MERECE SER LEMBRADO II -- ARIADNA OU A COROA DE ESTRELAS

ARIADNA OU A COROA DE ESTRELAS

Há muito tempo, há muito tempo, governava a ilha de Creta o rei Minos, tão sábio quanto cruel.

Tendo perdido um filho numa luta contra os atenienses, Minos vingou-se de seus inimigos de maneira bárbara: obrigou a cidade de Atenas a enviar, todos os anos, sete moços e sete moças, para servirem de refeição ao Minotauro, um horrível monstro, meio homem meio touro, que vivia num labirinto de seu palácio, nutrindo-se somente de carne humana.

Tal labirinto consistia num subterrâneo cheio de quartos e de corredores que davam voltas sem fim. Uma vez que se entrasse, não se saia mais, pois que não fosse devorado pelo monstro, que habitava um de seus quartos, ficaria perdido pelos corredores, sem achar a saída, acabando por morrer de fome ou de desespero.

Ariadna, filha do rei Minos, lembrava-se, com saudades, de seu irmão morto em plena mocidade, e não podia ver, sem chorar, esses quatorze jovens que eram devorados todos os anos pelo Minotauro.

Resolveu salvar os jovens, ainda que lhe custasse a vida.

Aconteceu, porém, que Teseu, o filho do rei de Atenas, forte e corajoso, se achava naquele ano entre os moços que deviam ser devorados pelo monstro.

Ariadna enviou-se uma espada e um novelo de linha com o seguinte recado:

“Forte e corajoso Príncipe,

Esta arma não será suficiente para salvar-te do terrível Minotauro, se não levares contigo o novelo de linha que vai junto.

Amarra a extremidade do fio na entrada do labirinto e vai desenrolando o novelo à medida que fores entrando.

Depois de matares o Minotauro, o fio indicar-te-á o caminho da saída.

Ariadna”.

Teseu cumpriu os conselhos de Ariadna. Escondeu entre as vestes a arma e o novelo.

Ao desembarcar, foi conduzido com seus companheiros para o labirinto, cujas pesadas portas se fecharam, logo que nele entraram.

Os terríveis rugidos do Minotauro, que ressoava pelos corredores intermináveis do labirinto, encheram os moços de pavor. Mas Teseu não vacilou. Caminhou sem medo à frente até encontrar o Minotauro. Vendo-o monstro avançou. Travaram tremenda luta. Afinal, exausto e sem esperanças de vencer, Teseu, com um golpe certeiro de espada, atravessou o peito do monstro prostrando-o morto.

Sem perder um instante, Teseu, juntou-se a seus companheiros, e, seguindo o fio de linha, ganharam a saída do labirinto.

Ali os esperava Ariadna, que pediu aos jovens que a levassem para Atenas, porque o povo, encolerizado, a ameaçava.

Os jovens consentiram, a principio, em levar consigo sua salvadora.

Muito pouco tempo, porém, durou a gratidão dos moços. Vaidosos, resolveram não revelar o auxilio que Ariadna lhes dera para matar o Minotauro. Decidiram, então, abandonar Ariadna numa ilha deserta.

Ao ver sumir-se o navio, que a deixava só na ilha, Ariadna pôs-se a chorar. O vento levou os seus lamentos a lugares distantes e soprou-os no ouvido de Dionísio, um Deus alegre e bom, que atravessava o mar no seu carro de fogo.

Ao ouvir tão sentidos queixumes, Dionísio mudou de rumo e foi ter à ilha, onde encontrou Ariadna. Ouviu toda a sua história.

Comovido, tirou da cabeça sua soberba coroa de ouro, incrustada de pedras, para oferecê-la a Ariadna. Mal tocou na cabeça da linda princesa, a coroa se elevou no ar.

As pedras, que a ornavam, viraram estrelas.

E esta coroa de astros se fixou no céu para sempre, com lembrança da bondade de Ariadna.

Nas belas noites escuras, olhai para o céu e vereis oito estrelas enfileiradas. Acreditai: é a coroa de Ariadna, que, lá do alto, ensina que se deve ser bom.

HISTÓRIAS TIRADAS DO LIVRO AS MAIS BELAS HISTÓRIAS : COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO: ENSINO DE PRIMEIRO GRAU, 3ª SÉRIE ESCRITO POR LUCIA MONTEIRO CASASANTA. EDITORA DO BRASIL S/A. SÃO Paulo 1973. EBSA – MEC.