FERNÃO DIAS PAIS LEMES
AGONIZA
... e escuta uma voz
que , na solidão, só ele escuta, — só”
“Nesse louco vagar,
nessa marcha perdida,
Tu foste, como o sol,
uma fonte de vida:
Cada passada tua —
era um caminho aberto!
Cada pouso mudado —
uma nova conquista!
E quando ias, sonhando
o teu sonho egoísta, teu pé , como o de um deus, fecundava o
deserto!
Morre! Tu viverás nas
estradas que abriste!
Teu nome rolará no
largo choro triste
da água do Guaicuí.
Morre, Conquistador!
Viverás quando, —
feito em seiva o sangue, — aos ares subires, e nutrindo uma árvore,
cantares
numa ramada verde,
entre um ninho e uma flor!
Morre! Germinarão as
sagradas sementes
das gotas de suor, das
lágrimas ardentes!
Hão de frutificar as
fomes e as vigílias!
E , um dia, povoada a
terra em que te deitas,
quando, aos beijos do
amor, crescerem as famílias,
Tu cantarás na voz dos
sinos, das charruas
no esto da multidão,
no tumultuar das ruas,
no clamor do trabalho e
nos hinos da paz!
E, subjugando o olvido,
através das idades,
— Violador de
sertões! Plantador de cidades!
Dentro do coração da
Pátria, viverás”.
Dissipa-se a visão.
Dorme de novo tudo.
Agora, a deslizar pelo
arvoredo mudo,
como um choro de prata
algente, o luar escorre
E, sereno e feliz, no
maternal regaço
da terra, sob a paz
estrelada do espaço,
Fernão Dias Pais Lemes
os olhos cerra. E morre.
Olavo
Bilac
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