS HISTÓRIAS : COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO: ENSINO DE PRIMEIRO GRAU, 3ª SÉRIE ESCRITO POR LUCIA MONTEIRO CASASANTA. EDITORA DO BRASIL S/A. SÃO Paulo 1973. EBSA – MEC.

MERECE SER LEMBRADO II - A CAMBAXIRRA


A CAMBAXIRRA

A cambaxirra é um passarinho pequenino e espevitado.
Não é muito desconfiado, não. Chega às vezes até bem pertinho da gente.
A cambaxirra conhece a vida de todos os insetos e aranhas que vivem na horta e no quintal.
Entra pelos buracos, espia aqui, espia ali, e não deixa nem um inseto escapar, leva tudo para seu papo.
A cambaxirra — quem não a conhece? Alguns a chamam de carriça ou garricha ou corruíra.
É pardo-acinzentada nas costas, e pardo-amarelada embaixo.
As suas asas e a sua cauda têm uma lista preta e fina, o seu bico é um pouco longo.
O macho e a fêmea são quase iguais.
Às vezes a cambaxirra põe três ovos, outras vezes põe quatro, sempre entre os meses de abril e junho. Leva treze dias para chocar seus ovinhos.
Seus ninhos são feios, mal feitos, sempre nos buracos das paredes, dos muros ou no beiral dos telhados.
A cambaxirra é boazinha também. Se a mãe de um passarinho morre, a cambaxirra vai e cria o passarinho.
A cantiga da cambaxirra é alegre e bonita, parece com uma risadinha de criança.
E como são engraçadinhas!
Olhem! Lá vem elas saltitando pelo muro afora. Param aqui, param ali, cantam, batem as asinhas!
São tão bonitinhas! Tão bonitinhas!
Se uma cambaxirra cair na sua arapuca, menino — que pena! — Já se sabe! A arapuca não pega mais passarinhos, fica com azar.
Mas não acreditem nisso, meninos! É tudo mentira!
As cambaxirras são tão boas, tão bonitinhas, coitadinhas!

HISTÓRIAS TIRADAS DO LIVRO AS MAIS BELAS HISTÓRIAS : COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO: ENSINO DE PRIMEIRO GRAU, 3ª SÉRIE ESCRITO POR LUCIA MONTEIRO CASASANTA. EDITORA DO BRASIL S/A. SÃO Paulo 1973. EBSA – MEC.

MERECE SER LEMBRADO II


Toda essa sequência de MERECE SER LEMBRADO II são 

HISTÓRIAS COPIADAS DO LIVRO AS MAIS BELAS HISTÓRIAS : COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO: ENSINO DE PRIMEIRO GRAU, 3ª SÉRIE ESCRITO POR LUCIA MONTEIRO CASASANTA. EDITORA DO BRASIL S/A. SÃO Paulo 1973. EBSA – MEC.

ATENÇÃO: MUITOS TEXTOS APRESENTAM ERROS DE GRAFIA. NO MEU ORIGINAL TAIS ERROS OCORREM. EU OS DIGITEI TAL COMO NO ORIGINAL para preservar a lembrança daqueles livros corrigidos antes dos computadores. Até mesmo acentos errados como em aí onde deveria ser ai, foi mantido.



Pelo índice


O segredo da cutia
A cavalgada das bruxas
A lenda de são Jorge
Eda Bezerra Pinheiro
O fim — escrito por Rabindranath Tagore — tradução de Abgar Renaut
Ariadna ou a coroa de estrelas
A onça e a coelha
A vingança da onça
A cambaxirra
Seja um bandeirante, menino!
Fernão Dias agoniza — escrito por Olavo Bilac
O pastor e o leão — Monteiro Lobato
O fechador de olhos — Andersen
O gato polícia
Um herói: Tiradentes
A onça e o bode
O enterro da cigarra — Olegário Mariano
A galinha ruiva
Ulisses na terra dos Ciclopes
Argos, o cão de Ulisses
O cão — Afonso Lopes Vieira
Uma estranha luz começou a iluminar o coração dos homens
O rachador de lenha e o nadador — Trindade Coelho
A menina e o leite
Gata Borralheira
Santa Catarina de Labourré
Cantiga — Cecília Meireles
O coelho, o hortelão e a raposa
Bárbara Heliodora
Branca de Neve
Pítias e Damon
Que diabos!
Um sábio: Osvaldo Cruz
Guilhermina, a desastrada
De volta — Paulo Setúbal
O cabrito e o lobo — fábula de Esopo escrita por Trindade Coelho
Uma história verdadeira: Tobias
Os músicos de Bremen ou os quatro companheiros de viagem
Saci Pererê — Joaquim de Queirós Filho
O afilhado do diabo
Plantem árvores, meninos!
Oração à árvore
Pátria — Olavo Bilac
A galinha de tia Micaela
A cruz da estrada — Castro Alves
O carneiro e a baratinha
Ândroclo e o leão
Pequeno Polegar
Aspirações — Francisca Júlia e Júlio César da Silva
Pequeno dicionário

quarta-feira, 16 de abril de 2014

ALGUNS GÊNEROS LITERÁRIOS - cordel


CORDEL


A literatura de cordel está diretamente relacionada ao romanceiro popular português originou-se a literatura de cordel brasileira. No Nordeste brasileiro, a literatura de cordel começou a ser divulgada nos séculos XVI e XVII, trazida pelos colonos portugueses. A partir do século XIX, o romanceiro nordestino tornou-se independente, com características próprias. De forma análoga, as áreas de colonização espanhola. Na América beberam das fontes ibéricas. Alguns estudiosos, no entanto, atribuem as origens remotas da poesia popular à Provença, o que se confirmaria pelos temas picarescos e pela designação “trovador” aplicada ao poeta popular.
Na origem, a literatura de cordel se liga à divulgação de histórias tradicionais, narrativas, de épocas passadas que a memória popular conservou e transmitiu.
Essas narrativas enquadram-se na categoria de romances de cavalaria, amor, guerras, viagens ou conquistas marítimas. Mais tarde apareceu mesmo tipo de poesia a descrição de fatos recentes e de acontecimentos sociais contemporâneos que prendiam a atenção da população.


O trem da madrugada1


Leitores trago mais uma
Criação muito engraçada
Da minha lira poética
Que sempre vive afinada
Desta vez descrevo bem
O movimento do trem
Que desce de madrugada.
Seja de Paracambi,
São Mateus ou Santa Cruz
A turma da fuleragem
Que só bagunça produz
De madrugada só quer
Carro que tem mais mulher
Porta enguiçada e sem luz.
Mulher de anca bem gorda
Diz o cabra, esta é legal
Se acoa por trás dela
Que a coitada passa mal
Dá bronca, dá coice e upa,
O cabra ta na garupa
Só desmonta na Central.
Não adianta dar bronca
Nem reclamação, nem choro,
A turma rodeia ela
Fazendo força igual touro,
Por trás, de frente, de lado
Só urubu esganado
Por tripas no matadouro.
A mulher fica no meio
É homem por todo lado,
Cada um tira uma linha
De maldade e fraseado
Quando ela banca a loba
Outro grita olha a mão na boca
Que aí só tem tarado.

Alguma usa alfinete,
Ferra o cabra igual lacraia,
Mas a que gosta do frevo
Se solta no meio da laia,
Gaiato grita de lá
Zé Mane chega pra cá
Aqui tem rabo de saia.

Tem mulher que grita, ôpa
Cuidado com essa tara
Eu estou saindo fora
Este marmanjo não pára
Agora seu saliente
Se teimar de novamente
Meto-lhe a bolsa na cara.

Outro de lá diz, que é isso
É melhor ficar quitinha
Outro diz, se é tratada
Meto o cabo da sombrinha
E mande esse descarado
Andar de trem enganchado
Nas costas da vovozinha

Outro se deita nas costas
De alguém que está na frente,
Quando um reclama outro diz:
Quem for fraco se arrebente
Se não quer sofrer ataque
Compre um jipe ou cadilack
E saia do meio da gente

Um grita não me empurre
Que lugar aqui não tem
Outro grita, meu chapa
Pra que viaja de trem
Aqui estão me pisando
Outro por trás me empurrando
Eu tenho que empurrar também.

Gordo que fica na porta
Pra não machucar a pança
Diz pra quem vem voltando
Devagar que tem criança
Quem entra não dá cartaz
Grita pra quem vem atrás
Aqui a maré ta mansa.

Cada estação vai enchendo
Se ouve negro gemer
Quem entra de mãos pra cima
Depois não pode descer
Às vezes naquele meio
O amigo do alheio
Rouba e não pode correr.

Em Ricardo de Albuquerque
A melhor aconteceu
Um dia o trem encheu tanto
Que o companheiro meu
Quando foi coçar a nuca
Coçou a mulher do Juca
Dessa vez o pau comeu

Tem pobre que vai no trem
De aperto quase morto
Com mais de cinco nas costas
Cansado, envergado e torto
E quando o trem vai chegando
Salta correndo gritando:
Eita acabou-se o conforto.

Quando chega na Central
Só se ouve a choradeira
Um dizer nem me deixaram
Eu saltar em Madureira,
Outros clamam: puxa vida
Que agora na saída
Roubaram a minha carteira

Mulher xinga, esses danados
Não querem que se reclamem
Entram parecem uns cavalos
Daqueles que pulam arame
Pisou-me a trouxa todinha
Da roupa tão passadinha
Do doutor e da madame.
Camelô vende no trem
O dia todo é assim:
Olhe os dops, a bala, puxa
Cocada e amendoim
Um grita olha aqui seu moço
Pentes de chifre e de osso
Que não quebra em pixaim.

Caixa de maçã e cesto
Do tamanho de um caminhão
Menino com fogareiro
Cheio de brasa e carvão
Gritando olhe o torradinho
Outro diz sai do caminho
Deixa passar meu caixão.

Diz outro, olhe a bananada
Uma é vinte e cinco é cem
Outro diz, o picolé
De coco e uva inda tem
O que do fiscal escapa
Grita pros outros, olha o rapa
Entrou agora no trem

Se o trem enguiça ou avaria
Seja que motivo for
O pingente quebra o vidro
A porta, o ventilador,
Na maior selvageria
Pra fazer falta no dia
Que chove e que faz calor.

Quem quebra o trem é nocivo
De pensamento mesquinho
Não enxerga que o trem é
Suas pernas, seu caminho
O qual em vez de quebrá-lo
Deveria conservá-lo
Com todo zelo e carinho.

Aquilo que nos é útil
Não devemos destruir
Quem quebra o trem por vingança
Só o mal pode surgir
Que um trem apedrejado
E mais um avariado
Que deixa de nos servir.

Na Central de noite é fogo
Quando o trem chega atrasado
Antes de parar já está completamente lotado
Quando as portas vão abrindo
Tem uns que entram zunindo
Vão sair do outro lado.


Tem mulher que diz, cruz credo
Dou-te figa disconjuro
Neste trem só tem cavalo
Dando coice no escuro
Entrei a força empurrada
De arrojo e caí sentada
Em cima d’um troço duro.
O que se senta recebe
Logo um chute na canela
Aí a negrada invade
Cabine, porta e janela
Se o trem demorar parado
Negro ali fica suado
Que só o tampo de panela.

E quando sai é tão cheio
Nem mosquito acha lugar
Quando pára em estação
Que alguém quer embarcar
Quem vai dentro se entorta
E grita para os da porta
Inda pra ninguém entrar

Tem deles que lota a força
Chega engrossar o pescoço
Pra soltar em Deodoro
Outro diz: calma seu moço,
Você aqui nada arranja
Nós vamos chupara laranja
E beber água de poço.

Algum que mora mais perto
Diz pro outro no caminho
Traga um filhote de onça
Pra mim amanhã cedinho
O de longe diz pois não
Depende da ocasião
Que a mãe não esteja no ninho.

Tem deles que mora longe
Quando acha uma vaguinha
Se deitar e ferra no sono
Dorme que só criancinha
Parece que está na cama
Só acorda quando alguém chama
Meu chapa é o fim da linha

O coitado acorda tonto
Desconhecendo o lugar
É quando vê que passou
Da estação de saltar
Fica até pisando em brasa
Aí quando chega em casa
Já é hora de voltar

Quem duvida o que digo
No meu livro de poema
Vem conhecer o subúrbio
Com seu povo e seu sistema
Depois que fizer morada
Pegue o trem da madrugada
Que vê todo este cinema

Jogo de empurra e briga
Acontece todo dia
Zuada, pinga e pedintes
Um rouba, outro negocia
Louco, mendigo e cachaça
Abusa, xinga e faz graça
O que viaja aprecia

1 Texto escrito por José João dos Santos

ALGUNS GÊNEROS LITERÁRIOS - farsa


AUTO DA ÍNDIA1

A farsa é um tipo de texto teatral que mistura comédia e crítica social. Os seus personagens possuem comportamentos exageradamente desviantes.
A farsa Auto da Índia, foi fundada sobre uma mulher, que seu marido estando embarcado para a Índia, lhe vieram dizer que estava impedido e que já não ia, e ela de pesar está chorando e fala-lhe a sua criada. Foi feita em Almanda, representado à muito religiosa católica Rainha Dona Lionor. Era de 1509 anos.
No trecho que se segue aparecem duas personagens: Ama (Constança), Moça (criada).

Moça:
Jesu! Jesu! Que é ora isso?
É por que se parte a amada?
Ama:
Olhade a mal estreada!
Eu hei-de chora por isso?
Moça:
Por minh’alma, que supus
E que sempre imaginei
Que choráveis por noss’amo

Ama:
Por qual demo ou por qual gamo
Ali má hora chorarei?
Como me leixa saudosa!
Toda eu fico amargurada!
Moça:
Pois por que estais anojada?
Dizei-me, por vida vossa!
Ama:
Leixa-me ora, eramá
Que dizem que não vai já.

Moça:
Quem diz esse desconcerto?
Ama:
Disseram-m’o por mui certo
Que é certo que fica cá.

O Concelos me faz isto.
S’eles já estão em Restelo,
Como pode vir a pêlo?
Moça:
Melhor vejo eu Jesu Cristo,
Isso é quem porcos há menos.
Ama:
Certo é que bem pequenos
São meus desejos que fique.
Moça:
A amada esta muito a pique
Ama:
Arreceio al de menos

Andei na má hora e nela,
A amassar e biscoutar,
Pera o demo o levar
À sua negra canela
E agora dizem que não.
Agosta-se-m’o coração
Que quero sair de mim.
Moça:
Eu irei saber s’ é assim
Ama:
Hajas a minha benção.



1 Auto da Índia é uma peça de teatro escrita por Gil Vicente.

ALGUNS GÊNEROS LITERÁRIOS - conto


CONTO


O conto caracteriza-se, geralmente, por apresentar um enredo cuja estrutura contém as seguintes partes: complicação, clímax, e desfecho. A narrativa, entretanto, de alguns contos desmonta esse esquema de enredo.
Um conto é um tipo de narrativa concentrada, que elimina as análises minuciosas de personagens ou ambiente, assim como as complicações de enredo, e delimita o espaço e o tempo. Esse conto, entretanto, apresenta um foco narrativo diferente, pois limita o ângulo de visão do narrador ao dar voz ao personagem, que narra sob sua ótica os fatos vividos por ela.
A concentração no papel do narrador é muito variável, pois em alguns contos desempenha papel fundamental para a compreensão do enredo em outros vai cedendo lugar à voz dos personagens.
Quanto à linguagem também pode ser muito variável oscilando entre a linguagem estritamente formal a uma informalidade podendo chegar ao coloquialismo.
Outro aspecto que diferencia esse conto é a ausência da estrutura tradicional desse gênero, pois, embora apresente um conflito, o desfecho fica em aberto: cabe ao leitor concluir.

Lembrança1


Lembro-me de que ele só usava camisas brancas. Era um velho limpo, e eu gostava dele por isso. Eu conheci outros velhos, e eles não eram limpos. Além disso, eram chatos. Meu avo não era chato. Ele não incomodava ninguém. Nem os de casa ele incomodava. Ele quase não falava. Não pedia as coisas a ninguém. Nem uma travessa de comida na mesa ele gostava de pedir. Seus gestos eram firmes e suaves, e quando ele andava, não fazia barulho.
Ficava no quartinho dos fundos, e havia sempre tanta gente e tanto movimento na casa, que às vezes até se esqueciam da existência dele. De tarde costumava sair para dar uma volta. Ia só até a praça da matriz, que era perto. Estava com setenta anos e dizia que suas pernas estavam ficando fracas. Levava-me sempre com ele. Conversávamos, mas não me lembro sobre o que conversávamos. Não era sobre muita coisa. Não era muita coisa a conversa. Mas isso não tinha importância. O que gostávamos era de estar juntos.
Lembro-me de que uma vez ele apontou para o céu e disse: “Olha.” Eu olhei. Era um bando de pombos, e nós ficamos muito tempo olhando. Depois ele voltou-se para mim e sorriu. Mas não disse nada. Outra vez eu corri até o fim da praça, e lá de longe olhei para trás. Nessa hora uma faísca riscou o céu. O dia estava escuro e uma ventania agitava as palmeiras. Ele estava sozinho no meio da praça, com os braços atrás e a cabeça branca erguida contra o céu. Então pensei que meu avo era maior que a tempestade.
Eu era pequeno, mas sabia que ele tinha vivido e sofrido muita coisa. Sabia que cedo ainda a mulher o abandonara. Sabia que ele tinha visto mais de um filho morrer. Que tinha sido pobre e depois rico e depois pobre de novo. Que durante sua vida uma porção de gente o havia traído e ofendido e logrado. Mas ele nunca falava disso. Nenhuma vez o vi falar disso. Nunca o vi queixar-se de qualquer coisa. Também nunca o vi falar mal de alguém. As pessoas diziam que ele era um velho muito distinto.
Nunca pude esquecer sua morte. Eu o vi, mas na hora não entendi tudo. Eu só vi o sangue. Tinha sangue por toda a parte. O lençol estava vermelho. Tinha uma poça no chão. Tinha sangue até na parede. Nunca tinha visto tanto sangue. Nunca pensara que, uma pessoa se cortando, pudesse sair tanto sangue assim. Ele estava na cama e tinha uma faca enterrada no peito. Seu rosto eu não vi. Depois soube que ele tinha cortado os pulsos e aí cortado o pescoço e então enterrado a faca. Não sei como deu tempo de ele fazer isso tudo, mas o fato é que ele fez. Tudo isso. Como, eu não sei. Nem por quê.
No dia seguinte ainda tornei a ver sua camisa perto da lavanderia, e pensei que, mesmo que ela fosse lavada milhares de vezes, nunca mais poderia ficar branca.
Foi o único dia em que não o vi limpo. Se bem que sangue não fosse sujeira. Não era. Era diferente.

1 Conto escrito por LUIZ VILELA.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Conversar e convencer


Grace Stuart Nutlley. Conversar e convencer. Tradução:Iracema Paiva Castelo Branco. Editora Record
Li em 2010.

9 um cidadão que viajava pelo estado norte-americano de New Hampshire foi atraído por um milharal plantado numa encosta muito íngreme .Vendo um fazendeiro á entrada da propriedade, freou o carro e perguntou-lhe, apontando naquela direção:
—como é que o senhor consegue arar aquele terreno? Parece-me tão íngreme...
—e quem lhe disse que eu aro alguma coisa? —fez o outro. —quando chega a primavera e a neve derrete, são as pedras que rolam lá de cima que abrem os sulcos.
—formidável! — exclamou o forasteiro. — e como consegue plantar?
—plantar? Eu? Só o que faço é encostar-me aqui,na porta e atirar as sementes com a espingarda.
—o quê? Verdade? —perguntou o outro, estupefato.
—ora, claro que não! —tranqüilizou-o o fazendeiro. —Conversa minha!
É que o fazendeiro reconhecia a importância básica da conversa com um intercâmbio entre duas ou mais pessoas —o que explica falar e escutar, dar e receber.

17 A conversa é o meio mais importante de que dispomos para transformamos conhecimentos casuais em verdadeiras amizades.
É impressionante o número de vezes em que não sabemos o que nos vai dentro da cabeça senão quando as idéias se filtram através do cérebro, exprimindo-se em palavras!
18 Emerson exprimiu essa noção de forma sucinta: “É absolutamente certo em uma conversa sincera e feliz duplica nossas faculdades e que, no esforço de revelar nossas idéias a um amigo, nós as tornamos ainda mais claras para nós mesmos ,envolvendo-as com ilustrações que nos ajudam a deleitam”

24 “Você” — O seu melhor tema
Comece desde já a procurar temas de conversa dentro de você mesmo,pois é aí que se encontra sua melhor fonte de suprimento. Reexamine vida e experiência passadas. Tudo que lhe aconteceu tem real interesse, e importância também, pois fez de você o que é agora.
Medite sobre sua pregressa e responda as seguintes perguntas:
PRIMEIRA: “Que experiência tive?”
Nesta pergunta, inclua a sua infância, tempos de escola , férias, estudos funções que exerceu, hobbies e interesses que cultivou, tanto no passado quanto no presente.
Não se apresse demais, pois há muitos ângulos proveitosos a serem explorados. As experiências que se destacarem com nitidez em sua mente serão, é claro, bom material de conversação, sem que, por isso, você vá desmerecer fatos mais corriqueiros.
Por exemplo: passou a infância no campo ou na cidade? Ou numa cidadezinha do interior? Num outro país, talvez? São fatos que por si sós , já fornecem boa base para uma conversa, permitindo-lhe comparar ou estabelecer o contraste entre as diversas facetas de sua vida infantil com a de outras pessoas.
Pense em sua vida escolar, seguindo o mesmo critério. O que gostava mais de estudar? Do que não gostava? Ás vezes, (25) recuando no passado, você poderá chegar a entender por que reagia de certa forma aos diversos estudos. recorde professores, fazendo-os passar pelo mesmo crivo.afinal, todos contribuíram potencialmente para torná-lo o que é hoje.e não se surpreenda se descobrir que deve muito mais àqueles de quem menos gostava!
Penetre agora em sua adolescência com a mesma curiosidade e espírito crítico. “águas passadas” retornarão á sua mente coisa fascinante poderá ser evocada em diálogos agradabilíssimos!
SEGUNDA: “o que estudei e o que li?”
Comece por um resumo de sua educação, examinando-a nos mínimos detalhes. Analise, depois, os conhecimentos adquiridos através de livros, peças teatrais, música, arte e televisão. O que leu ultimamente sobre o momento atual — política,conquistas científicas, assuntos internacionais?
Será que alguma vez já estudou, em um sentido menos formal, as regras de um jogo popular ou chegou algum dia a participar de competições esportivas? Ou como simples espectador? Já se dedicou alguma vez,por exemplo, á jardinagem ou a algum trabalho manual? Coleciona, por acaso,selos, moedas,botões?
TERCEIRA: o que imaginei ou sonhei?
Se você parar para pensar nisso verá que nem todas assuas fantasias são de foro intimo e pessoal. Muitas se prestam a discussão. Não fuja timidamente diante da idéia de que passa tempo precioso dando asas à imaginação, pois sonhar de olhos abertos é, geralmente, tão construtivo quanto agradável. Muito deve o progresso do mundo aos sonhos dos homens!
QUARTA: o que sinto e em que creio?
Seu objetivo na vida, ambições e projetos grandiosos fazem parte de sua fé em você mesmo. Opiniões e crenças sobre questões vitais e pontos controvertidos surgem, frequentemente, no meio das conversas. Se você não tiver opiniões ou convicções, sentir-se-á desarvorado. Melhor tratar de ter alguma!
... No momento, porém, estamos apenas interessados num ponto: o tema. Uma vez que você tenha algo a dizer, vá pensando na técnica a aplicar para melhor lidar com seu material. A fim de conseguir a forma ideal de conversação e o estilo mais adequado.

27
A humanidade é uma graça — e como é variada! Não há duas pessoas iguais. E a gente tem de reconhecer e respeitar o fato de que, na Terra, cada ser humano difere de seus semelhantes. Talentoso ou embotado, fascinante ou insípido — cada qual é único à sua maneira. E isto, certamente, desperta interesse!

27
Até a pessoa mais cacete do mundo pode ser tolerada, e até mesmo apreciada, se encarada como um problema humano. E você nunca se cansará, caso se aproxime de alguém com a (28) idéia de compreende-lo e descobrir o que mais o entusiasma. Não por uma questão de superioridade ou inferioridade. Esforce-se por ser um ouvinte atento e lucrará com uma vibrante exposição de pontos de vista.

28
É como na velha história do candidato a jurado, que declarou peremptoriamente ao juiz:
— Não posso servir de jurado, Meritíssimo Juiz! Só de olhar a cara deste homem já estou convencido de que é culpado!
— Pissss! — fez o juiz. — este aí é o advogado de defesa!

28
A arte do contista, como de quem narra contos, desenvolve-se através de cuidadoso espírito de observação. No ato banal de recolher um pedaço de barbante, Maupassant inspirou-se para a feitura de um de seus mais notáveis contos. Chekhov, para escrever uma de suas histórias, baseou-se no modo bastante peculiar como os amigos de determinada dama a cumprimentavam (“Você querida”) e foi pela repetição dessa frase que Chekhov analisou o caráter da mulher.

32
Evite, também, a “fofoca”. Além der infantil e demonstrar imaturidade, é inaceitável num grupo social. Na melhor das hipóteses, é estupidez; na pior, pura maldade. Se entre amigos é essa a sua maneira predileta de ser, que dúvidas terão do que deles você dirá pelas costas! Só os espíritos muito mesquinhos, vazios ou medrosos contentam-se com conversas tão banais e maliciosas!

32
É sempre gostoso ouvir alguém capaz de rir de si mesmo — o que geralmente se receia são as pessoas que riem à custa dos outros.

32
É através da troca de idéias que se alcança o pleno desenvolvimento mental.

33
Como dizia Francis Bacon: “Há livros que devem ser saboreados; outros, engolidos; e bem poucos, mastigados lentamente e digeridos.” Varie sua técnica de leitura e leia segundo a disposição do momento. Não deixe de iniciar a leitura de um novo livro só porque não acabou de ler o anterior.

36
Mede-se a pessoa interessante por sua agilidade mental e alegria de viver. Poucas pessoas — se é que há alguma — lhe perguntarão pelo diploma superior. O que todo mundo quer saber é se você sabe agradar, e apenas o avaliará pelo que (36) como personalidade à parte, você lhe puder oferecer.

36
... Assim sendo, saber o que os outros lêem faz, também, parte de seu horizonte cultural, e isso lhe permitirá, em certas ocasiões contrapondo opiniões, injetar espírito e vida numa conversa enjoada.

38
Então, se você escolher um livro de leitura demorada, um tanto monótona (Thackeray, H.G.Wells ou mesmo Platão!), verá que é um meio mais eficiente de chamar o sono do que contar carneirinhos!

39
Cabe aqui um bom conselho de Francis Bacon:
“Há livros que devem ser saboreados; outros, engolidos; e bem poucos, mastigados lentamente e digeridos. Isto é: alguns livros devem ser lidos por partes; outros, lidos, mas sem curiosidade; e bem poucos, lidos integralmente, com diligência e atenção.”

39
Um romance (40) começa pela exposição de uma idéia ou princípio — o tema — que a história ilustra, explora e desenvolve. Retire de um bom romance o miolo — sua história — e ainda sobrará o tema básico. A idéia que a inspirou, o princípio que o autor quis ilustrar.

40
Por exemplo: por que John Steinbeck denominou seu livro Homens e Ratos? Se recordarmos o poema de Robert Burns acerca de um ninho de inofensivos ratinhos do mato destruído por culpa de ninguém, encontraremos o sentido da idéia de Steinbeck: “Os melhores projetos de homens e ratos podem perder-se”. Vê-se logo que se trata de uma história de gente humilde e insignificante, e que vai ocorrer uma destruição de projetos e sonhos, que os personagens, impotentes, não conseguirão evitar.
Da mesma forma, o estranho título escolhido por Ernest Hemingway para seu livor Por quem os sinos dobram tem um significado oculto. A citação da primeira página é de Devoções, de John Donne: “A morte de qualquer homem reduz-me porque estou envolvido na Humanidade / E, no entanto, nunca pergunto por quem os sinos dobram;/ Dobram por você.” Ficamos assim, logo sabendo tratar-se da história de um homem cuja morte é uma tragédia para toda a Humanidade e para cada um de nós mesmos, em particular, pois dela fazemos parte. Sua perda é nossa perda. À medida que lemos a história desse homem, vemo-lo, pelos olhos do autor, não apenas como um símbolo da guerra em que está envolvido, mas de todas as guerras e de todos os heróis.

41
Como Arnold Bennett dizia: “A pessoa que não gasta tempo pensando no livro que leu, como fazia enquanto lia, insulta o seu autor e a si mesmo.”

41
“Que livro encantador eu li no outro dia!
O autor, quem é? Dizer não saberia.
Um Fulano-de-Tal qualquer. Mas esqueci
Tão depressa! Espere! Tenho o nome aqui
Da obra. Qual é mesmo? Eu sei! Sei que sei!
Tão linda história, que ao fim do livro cheguei...
O que dizia? Ó cabeça dura a minha!
O tema — bem comum — tinha herói e mocinha,
E, ou me engano ou não, no caso entrava o amor.
Capa?! Sim! Amarela! Linda, a sua cor!”

43
Não é metendo-se em apuros que a gente adquire novas experiências. A aventura e a excitação de saber coisas novas valem pela abertura de novas perspectivas e novos horizontes.

45
A mente pode, é claro, deteriorar-se em qualquer época, não por questão de idade, mas por falta de uso. Esta a razão por que aos adultos parece mais difícil aprender que às crianças.

47
A imaginação e a reflexão ou meditação são essenciais para a boa saúde mental e emotiva. Se você não tiver muita imaginação, ou se a deixou perder-se, reviva-a! Trate de exercitar a imaginação, vendo além da aparência das coisas.

48
Coloque vinte e um objetos diferentes numa bandeja ou sobre uma mesa — carretel de linha, um selo etc. Dê, a cada pessoa, papel e lápis, concedendo-lhes exatamente dois minutos para contemplar os objetos. Cubra a mesa ou bandeja e peça a todos que escrevam tantos objetos quantos conseguirem recordar.

50
Desenvolva o hábito do caderninho de anotações para tudo o que deseja lembrar e descobrirá com que cuidado passou a ler e a escutar — e quanta coisa deixa de lado! O fato de saber que vai anotar alguma coisa faz de você um leitor e ouvinte mais atento. Logo verificará que já não mais relê as notas quando as deseja relembrar em sua totalidade. Sua maneira mais cuidadosa e inteligente de escutar, somada ao hábito de escrever, será o suficiente.

52
A pessoa sempre realista, prática, sem imaginação, que receia viver o seu mundo interior da mesma forma como vive o exterior, merece piedade e compaixão, pois envelheceu. Há pessoas que chegam a essa espécie de velhice aos vinte anos, enquanto outras sempre escapam disso.

52
Pensar é tarefa difícil. É necessário passar tempo pesando e comparando dados, para se chegar a juízos independentes. O pensar envolve contínuos reajustes a novas idéias, à constante mutação que é a característica proeminente da vida.
Meditar tranquilamente, vez por outra, não é perda de tempo. É, pelo contrário, um processo extremamente valioso, a que só se pode entregar uma pessoa plenamente amadurecida.
52
Não se esqueça de que toda invenção do gênero humano, toda conquista, todo progresso da civilização nasceu dos sonhos de alguém.

55
O rápido progresso da civilização nos últimos quinhentos anos, em comparação com os milênios anteriores, não é devido ao acaso ou a um repentino aumento da inteligência do homem, mas a um vocabulário enriquecido que permite a melhor e mais completa compreensão e comunicação.

59
O domínio de um idioma, com vista à conversação, inclui a dicção e a voz.

59
A voz normal pode ter um extensão de pelo menos oito inflexões. Numa conversa normal, a gente usa de quatro a cinco.

59
Não confunda inflexão com intensidade. A inflexão significa colorido ou variedade de diapasão.

60
Para bem pronunciar, você precisa usar plenamente o maxilar inferior, a boca, os lábios, a língua e os músculos faciais. Evite falar por entre os dentes, com os dente cerrados ou com o lábio superior contraído. Evite, igualmente, franzir os lábios, arreganhar os dentes, passar a língua pelos lábios ou qualquer outro trejeito que prejudique a enunciação das palavras, deformando-as. Pratique ler em voz alta, preferivelmente olhando, de vez em quando, para o espelho e pronunciando cada palavra lenta e exageradamente.

62
A cortesia e as boas maneiras pagam dividendos numa conversa, abrandando a oposição e o antagonismo. Até a pessoa mais obstinada e de mais difícil trato amansa um pouco sob o impacto constante de uma sincera cortesia.

63
É o bom senso que faz com que você pense antes de falar, mas é o bom gosto que dita as linhas do pensamento: “Será que alguém se vai ofender ou embaraçar com o que vou dizer?” Ninguém fica à vontade estando embaraçado e não há pior interlocutor que aquele que está pouco à vontade.
É o bom senso que aconselha discrição quando se revelam segredos pessoais, mas é o bom gosto que faz com que se fuja das conversas subjetivas — a saúde, os filhos, o marido (ou a esposa) e o problemas pessoais — em lugar de assuntos de interesse geral. O bom gosto impede que se introduzam assuntos ofensivos ou que se participe de uma discussão de forma exageradamente emotiva ou agressiva.

64
A razão pela qual certas pessoas ficam em má posição quando discutem determinados assuntos — principalmente onde haja controvérsia, como a política — é que elas pouco ou nada sabem sobre eles, emb ora mantendo uma opinião fixa. Por isso, refugiam-se nos epítetos, recurso infantil a que nunca se deve recorrer, ainda que se tenha de aceita-lo gentilmente... nos outros! Jamais permita que a falta de educação alheia o induza a dar tão lamentável exibição de mau gosto!

64
É de boa política evitarem-se afirmações de opiniões empregando as palavras “positivamente”, “definitivamente” ou “absolutamente”. São palavras que criam antagonismos, cerrando a porta à discussão geral e à livre exposição de idéias.
64
Você pode tomar por exemplo a cerimônia japonesa do chá, forma social sumamente elaborada, baseada em regras muito definidas, todas com o objetivo de minimizar a própria pessoa e pôr em relevo as demais. Entre as diversas regras dessa cerimônia, a que se refere à conversação considera gafe social qualquer tipo de declaração categórica e positiva. Admite-se (65)qualquer tema de conversa, da mesma forma que a exposição de opiniões e fatos, mas toda observação deve ser feita de tal modo que um outro convidado possa desenvolvê-la ou orienta-la para uma nova discussão. Estranho como pareça, é considerado vulgar expressar-se uma opinião pessoal definitiva ou declaração dogmática durante tais cerimônias.

65
Os epítetos e as alusões irônicas jamais revelam bom gosto, seja onde for. Os nomes vulgares, designativos dos diversos grupos étnicos ou raciais, são desagradáveis e ofensivos para qualquer um que pertença ou não a tais grupos. Seu emprego apenas indica mau gosto, preconceito e intolerância, insegurança e complexo de inferioridade. Abstenha-se de empregar tais expressões, tão desagradáveis em qualquer ocasião; caso contrário, elas poderão escorregar inadvertidamente em meio ao que você diz, embaraçando não apenas você mesmo, como quem o estiver escutando!
Estreitamente ligados às alusões irônicas, estão os comentários depreciativos, feitos por quem subestima uma ação ou fato na presença de quem deles se orgulha.

66
A simplicidade é pano de fundo do bom gosto.

66
A sinceridade é o produto da honestidade e da simplicidade.

68
A brevidade e simplicidade são fatores dominantes em boa técnica de conversação. Quando você quiser dizer alguma coisa, certifique-se, antes de começar, de que tem a idéia bem formada na mente, a fim de que a possa expressar de forma razoavelmente concisa.

70
No mundo dos adultos não há medalhas para a onisciência.

71
O sarcasmo geralmente contém uma certa dose de inteligência, mas você pode muito bem ser inteligente sem ser necessariamente sarcástico. Se for capaz de fazer comentários inteligentes, faça-os, pois eles valorizarão seu modo de conversar. O sarcasmo é que não é válido.

71
Ninguém pode ser céptico. Na verdade, o cepticismo nada mais é que uma fuga à realidade e à responsabilidade, não sendo, de forma alguma, uma atitude aconselhável. Ninguém pode ser céptico em um “bom papo” ao mesmo tempo, pois a atitude do céptico, por si só, já acaba com qualquer conversa “genial”.

72
Bom gosto
Conhecimento dos demais
Moderação de expressão
Cortesia
Bom humor
Sinceridade
Agilidade mental
Concisão simplicidade
Modéstia
Maneira positiva de encarar as pessoas e a vida.

72
Por exemplo, faça com que eles participem de uma conversa com o decidido propósito de evitar qualquer declaração ou opinião que possa matar a discussão do assunto. Explique-lhes as regras, antes de iniciar o jogo — será um interessante e instrutivo jogo de salão.

76
Despertar a curiosidade é um dos métodos. A curiosidade é uma característica fundamental da humanidade, muitas vezes atribuída erroneamente apenas à mulher (Como dizia Oscar Wilde: “Sabe como é a curiosidade da mulher. Quase tão grande como a do homem”)

77
Por “ego” entendemos a necessidade geral que todos nós sentimos de nos expressarmos, o prazer que encontramos na apresentação de idéias, conhecimentos e opiniões. Um dos meios mais seguros de fazer com que os outros falem é dirigir-lhes perguntas acerca de seus passatempos, ocupações, ou idéias.

78
O terceiro método pelo qual lhe será possível despertar o interesse numa conversa é atrair por meio do desafio, o que de certa forma, é comum em todos nós. Pouca gente resiste a um desafio amável. Os mais tímidos podem não se erguer para defender ou atacar, mas até eles se sentirão geralmente tentados. Esta é uma técnica muito eficaz de atrair atenção.

79
Quando aplicar a técnica do desafio, a você cabe a responsabilidade de manter a conversa dentro dos limites.

79
O quarto método, com o qual você conseguirá interessar os demais pelo que tem a dizer, é atrair através do espírito criador de cada um. Aqui você tem de representar o papel de detetive amador para descobrir em que terreno reside o talento da pessoa com que estiver falando.

81
Aprenda a arte de expressar uma sincera admiração e você dará e terá muito prazer. Verá como o hábito de dizer coisas agradáveis e admirar, em voz alta, tudo o que merece admiração traz verdadeiras compensações. Fuja dos falsos elogios, pois são poucos os que neles acreditam. Todo mundo recebe com agrado um elogio honesto.

81
Mantenha uma atitude cordial e uma expressão alegre enquanto conversa, deixando que o assunto, mais que seu tom de voz, exprima o desafio.

82
Aos produtos preparados falta sempre o sabor das observações improvisadas. Não se apegue demais às frases feitas — ou aos poucos deixará até de pensar.

83
Você não precisa de justificativa especial alguma para fazer comentários agradáveis. Seu interesse por todos os membros da espécie humana aumentará até ao ponto em que você sinta um desejo autêntico e sincero de agradar aos demais!
85
Se a outra pessoa é que lhe faz as perguntas, aproveite-as, pois, com certeza, revelam aquilo por que ela mesma se interessa. O negócio é estar de olho vivo, preparado para o que der e vier. O entusiasmo e interesse que você demonstrar serão a fagulha, e com o tempo se estabelecerá um delicioso intercâmbio social.

86
Numa conversa a dois, a gente tem amplas oportunidades de falar. Não será necessário desgastar energias para atrair a atenção do outro, uma vez que, sendo apenas dois, ninguém será ignorado. E mais: não há por que se preocupar em se mostrar muito inteligente ou perspicaz, ou mesmo profundo demais, uma vez que não há competidores por perto. Acalme-se, falando e agindo descontraidamente.

87
William Hazlitt, ensaísta inglês, disse uma vez: “Queira agradar e todos infalivelmente se agradarão de você”.

87
Will Rogers já dizia: “Jamais conheci alguém de que não gostasse.”

88
Por vezes, principalmente quando você está num grupo muito numerosos e muitos dos presentes lhe são estranhos, uma boa idéia é separa-los por categorias. Não espere sucesso total nesse tipo de classificação, mas você terá de adivinhar bastante e experimentar um bocado. Por exemplo: as pessoas de idade (uma geração mais velha, pelo menos) e os jovens formam categorias fáceis de distinguir. O sexo oposto faz outra categoria que deve ser subdividida em grupos menores à medida que você prossegue nessa tarefa. As pessoas importantes são outra categoria não tão fácil de reconhecer, exigindo, algumas vezes, cuidados especiais.

89
Os jovens são muito sensíveis e idealistas, apesar de todas as suas jactanciosas pretensões. Não tente tirar-lhes as ilusões! Aproveite-as. Deixe-os expressarem-se livremente, pensar em voz alta e extroverterem-se! É assim que crescerão e amadurecerão.

90
Via de regra, é melhor deixar que a pessoa de categoria elevada conduza a conversa. Enquanto a estiver escutando, não se sente na beirinha da cadeira. Descontraia-se, mostre-se atento. Esta é uma das formas de demonstrar respeito.

90
Não fale nunca com ares de superioridade a ninguém, ainda que considere tal pessoa um subalterno.

91
Relendo um velho livro de Etiqueta, publicado na Inglaterra em 1870, encontrei este delicioso conselho para as damas, no capítulo sobre conversação:
“Falando de um modo geral, não é prudente que as damas procurem conversar com os cavalheiros sobre assuntos políticos ou financeiros. Toda informação que uma dama talvez possa adquirir ou reter sobre tais assuntos é tão pequena em comparação com o conhecimento dos homens, que a discussão não as elevará no conceito masculino. Entretanto, é louvável que uma dama deseje ilustrar-se, para que possa compreender algo do que se discute em sua presença. Deve, porém, abster-se de toda controvérsia sobre tais assuntos, uma vez que a mentalidade feminina raramente é capaz de reter coisa alguma. Os homens são muito intolerantes com as mulheres dadas à discussão ou à polêmica, quando se trata de coisas consideradas fora de sua esfera, mas são muito indulgentes com a ouvinte atenta e modesta, que só faz perguntas para instruir-se mais. Os homens gostam de ensinar; mas poucos acreditam que, em ramos exclusivamente seus, possam aproveitar qualquer sugestão feminina.”

92
Se você é mulher, cuidado quando conversar com os homens, para não confirmar o velho adágio: “Os homens são capazes de travar amizade com uma mulher quando falam, geralmente rompendo-a quando passam a escutar”. Não fale demais! Os homens gostam de falar, também!

92
A maioria dos homens está convencida de que as mulheres são criaturas ciumentas, incapazes de apreciar realmente um outro membro do mesmo sexo. Prove ser uma verdadeira dama, encontrando sempre algo de bom para dizer. Uma pessoa amável como Benjamin Franklim fez a seguinte observação cínica: “Para conhecer os defeitos de uma dama, elogie-a a uma amiga!” Não caia nunca nessa armadilha!

93
Quanto menos pensar em você mesmo e mais pensar nos outros, com maior segurança será bem sucedido socialmente!

94
Saber escutar exige sacrifício. E mais: um esforço mental ativo. Esqueça-se de você mesmo! Escutar é uma das muitas fontes do saber.

95
A mulher, depois de prolongado monólogo com o marido, interrompe-se, repentinamente, censurando-lhe sua atitude.
— Mas, querida! — protestou ele. — Há meia hora que você está falando e eu não disse nada!
— Pois é! — exclamou a mulher. — Não estou gostando é mesmo do seu jeito de escutar!

95
Como ouvinte, o seu é um papel secundário. Cabe-lhe anular seu “ego” e o desejo de falar e, simultaneamente, permanecer mentalmente desperto, a fim de acompanhar na íntegra o fio da conversa ou o pensamento de quem estiver falando. Uma boa conversa depende tanto de quem sabe ouvir como de quem sabe falar!

95
Para provar isso, uma dona-de-casa, enquanto oferecia bolinhos durante um chá, disse, sorrindo, para seus convidados:
— Os de glacê verde contêm um pouco de limão, os rosados contêm estricnina.
Sem a menor preocupação, todos apanharam e comeram uns e outros e ainda lhe agradeceram!

96
Maria passeava, numa noite de luar, com o namorado e estava muito feliz com o que diziam.
— Jorge — arrulhou Maria — os meus cabelos brilham como o ouro?
— Hum-hum.
— Jorge, os meus dentes são como pérolas?
— Hum-hum.
— Jorge, querido, meus olhos brilham como estrelas?
— Hum-hum.
— Jorge, querido! Você diz coisas tão bonitas!

97
É comum o tipo de pessoa que estraga o ritmo de uma conversa ótima, interrompendo-a com um “Antes que eu me esqueça...” ou um “Isto me lembra que...”

98
Há gente que fracassa no seu papel de ouvinte por covardia mental. Tem medo de ouvir novas opiniões. Afasta-se com frases do tipo: “Não quero saber disso”, ou “Não é assunto meu” ou “Não havia pensado nisso”. E dá por encerrado tudo o que ainda se poderia dizer sobre o assunto. Se pensa que assim age por modéstia, engana-se a si mesma, pois apenas procura defender-se. Apavora-a enfrentar idéias novas, examina-las mentalmente — por isso, foge. Mera covardia!

99
Lembre-se de que o silêncio é usado para demonstrar nosso respeito mais profundo e nosso mais reverente tributo.

99
Muito diferente é o silêncio de pedra que certas pessoas usam quando se aborrecem ou não concordam com alguma coisa. Com isso, esperam silenciar a pessoa que fala, ou demonstrar cabalmente desaprovação e desinteresse. Na verdade, porém, as pessoas que assim agem estão geralmente certas de sua incapacidade para discordar ou orientar a conversa em outros rumos; por isso, escolhem o caminho muito reprovável e irritante do silêncio. Pode-se perfeitamente ignorar tais pessoas em um grupo, mas se lhe perfeitamente ignorar tais pessoas em um grupo, mas se lhe acontecer encontrar duas delas, juntas, mantenha o senso de humor diante de tal grosseria e caia fora o mais rápido possível!

99
Outra espécie de silêncio negativo é aquele que Samuel Johnson descrevia como “a melancólica calma do ocioso vazio”. Caracteriza-se por um rosto absolutamente inexpressivo, “parado como uma porta fechada”. Ao contrário do silêncio de pedra, que pode ser defensivo ou ofensivo, o silêncio vazio existe porque o ouvinte não usa a cabeça — não se interessa por nada e não faz o menor esforço em contrário. Essa é uma grave infração às mais comezinhas regras de etiqueta social — adormecer mentalmente, da mesma forma que adormecer fisicamente, na presença de outras pessoas!

100
A verdadeira atenção atinge não só o corpo, como o espírito. Quando os olhos divagam, a mente divaga também. Não se sente encolhido na cadeira como quem espera um trem atrasado! O rosto, os olhos, o corpo todo deve refletir sua atenção. Não brinque com os cabelos ou roupa, nem amacie o braço da poltrona ou gire o relógio de pulso, ou volte, distraidamente, as páginas de um jornal ou revista. Uma boa atenção requer a ativa cooperação de cada partícula de seu ser!

100
Suas observações como ouvinte deverão servir de estímulo para quem fala, assegurando-lhe seu interesse e atenção. Muitas vezes, quem fala faz uma pausa à espera de qualquer comentário. Em tais casos, você poderá oferecer um comentário aparentemente sem importância, mas que contribua para o prosseguimento da conversa — se o afastar do papel de ouvinte! Exemplos:
— Que interessante!
— O que aconteceu?
— O que fez, então?
— Imagino como se sentiu.
— Isso deve ter-lhe tornado as coisas bem difíceis.

101
Claro que é melhor ficar calado, em caso de dúvida, mesmo que o julguem um tolo. Pior é falar e desvanecer qualquer dúvida a seu respeito!



102
Escutar é uma das muitas fontes do saber. Você aumenta o conhecimento dos fatos, descobre a atração de certas palavras bem escolhidas, a necessidade de expressar claramente as idéias — se quiser ser compreendido. Talvez o fato mais importante: você aprende a conhecer as pessoas, pois é através do que dizem que, inconscientemente, elas revelam muitos traços que lhes marcam a personalidade. Se você sabe escutar, não revelando seus próprios sentimentos e reações quanto ao que se diz, tem uma vantagem sobre os demais: quem fala vai pensar que você não entende o que ele diz e acrescentará mais detalhes não previstos inicialmente.

103
Quando leio um romance moderno, lembro-me das palavras de Mark Twain: “O Homem é o único animal que pode ruborizar-se... e que tem motivos para isso!”

103
A pessoa que escuta e resolve, finalmente, falar dá mais ênfase ao que diz. Um bom ouvinte é sempre pessoa popular.

105
Ao tomar a mão de um deles, porém, examinou-a com crescente excitação.
— Meu Deus! — exclamou, erguendo os olhos. — Já tinha ouvido falar desta linha, mas nunca a tinha visto antes! A linha do assassino!
Seguiu-se pesado silêncio, no meio do qual o homem em questão se levantou, apanhou o chapéu e saiu da sala sem dizer uma só palavra. A pobre senhora olhou à volta, consternada.
— Falei alguma coisa que não devia?
— A senhora não sabia? — Disse-lhe a anfitriã. — Na semana passada ele foi absolvido do assassinato da mãe!

106
O momento (107) para se pensar em cortesia vem antes — não depois — do que se fala!

107
Já houve quem definisse o tato como a parte não dita do que se pensou. O bom gosto é refletido pelos bons modos. Ninguém pode ter boas maneiras apenas seguindo as regras de um livro de etiqueta.

107
As boas maneiras refletem uma atitude interior, uma certa sensibilidade para os sentimentos e fraquezas das outras pessoas. São a expressão externa do tato — uma questão mais de coração que de cabeça.

108
Se você não se interessa pelo assunto em foco ou está cansado dele, isso não significa, necessariamente, que todos pensem da mesma forma. Não permita que sua impaciência o faça esquecer que deve esperar o melhor momento para mudar a conversa.

109
A verdadeira razão da distração é a desorganização mental. Na nossa moderna civilização, somos obrigados a ver e a ouvir muitas coisas ao mesmo tempo. Mas o impacto não nos deve tornar distraídos. É necessário que você lute contra a distração com toda a energia possível. Para ser uma pessoa completa, você precisa dominar sua mente, dirigindo-a à sua vontade.

110
Às vezes um sorriso cordial, suficientemente agradável, e uma ligeira pausa farão com que o “desconhecido” lhe ilumine a mente.
Se não chega a tanto a sua amabilidade, você pode salvar a situação recorrendo à franqueza, perguntando-lhe, por exemplo: “Pode-me fazer o favor de repetir seu nome?” Ou mesmo admitir, com segurança: “Sinto muito, mas eu lhe pediria que me dissesse seu nome.” São alusões bem melhores do que dizer “Não me lembro do seu nome”, pois não acentuam demais seu próprio esquecimento.

111
Quando é você quem reconhece outra pessoa primeiro, sentindo que ela nem de longe se recorda de você, ou que ela esqueceu seu nome, seja cortês e refresque-lhe a memória: “Sou Fulano de Tal, jogamos tênis na equipe do Clube, lembra-se?” Ou “Nós nos encontramos na casa de D. Sicrana”. Mas nunca — nunca mesmo — lhe pergunte: “Não se lembra de mim?”

111
O tato tanto importa na hora de ouvir um caso como na hora de contá-lo. Num banquete presidido por Mark Twain, um de seu últimos oradores começou dizendo:
— Se algum dos cavalheiros já ouviu esta história antes, interrompa-me.
Ao que Mark Twain, interrompendo-o, exclamou:
— Meu caro amigo, um cavalheiro nunca ouviu uma história antes!

112
Se alguém lhe perguntar categoricamente se á ouviu um caso e realmente você o conhecer, diga-lhe, por exemplo: “Sim, mas gostaria de ouvi-lo novamente — não me lembro dele muito bem” ou “Sim, mas pode contá-lo. É muito bom...” E continue a usar de todo o tato, não tentando melhorar a narrativa.

112
Se quiser contar outra história, não faça comparações, nem inicie declarando “Eu sei de outra muito melhor...” É muito mais delicado dizer em tom de reminiscência: “Isto me lembra um caso que ouvi...” E lembre-se sempre de estar atento e compreensivo enquanto estiver esperando a sua vez de falar!

112
Talvez o defeito mais comum entre pessoas bem-educadas seja não distinguir entre a discussão e a disputa. Não há lugar para a disputa numa conversa — é violenta demais, conclusiva e, infelizmente, mas com muita freqüência, demasiadamente pessoal para ser uma forma de entretenimento. Quanto à discussão, é a alma de uma conversa animada. A exposição, brilhantemente conduzida, de um ponto de vista diverso dá calor a qualquer troca de idéias.

112
Benjamin Franklin era um homem de idéias firmes, muitas delas revolucionárias para seu tempo. No entanto, que habilidade em atrair ouvintes! Em sua Autobiografia, ele nos conta como lhes atraía a atenção e evitava a animosidade, pois reconhecia o valor da modéstia no falar:
“Impus-me a norma de abandonar toda contradição direta aos sentimentos dos outros e todas as minhas afirmações. Proibi-me, inclusive, o emprego de toda palavra ou expressão que comportasse uma opinião fixa, como certamente, sem dúvida etc., e adotei, em seu lugar, expressões como “Eu penso”, “Eu depreendo” ou “Creio que isso deva ser assim ou assado”, ou “No momento, parece-me que...” Quando alguém afirmava alguma coisa que eu julgasse errada, recusava-me o prazer de contradize-la (113) bruscamente ou de mostrar-lhe algum absurdo em sua proposição; e, ao responder-lhe, começava por comentar que, em certos casos ou circunstâncias, seria correta a sua opinião, mas que, naquele momento, parecia haver ligeira discrepância. Não tardei a notar as vantagens dessa modificação nom meu proceder — as conversas em que intervinha desenvolviam-se de forma mais agradável. A maneira discreta com que expunha minhas idéias atraía uma percepção mais fácil e menos contradições.”
113
Uma pessoa convicta impõe respeito, se é com tato que ela expressa suas convicções. Cultive o hábito de usar expressões como:
— Sinto não poder concordar com você sobre este assunto.
— Minha impressão é outra.
— Poderia dizer-me como chegou a esta conclusão?
Frases como essas nunca ofenderão, exceto a um fanático — e um fanático não está normalmente presente num grupo que se reúne a conversar.

115
No caso de uma mexeriqueira incorrigível, do qual não se conseguirá livrar de forma alguma, o jeito será abandonar a diplomacia e declarar firmemente que não deseja ouvir nada! É um caso em que não se aplicaria o famoso ditado de Voltaire: “Discordo do que você diz, mas defenderei até à morte o seu direito de dizê-lo.”

119
A seguir, dedique-se a aprender bem as histórias que selecionou. Para contá-las de forma leve e espontânea e no momento oportuno, é preciso que você tenha praticado previamente. Não conte nunca uma história pela primeira vez diante de outras pessoas — nem de uma apenas! Uma vez que esteja dominando completamente suas histórias, conte-as de olhos fechados, de maneira suave e pausada. Você se dará conta de que, enquanto as pratica, ajuda-o muito fazê-lo em voz alta.

119
O melhor caso é o que não exige introdução especial, uma vez que se amolda perfeitamente à conversa em si. Um caso oportuno sempre ilustrará determinado ponto ou enfatizará certo argumento com mais eficácia e dramaticidade que longas e detalhadas explanações. Apresentando um exemplo concreto em forma de história sentenciosa ou humorística, você trará a discussão para um terreno pessoal e compreensível.

120
— Minha filha de seis anos recebeu da tia-avó um presente de Natal. Na hora de escrever um cartão de agradecimento, eis o que pediu à mãe para que lhe escrevesse: “Querida tia Luísa: muito obrigada pelo anel de prata. Era exatamente o que queria — mas não muito!”

120
A maioria dos dcasos giram em torno de emoções, como alegria, medo, excitação ou ódio. Quanto mais conseguir contagiar seus ouvintes com tais emoções, maior será o êxito do que contar. Mostre-se animado durante o relato, fazendo com que (121) seu rosto e corpo, assim como sua voz, expressem a emoção que deseja comunicar. Se um dos personagens de sua história estiver excitado ou enfurecido, fale de maneira rancorosa e explosiva. Se um outro for tímido, mostre-se atoleimado e humilde, falando em murmúrios. A dramatização do episódio contagiará quem o escuta, interessando vivamente. Apresente a vez, mostrando-se tão intrigado quanto os outros pelo seu desenlace.

122
Um conselhinho extra: não procure superar a história que ouviu com outra bem melhor. E nunca apresente uma outra versão da que acabou de ouvir.

123
O que é sutileza: a arte de dividir um comentário analiticamente, devolvendo-o, após, em partes, mas sempre com um quê de surpreendente originalidade.

126
Familiarize-se com alguns dos famosos humoristas mundiais — Dorothy Parker, Robert Benchley, Will Rogers e Mark Twain, entre outros. Para não citar os locais. Use, vez por outra, parte de seu material, mãos e esquecendo, porém , de citar a fonte de referência!

127
Há muita gente que a uma expressão de uso corrente acrescenta logo um lugar-comum, um chavão. Tal pessoa jamais dirá que um corredor é “veloz”, mas sim “veloz como o raio”. Da mesma forma uma pessoa muito queimada pelo sol não está “vermelha”, mas “vermelha como um camarão”, e o mendigo jamais será meramente “pobre”, mas sim “pobre como um rato de igreja”, e o rico viverá a “nadar em ouro”.

127
O uso do chavão indica simplesmente um mau hábito, e, como todo mau hábito, deverá ser curado.

127
Um bom exercício, que você poderá utilizar até em forma de brincadeira de salão, é anotar o maior número de chavões de que tiver lembrança e, ao lado de cada um, uma frase original correspondente, usando-o em frases a fim de comparar-lhes o efeito final. Assim, por exemplo, compare “Ele ficou branco como papel” com “Ele ficou branco como um fantasma”.

127
Evite fazer uso de banalidades como as que se seguem, ou mesmo frases semelhanates, em vez de um dito espirituoso bastante pessoal:
— Meu Deus!
— Não diga!
(128)
— Eu, hem?
— Não brinque!
— O quê?
— O que está dizendo?
— Quem?
— Como?
— Repita!
— Puxa, vida!

128
Fuja também do hábito de descrever tudo de que goste com excesso de adjetivação — “lindo”, “excelente’, “maravilhoso” etc.

128
A mordacidade irrita mais que diverte. A pessoa mordaz estraga constantemente qualquer boa conversa, uma vez que jamais encara com seriedade nada do que diz. Cada réplica sua contém ironia e em geral nada tem a ver com o tema da conversa. A única razão de ser desse tipo de interlocutor é fazer rir, custe o que custar. Mostra-se permanentemente disposto a destruir o ritmo de qualquer conversa, cortando-a, derrubando (129) um ponto de vista arduamente exposto, ou fazendo alguém de palhaço — não por hostilidade, mas pura e simplesmente para provocar risadas.

129
A ironia crônica nasce, geralmente, de um falso conceito de humor.

129
Vivendo a louvar o humor, infelizmente encorajamos o falso humorismo, que, na melhor das hipóteses, aborrece e, na pior, nauseia.

129
Como lidar com uma pessoa mordaz? Ignorando-a. deixando que suas “gracinhas” caiam no vazio.

130
É o caso do Embaixador chinês, em Londres, sentado ao lado de um americano bem intencionado, mas curto de inteligência, durante um jantar de gala. Enquanto tomavam a sopa, o americano voltou-se para o chinês e perguntou:
— Gostar sopa!
Cortesmente, o chinês inclinou-se num assentimento. Mais tarde, durante os brindes, ele fez um dos melhores discursos da noite — em inglês oxfordiano. E, ao sentar-se novamente, após o discurso, voltou-se para o americano e perguntou-lhe, piscando o olho:
— Gostar discurso?

133
A inflexão e o timbre da voz, o ritmo do fraseado e articulação das palavras contribuirão para que a pessoa que estiver do outro lado do fio forme a imagem visual desejada. Se você falar com voz alta demais e com muita rapidez, será julgado nervoso e intranqüilo. Se você falar lentamente e com certa vacilação, seu interlocutor poderá ter a impressão de que você é inseguro e hesitará em depositar confiança em sua pessoa.

134
Quando o telefone chama, alguém está prestes a penetrar na intimidade de sua personalidade, e, portanto, você deve ser capaz de se controlar e não ficar à mercê de seu humor. Ainda que seja surpreendido irritado, fora de si, aborrecido, antes de retirá-lo do gancho, procure serenar-se.

134
Um minuto de cortesia evita muitos mais gastos, mais tarde, em lamentáveis pedidos de desculpas.

136
Lembre-se de que pessoas ocupadas demais nunca têm tempo para conversas muito prolongadas. Isto ocorre geralmente com as donas-de-casa ou com pessoas que trabalhem fora. A não ser em caso de muita urgência, é incorreto chamar quem quer que seja em seu local de trabalho, pois não somente fará com que a pessoa desperdice tempo que lhe é pago para trabalhar, como também poderá atrapalhar-lhe as ocupações.

136
Se apenas puder dispor de alguns minutos, diga-o. que o seu tom de voz, assim como suas palavras, reproduzam seu sentimento. Se possível, explique-lhe os motivos que o impedem de prolongar a conversa. E não se esqueça nunca de voltar a chamar, se, por acaso, o houver prometido.

136
E quando se despedir, agradeça-lhe a chamada e diga alguma coisa muito amável.

138
Termine sempre as chamadas telefônicas, pessoais ou de negócios, de uma forma amável. Se você foi útil no caso, diga que se alegra por ter tido tal oportunidade. Se foi a outra pessoa que lhe foi útil, expresse-lhe calorosamente seus agradecimentos. Depois de receber uma chamada pessoal, demonstre o quanto se sente agradecido por ter sido lembrado. Cuide de sua atitude ao telefone, da mesma forma como se se tivesse despedindo de alguém à porta de sua casa. Tenha a certeza de que a outra pessoa, ao desligar o telefone, conservará na lembrança a sua verdadeira imagem.

143
O cliente deverá sempre dar respostas afirmativas. E a atitude vai valer tanto quanto as palavras. Uma apresentação alegre, cordial e simpática convencerá.

144
Dê provas de que acha agradável conversar com a futura cliente. Se for sincero, poderá conseguir isso facilmente. E estará em condições de oferecer algo que vai interessar positivamente aos dois.

144
Na conversa de negócios, como na social, o essencial é um amplo repertório de interesse. De nada adianta falarmos (145) apenas sobre o assunto que mais nos interessa — em negócios, tal atitude embrutece e dificulta a conquista de novos clientes. Afinal, nem todo mundo se interessa por nossos problemas. Inclinam-se todos muito mais para as anedotas e casos que lhes ofereçam maiores atrativos. Demonstre respeito por seu interlocutor falando com clareza. Olhe-o nos olhos, em vez de desviar o olhar para a janela ou para a parede mais próxima, e verá que nada é tão difícil como você imaginava!

145
Não hesite em pede ir uma entrevista às pessoa que você acha que deve ver, mesmo que pertençam a uma categoria comercial importante. O homem de certa classe nunca está tão ocupado que não possa conceder uma entrevista. Apenas o homem insignificante, o que luta por se afirmar em determinada posição, poderá negar-se a recebê-lo. Quem é verdadeiramente importante tem tempo para escutar todo mundo. Mas lembre-se de ter consideração para quem lhe conceda uma entrevista — seja breve. Nos negócios, o tempo é de ouro.

145
Os ricos também são gente. Correspondem às mesma técnicas e têm as mesmas reações que você e eu. Se você tiver de participar de uma conversa mais séria com uma importante personalidade comercial — talvez mesmo seu chefe — numa festa, no local de trabalho ou em qualquer outra circunstância, aproxime-se dele com naturalidade e sem timidez. Não tente causar impressão, falando demais ou com excessiva rapidez. Não grite, não conte vantagens e, acima de tudo, não adule.

146
Não se deixe apanhar desprevenido em tais entrevistas. Pense em como desenvolverá os tópicos que lhe serão apresentados. Saiba como expressar seus sentimentos e suas habilidades. Familiarize-se e seja capaz de usar a técnica de conversação previamente exposta. Lembres-se de que vai ser empregado, ou seja, que você precisa ajustar-se a um grupo, que participará de uma equipe. Todo emprego, qualquer que seja seu nível, requer uma capacidade verbal em diversos graus: a faculdade de falar facilmente com colegas, clientes, chefes, amigos e clientes do chefe. A faculdade de criar boas relações humanas é um fator importante, tanto para seu chefe eventual quanto para o êxito de sua carreira.

147
Parte de seu trabalho consistirá em saber quando não deve falar. Por exemplo, se você trabalha num escritório, certifique-se de que desejam seus comentários antes de se aventurar numa conversa geral, sobre negócios ou de outro gênero. Nunca faça perguntas pessoais e seus colegas durante as horas de trabalho.

147
Não se descuide de cultivar a arte de objetar sem ser desagradável. Procure a compreensão, em vez de se refugiar por trás de idéias preconcebidas.

151
Ao aprender a conversar bem, você aperfeiçoou sua personalidade, mas deverá valorizá-la ainda mais. Faça a si mesmo estas perguntas: “O que quero realmente? Que boas qualidades devo reforçar? Que pequenos defeitos deverei corrigir? Que detestáveis falhas deverei eliminar de vez?”

151
Aprenda a ser sincero com você mesmo e acerca de você mesmo. Examine seus pontos favoráveis, pesquise seus pontos (152) de atração. Depois, verifique suas responsabilidades. De que se vai querer libertar? Do pessimismo? De espírito excessivamente crítico? Da agressividade ou atitude negativa perante a vida? Para criar uma nova personalidade, você deve começar por saber o que pretende conseguir e contra o que está lutando.

152
Feições feias e vulgares que lhe parecerão realmente belas, e isso porque você lhe conhece a vida, como homem. a personalidade pode realçar a obra de Deus, o ser humano, dele fazendo um objeto de rara beleza.

152
Volte ao espelho. Que impressão lhe causa sua postura? Peito afundado, barriga saltada, ombros caídos? Está precisando, então, de uma postura mais correta, fácil, viva, que poderá ser alcançada com um pouco de prática. Descanse o peso de seu corpo sobre as plantas dos pés. Dê um passo à frente e outro para trás a fim de se certificar que o peso recai sobre o ponto certo. Erga a parte superior do corpo, jogue os ombros para trás e para baixo, não para cima. Erga o queixo, não o deixando repousar sobre o peito — que seja impaciente e agressivo, como que sempre a chegar meia hora antes do resto do corpo... Que tal? Melhor, não? Agora você domina realmente seu corpo.

153
Como é seu rosto? Esqueça-lhe o formato ou feições. Será que ele reflete entusiasmo pela vida? ou vive permanentemente fechado? Seus músculos faciais comportam-se bem? Ou se retorcem com hostilidade, quando alguém lhe diz algo desagradável?

153
E seus olhos? São vivos e brilhantes, ou apagados e sem vida? Você olha fixamente as pessoas com facilidade, enfrentando-lhes o olhar, sem temor? Aprendeu a sorrir com os olhos? As crianças adoram mirar-se ao espelho e fazer gestos especialmente com os olhos. Experimente fazê-los, também, e verá que benefício lhe irá trazer, ainda que use óculos. Felizmente, em nossos dias, não é feio usarem-se óculos. Os modelos tanto os masculinos como os femininos, são bonitos e, geralmente, favorecem o rosto. É sempre é melhor usa-los do que apertar os olhos para enxergar melhor.

154
Se não gosta da maneira como ri, crie uma nova forma, que pareça natural e soe bem a quem o ouvir. Nada de gritinhos, nem gargalhadas, ou risinhos abafados — mas um riso franco, bem modulado, que dê prazer aos demais. Como quer que seja ele, modifique-o se julgar necessário, mas não exagere, ou não sentirá prazer em rir. Os atores aprendem a rir de maneira agradável. Sem cultivar um riso teatral, artificial, você poderá rir de forma que contagie os demais.

154
Os gestos sem finalidade prejudicam, desfavorecem. Trate de verificar se comete alguma destas atitudes reprováveis:
Brinca com as mãos enquanto fala?
Agita os braços como a fazer sinais semafóricos?
Aponta as pessoas com o dedo?
Agita as mãos e cerra os punhos?
Mexe nos cabelos ou ajeita a roupa?

155
Para alcançar uma personalidade brilhante, cultive uma atitude positiva perante você mesmo e o mundo ao redor. Concentre-se nas coisas boas que tem no interior de seu ser, em sua vida e no mundo em geral. Não poderá ignorar as preocupações, mas não precisa andar-lhes atrás por toda parte. Na realidade, a distância entre a atitude positiva e a negativa é menor que a espessura de um fio de cabelo. Por exemplo, numa manhã triste e cinzenta, você poderá dizer:
— Vai chover a cântaros daqui a pouco!
Ou poderá dizer:
— Se o sol esquentar mais, desmanchará essas nuvens.
O que sai ganhando em começar a ver tudo negro?

155
Como seria melhor falarem de seus dons positivos, de seu equilíbrio, de sua calma nos momentos críticos, ou das virtudes e qualidades que possuam. Os que escreveram a Bíblia possuíam conhecimentos suficientes para aconselhar-nos a não ocultarmos nossos talentos num saco. O amor-próprio, desde que não seja cego, egoísta, é uma característica vital de qualquer personalidade sadia. Aprecie seus próprios méritos, não os desmereça nunca.

156
Comprove-o na primeira vez em que se sentir triste. Force os lábios a esboçarem um sorriso, com ou sem a intervenção do espelho, e se sentirá melhor. A sensação talvez seja momentânea apenas, mas poderá repetir a dose quantas vezes o desejar, especialmente pela manhã, até criar o hábito.

156
Num dia cinzento de inverno, alguns operários estavam trabalhando numa obra urbana. No fundo do buraco aberto, muitos centímetros de água da chuva tornavam o trabalho duplamente desagradável. Um transeunte perguntou a um deles:
— O que os senhores estão fazendo?
— Ora, então não está vendo? — resmungou ele, mal-humorado. — Estamos consertando o esgoto.
O mesmo transeunte perguntou, mais adiante, a um outro operário:
— O que estão fazendo?
Ele ergueu a cabeça com um sorriso e respondeu, alegremente:
— Construindo uma catedral, não está vendo?

157
Você pode escolher entre avançar na vida abrindo esgotos ou edificando catedrais!