terça-feira, 6 de maio de 2014

MERECE SER LEMBRADO II -- QUE DIABOS!


QUE DIABOS!

Dizem que, há muitos e muitos anos, morava numa cidade bem distante da nossa, num país chamado Alemanha, um alquimista muito esquisito — Fausto.
Fausto tinha fórmulas misteriosas capazes de evocar os demônios mais estranhos.
Mas as portas de seu gabinete de trabalham estavam sempre fechadas e lá ninguém conseguia entrar.
Um dia, porém, Fausto esqueceu-as abertas. Seu criados, muito curioso, entrou às escondidas e resolveu fazer uma experiência.
Ah! Antes não a fizesse! Abriu um livro cabalístico. Folheou-o. Escolhendo uma das fórmulas, leu-a em voz alta.
No primeiro instante, irromperam do chão, das paredes e do teto alguns diabinhos graciosos e espertos, que, fazendo caretas, começaram a dançar ao redor dele.
O criado achou boa a brincadeira, virou algumas páginas e leu outras fórmulas.
Logo sentiu um cheiro forte de enxofre e ouviu um grande rumor de correntes e assobios agudos, enquanto na sua frente apareciam alguns diabos grandes e feios, horrivelmente feios.
Uns puseram-se a puxar-lhe o nariz, outros a beliscar-lhe as orelhas e as pernas, pondo-se depois todos a esbofetea-lo e aplicar-lhe rijos pontapés.
O infeliz servo, no meio daquela tempestade de golpes, pedia socorro e procurava defender-se inutilmente.
Ele sabia que havia fórmulas destinadas a afugentar os demônios, mas — coitado! — não era capaz de encontra-las.
Tirou, então, outro livro da estande e abriu-o, ao acaso. Leu algumas linhas e uma outra fórmula.
Ah! Uma porção de diabinhos repugnantes e mal cheirosos vieram sobre o pobre infeliz. Rodearam-no e cobriram-no de imundices.
O servo pôs-se, então, a gritar.
Ao ouvir tais gritos, e, sabendo de onde partiam, Fausto pôde adivinhar o que acontecia.
Correu, abriu a porta do seu gabinete, entrou.
Ao deparar com a cena, Fausto, pôs-se a contempla-la por momentos e, depois disse:
— Bem merecida a lição! Aceite, agora, essas carícias e aspire esses perfumes que mandou vir de tão longe.
Assim que achou bastante o castigo, Fausto pegou de um livrinho e leu alto umas fórmulas que afugentaram os demônios.
Com os olhos esbugalhados de terror e as roupas em molambos, o servo desobediente permaneceu ali por muito tempo, estirado no chão, mais morto do que vivo.
Bem merecida a lição!

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