terça-feira, 6 de maio de 2014

MERECE SER LEMBRADO II -- PÍTIAS E DAMON


PÍTIAS E DAMON

Pítias, condenado à morte pelo tirano Dionísio, passava na prisão seus últimos dias.
Não temia a morte.
Como explicar, então, que se enchesse de lágrimas os seus olhos, todas às vezes que alongava a vista pelo caminho que se abria diante das grades da prisão?
Não, não era o medo de morrer. Era a lembrança de seus velhos pais, de quem era o único consolo e arrimo.
Um dia, resolveu-se. Apresentou-se a Dionísio e disse-lhe:
— Senhor, dê-me licença para ir à casa beijar meus pais e resolver meus negócios. Estarei de volta dentro de quatro dias, sem contar nenhuma hora mais.
Rindo-se de tal idéia, o tirano respondeu-lhe:
— Como posso acreditar no que promete? Os caminhos são longos e desertos. Você o que quer é escapar-se.
Levantando o olhar, nublado de lágrimas, Pítias insistiu:
— Senhor, preciso ir! Meus pais estão velhos e inutilizados. Só contam comigo para se defender. Se ao menos soubesse do que me aconteceu agora!
Diante da dureza de Dionísio, Damon, jovem amigo de Pítias, disse:
— Senhor, concedei a Pítias a licença que ele vos pede. Conheço seus velhos pais e sei que precisam do auxílio de seu único filho. Deixai-o partir e garanto-vos que, dentro de quatro dias, sem faltar uma hora, estará de volta e, então, vos entregará a cabeça.
— Não! — foi a resposta do tirano.
Mudos, os dois jovens se entreolharam.
Damon, compreendendo o sofrimento do amigo, propôs:
— Senhor, aceitai que eu fique na prisão em lugar de meu amigo, que vai cumprir o dever de servir a seus... Morrerei no lugar dele, se à hora marcada para a sua morte, não estiver aqui.
O tirano, surpreendido com aquelas palavras, consentiu. Mandou tirar as grilhetas que prendiam os pés de Pítias e coloca-las nos pés de Damon.
Abraçando o amigo, partiu Pítias, sem demora.
Damon sentiu-se feliz em prestar a seu amigo esse último favor.

II

Passaram-se as horas, uma a uma.
O dia marcado para a morte de Pítias amanheceu alegre e festivo. Os preparativos para sua execução movimentavam a praça.
Damon dizia aos guardas, que o olhavam aflitos:
— Sim, ele virá, eu sei! Se não vier a tempo, não será sua culpa. É moço de palavra!
Damon não revelava a menor dúvida.
Entretanto, a hora da execução chegar.
Os guardas de Dionísio vieram abrir as portas da prisão. Tiraram as grilhetas que prendiam os pés de Damon, e o conduziram à praça.
Damon caminhou com passos firmes, escoltado pelos guardas de Dionísio.
A multidão, que enchia a praça, acompanhava silenciosa e comovida jovem que se oferecera para substituir o amigo.
Damon subiu ao cadafalso.
Nessa hora, uma estranha agitação fez a multidão prorromper em gritos.
Era Pítias que chegava.
Exausto, sem fôlego, rompendo a multidão, Pítias galgou os degraus do cadafalso. Abraçou comovidamente o amigo e ofereceu-se ao carrasco.
Os soluços da multidão chegara a Dionísio que se pôs de pé, em sua tribuna, para convencer-se melhor do que via. E gritou:
— Parai a execução! Esses jovens são dignos do amor dos homens de bem. Sabem o que vale a palavra!
E, dirigindo-se a Pítias e a Damon, Dionísio, o tirano, abraçou-os, dizendo-lhes comovidamente:
— Eu daria tudo para ter amigos como vocês.






Nenhum comentário:

Postar um comentário