SEGREDO DA CUTIA
I
Era uma vez, Dona Cutia que não podia viver sossegada, com as
amolações dos outros bichos.
Uns pediam-lhe água, outros comida, outros lenha. Uns iam visita-la,
outros faziam barulho na porta da casa. Não lhe davam um momento de
descanso.
Até de noite os bichos vadios gritavam:
Vamos à casa de Dona Cutia
Que não dorme
Nem de noite nem de dia.
Certa manhã, Dona Cutia levantou-se cedo e resolveu mudar-se para um
lugar bem escondido, em que ninguém a amolasse.
Sabem o que fez?
Pegou na picareta e cavou um lugar bem fundo junto à raiz de um
ingazeiro.
— Ah! Que bom! Agora tenho uma casinha nova. Ninguém sabe dela. É
segredo. Vou fazer um caminhozinho de minha casa velha até aqui.
E Dona Cutia pegou na enxada e — zás! — cortou o mato e fez o
caminho.
Nisto veio passando a Raposa e perguntou:
— Como vai a senhora, dona cutia? Por que está tão empoeirada?
— Ah! Dona Raposa! Não é nada! Eu não queria dizer a ninguém,
mas vou só dizer à senhora. Não passe para diante, porque é
segredo, ouviu?
E chegando bem pertinho do ouvido da Raposa disse-lhe:
— Fiz uma casinha nova juntinho da raiz do ingazeiro.
— Ah! A senhora fez uma casinha nova? Mostre-me o lugar!
Dona cutia chamou a Raposa.
Em frente da porta de sua casinha nova, Dona Cutia olhou para todos
os lados, para ver se ninguém ouvia o que ela dizia:
— Levante esses galhos de assa-peixe. É aí a porta.
II
A
Raposa ficou muito alegre por conhecer o segredo da Cutia e foi-se
embora.
Saiu
andando tão distraída que nem viu o Sr. Coelho.
—
Aonde vai a senhora, Dona Raposa? Por que está toa distraída,
assim? — perguntou o Coelho.
— Desculpe-me, Sr. Coelho. Eu estava pensando na casinha nova de
Dona Cutia.
— Ah! Então, Dona Cutia tem uma casinha nova? Eu não sabia! —
disse o Coelho.
— Tem, sim. Mas não diga nada a ninguém. A casinha dela é
debaixo da raiz do ingazeiro, daquele ingazeiro velho perto da ponte,
o senhor não sabe?
— Ah! Já sei! — disse o Coelho.
— Mas é segredo, hein? — repetiu a Raposa.
O Sr. Coelho ficou com uma vontade louca de ver a casinha nova da
Dona Cutia e correu para o ingazeiro velho.
No caminho, o Sr. Coelho encontrou o Caxinguelê.
— Aonde vai com tanta pressa, Sr. Coelho? — perguntou o
Caxinguelê.
— Vou ver a casinha nova da Dona Cutia, debaixo da raiz do
ingazeiro, daquele ingazeiro velho, lá perto da ponte, o senhor não
sabe? — disse o Coelho.
— Ah! Então Dona Cutia tem uma casinha nova, hein? Eu não sabia!
— disse o Caxinguelê.
— Mas é segredo hein? Não diga a ninguém, — recomendou o
Coelho.
— o Sr. Coelho continuou sua carreira.
O Caxinguelê parou ali, pensando.
Nisto apareceu o Mico, e o Caxinguelê contou-lhe o segredo bem no
ouvido.
O Mico encontrou o Sapo e contou-lhe o segredo também.
O Sapo encontrou a Tartaruga e contou-lhe também.
A Tartaruga encontrou o Lobo e também lhe contou o segredo, bem
baixinho, bem no ouvido.
De tarde, todos os animais e passarinhos da floresta sabiam que Dona
Cutia tinha uma casinha nova.
Sabiam também que a casinha era debaixo do ingazeiro velho e sabiam
ainda que era aquele ingazeiro perto da ponte.
Assim, durante o dia, todos quiseram passar por lá para ver a
casinha de Dona Cutia. Mas Dona Cutia, que não era nada boba, teve
uma idéia, e sabem o que fez? Arrancou a placa de sua casa velha,
colocou-a na casa nova “Aqui mora Dona Cutia” e continuou a morar
na casa velha.
E desde esse dia,
A Dona Cutia
Dormia e dormia
De noite e de dia.
HISTÓRIAS TIRADAS DO LIVRO AS MAIS BELAS HISTÓRIAS :
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO: ENSINO DE PRIMEIRO GRAU, 3ª SÉRIE
ESCRITO POR LUCIA MONTEIRO CASASANTA. EDITORA DO BRASIL S/A. SÃO
Paulo 1973. EBSA –
MEC.
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