O FECHADOR DE OLHOS
Ninguém no mundo
conhece tantas histórias como o Fechador de Olhos, e ninguém sabe
contá-las tão bem quanto ele.
À noite, à hora em
que as crianças se preparam para dormir, o Fechador de Olhos vem
entrando devagarzinho. Sobe as escadas, pé ante pé, sem fazer
barulho, porque o Fechador de Olhos só anda de meias.
Abre as portas de
mansinho, e, então, joga uma areia fininha nos olhos das crianças
para que elas fechem os olhinhos e não o vejam entrar.
Quando as crianças
começam a cochilar, o Fechador de Olhos senta-se na beirada da cama.
O seu paletó furta-cor
vai mudando do vermelho para o azul e para o verde, quando ele se
move.
O Fechador de Olhos
leva uma sombrinha em cada mão. Uma delas é forrada de lindas
figuras. Quando o Fechador de Olhos a abre sobre a cabeça das
crianças, elas começam a sonhar coisas muito bonitas e sonham a
noite inteirinha.
A outra sombrinha é
preta, e, quando o Fechador de Olhos a abre sobre as crianças, elas
não sonham nada.
Uma noite, Henrique
estava cochilando. O Fechador de Olhos entrou de mansinho no seu
quarto. Sentou-se na beirada de sua cama e tocou nela com o seu
mágico condão, e a cama começou a falar.
Na parede, em frente da
cama de Henrique, havia uma gravura grande que mostrava um rio muito
largo de águas muito azuis que corriam para o mar.
O Fechador de Olhos
tocou no quadro com a sua varinha de condão. De repente os
passarinhos começaram a cantar as folhas das árvores começaram a
balançar e as nuvens a vogar no céu imenso.
Nas margens do rio,
havia árvores e fores e um campo gramado se estendia até muito
longe.
O Fechador de Olhos
pegou Henrique e colocou seus pés na grama do quadro e lá ficou ele
debaixo das grandes árvores.
Henrique correu para o
rio e encontrou num barquinho que estava parado na margem. O
barquinho era branco e vermelho e as suas velas eram de prata.
Seis cisnes brancos
puxavam o barco, e Henrique começou a navegar no rio que cortava a
floresta verde debaixo de um céu de flores. As árvores e as flores
se inclinavam para Henrique e contavam histórias maravilhosas.
Peixinhos vermelhos
navegavam atrás do barco, pássaros vermelhos e azuis voavam,
acompanhado Henrique no seu barco de velas de prata.
As abelhas faziam
zunzum e as borboletas voavam em redor.
O barquinho vogava
debaixo das árvores copadas e fechadas e saía em jardins cheios de
luz, cheios de flores.
Havia castelos feitos
de cristal e ouro nos jardins.
Lindas princesinhas
chegavam à janela do castelo para ver Henrique no seu barquinho
branco e vermelho, de velas prateadas, puxado pelos cisnes brancos.
Cada princesinha estendeu a mão a Henrique e lhe deu um coração de
açúcar, quando o barquinho já ia embora e deu às princesinhas uma
metade.
Henrique continuou a
vogar em roda das florestas, das cidades e dos campos.
Ele foi longe, muito
longe, foi até a cidade onde morava sua velha ama que o criara desde
o dia em que ele nascera.
A velha ama cantou uma
linda canção , e todos os passarinhos cantaram a mesma canção
para Henrique.
As borboletas dançaram,
as flores dançaram, e as velhas árvores curvaram suas copas até o
chão.
Andersen (adaptação)
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