quinta-feira, 1 de maio de 2014

MERECE SER LEMBRADO II -- FERNÃO DIAS PAIS LEMES AGONIZA


FERNÃO DIAS PAIS LEMES AGONIZA

... e escuta uma voz que , na solidão, só ele escuta, — só”
“Nesse louco vagar, nessa marcha perdida,
Tu foste, como o sol, uma fonte de vida:
Cada passada tua — era um caminho aberto!
Cada pouso mudado — uma nova conquista!
E quando ias, sonhando o teu sonho egoísta, teu pé , como o de um deus, fecundava o deserto!
Morre! Tu viverás nas estradas que abriste!
Teu nome rolará no largo choro triste
da água do Guaicuí.
Morre, Conquistador!
Viverás quando, — feito em seiva o sangue, — aos ares subires, e nutrindo uma árvore, cantares
numa ramada verde, entre um ninho e uma flor!
Morre! Germinarão as sagradas sementes
das gotas de suor, das lágrimas ardentes!
Hão de frutificar as fomes e as vigílias!
E , um dia, povoada a terra em que te deitas,
quando, aos beijos do amor, crescerem as famílias,
Tu cantarás na voz dos sinos, das charruas
no esto da multidão, no tumultuar das ruas,
no clamor do trabalho e nos hinos da paz!
E, subjugando o olvido, através das idades,
— Violador de sertões! Plantador de cidades!
Dentro do coração da Pátria, viverás”.
Dissipa-se a visão.
Dorme de novo tudo.
Agora, a deslizar pelo arvoredo mudo,
como um choro de prata algente, o luar escorre
E, sereno e feliz, no maternal regaço
da terra, sob a paz estrelada do espaço,
Fernão Dias Pais Lemes os olhos cerra. E morre.
Olavo Bilac



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