terça-feira, 6 de maio de 2014

MERECE SER LEMBRADO II -- SEGREDO DA CUTIA


SEGREDO DA CUTIA

I

Era uma vez, Dona Cutia que não podia viver sossegada, com as amolações dos outros bichos.
Uns pediam-lhe água, outros comida, outros lenha. Uns iam visita-la, outros faziam barulho na porta da casa. Não lhe davam um momento de descanso.
Até de noite os bichos vadios gritavam:
Vamos à casa de Dona Cutia
Que não dorme
Nem de noite nem de dia.
Certa manhã, Dona Cutia levantou-se cedo e resolveu mudar-se para um lugar bem escondido, em que ninguém a amolasse.
Sabem o que fez?
Pegou na picareta e cavou um lugar bem fundo junto à raiz de um ingazeiro.
— Ah! Que bom! Agora tenho uma casinha nova. Ninguém sabe dela. É segredo. Vou fazer um caminhozinho de minha casa velha até aqui.
E Dona Cutia pegou na enxada e — zás! — cortou o mato e fez o caminho.
Nisto veio passando a Raposa e perguntou:
— Como vai a senhora, dona cutia? Por que está tão empoeirada?
— Ah! Dona Raposa! Não é nada! Eu não queria dizer a ninguém, mas vou só dizer à senhora. Não passe para diante, porque é segredo, ouviu?
E chegando bem pertinho do ouvido da Raposa disse-lhe:
— Fiz uma casinha nova juntinho da raiz do ingazeiro.
— Ah! A senhora fez uma casinha nova? Mostre-me o lugar!
Dona cutia chamou a Raposa.
Em frente da porta de sua casinha nova, Dona Cutia olhou para todos os lados, para ver se ninguém ouvia o que ela dizia:
— Levante esses galhos de assa-peixe. É aí a porta.
II

A Raposa ficou muito alegre por conhecer o segredo da Cutia e foi-se embora.
Saiu andando tão distraída que nem viu o Sr. Coelho.
— Aonde vai a senhora, Dona Raposa? Por que está toa distraída, assim? — perguntou o Coelho.
— Desculpe-me, Sr. Coelho. Eu estava pensando na casinha nova de Dona Cutia.
— Ah! Então, Dona Cutia tem uma casinha nova? Eu não sabia! — disse o Coelho.
— Tem, sim. Mas não diga nada a ninguém. A casinha dela é debaixo da raiz do ingazeiro, daquele ingazeiro velho perto da ponte, o senhor não sabe?
— Ah! Já sei! — disse o Coelho.
— Mas é segredo, hein? — repetiu a Raposa.
O Sr. Coelho ficou com uma vontade louca de ver a casinha nova da Dona Cutia e correu para o ingazeiro velho.
No caminho, o Sr. Coelho encontrou o Caxinguelê.
— Aonde vai com tanta pressa, Sr. Coelho? — perguntou o Caxinguelê.
— Vou ver a casinha nova da Dona Cutia, debaixo da raiz do ingazeiro, daquele ingazeiro velho, lá perto da ponte, o senhor não sabe? — disse o Coelho.
— Ah! Então Dona Cutia tem uma casinha nova, hein? Eu não sabia! — disse o Caxinguelê.
— Mas é segredo hein? Não diga a ninguém, — recomendou o Coelho.
— o Sr. Coelho continuou sua carreira.
O Caxinguelê parou ali, pensando.
Nisto apareceu o Mico, e o Caxinguelê contou-lhe o segredo bem no ouvido.
O Mico encontrou o Sapo e contou-lhe o segredo também.
O Sapo encontrou a Tartaruga e contou-lhe também.
A Tartaruga encontrou o Lobo e também lhe contou o segredo, bem baixinho, bem no ouvido.
De tarde, todos os animais e passarinhos da floresta sabiam que Dona Cutia tinha uma casinha nova.
Sabiam também que a casinha era debaixo do ingazeiro velho e sabiam ainda que era aquele ingazeiro perto da ponte.
Assim, durante o dia, todos quiseram passar por lá para ver a casinha de Dona Cutia. Mas Dona Cutia, que não era nada boba, teve uma idéia, e sabem o que fez? Arrancou a placa de sua casa velha, colocou-a na casa nova “Aqui mora Dona Cutia” e continuou a morar na casa velha.
E desde esse dia,
A Dona Cutia
Dormia e dormia
De noite e de dia.


HISTÓRIAS TIRADAS DO LIVRO AS MAIS BELAS HISTÓRIAS : COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO: ENSINO DE PRIMEIRO GRAU, 3ª SÉRIE ESCRITO POR LUCIA MONTEIRO CASASANTA. EDITORA DO BRASIL S/A. SÃO Paulo 1973. EBSA – MEC.

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