terça-feira, 6 de maio de 2014

MERECE SER LEMBRADO II -- UM SÁBIO: OSVALDO CRUZ


UM SÁBIO: OSVALDO CRUZ

Era uma vez um país muito belo e muito rico, mas ao qual todos tinham muito medo de ir.
Sabem vocês qual esse país?
Vocês o conhecem muito: o nosso Brasil.
E sabem por que os homens de outras terras tinham muito medo de vir ao Brasil?
Por causa das doenças, e, sobretudo, por causa da febre amarela.
— Ir ao Rio de Janeiro é um suicídio, — diziam os estrangeiros.
Não só os estrangeiros.
Também os brasileiros do interior, até os mas corajosos, tinham receio de ir à ex-capital, porque boa parte dos que iam não voltavam: ficavam enterrados lá.
Para vocês calcularem o que era a nossa ex-capital, basta lembrar que um navio de guerra italiano, o Lombardia, aportou em nossas costas com 340 pessoas e saiu com 106...
Também, quando os nossos navios iam a qualquer país estrangeiro, não podiam aporta sem uma rigorosa e demorada quarentena. Eram obrigados a esperar muito tempo, isolados, sem contacto com a terra, até que as autoridades os examinassem bem, para verificar se não traziam casos de febre.

II

Um dia, um certo médico contava a seus filhos todas essas desgraças e acabava dizendo:
— É uma vergonha para nós! Mas que fazer? Todos trabalham para combater essas doenças, mas não se acertou ainda com o remédio. Pobre Brasil!
Um de seus filhos foi para o seu quarto e disse:
— Vou acabar com essas doenças que estão acabando com o Brasil. Vou estudar bastante. Você, febre amarela, você, peste bubônica, você, varíola, você, impaludismo, hão-de ver o que vale o estudo. É eu ficar homem e acabar com vocês! Juro que hei-de afasta-las de minha pátria.
Esse menino chamava-se Osvaldo Cruz.

III

Pensam vocês que aquele juramento era um brincadeira de criança?
Pois não pensem assim: criança também tem palavra e Osvaldo Cruz sempre a teve.
Terminou o seu curso secundário, entrou na Faculdade de Medicina, procurou especializar-se no estudo dos micróbios, e, logo que pôde, partiu para Paris.
Em Paris, em vez de passear, aperfeiçoou-se no Instituto Pasteur, salientado-se de tal modo pelo seu esforço e pela sua inteligência, adquirindo um excelente nome entre os técnicos.
Depois de aprender tudo o que queria, voltou ao Brasil, para cumprir a sua promessa.

IV

Osvaldo Cruz chegou ao Brasil, mas ninguém lhe deu importância. Era modesto, discreto, despretensioso. Escondia os seus imensos merecimentos.
Continuou a exercer a sua profissão, estudando sempre, quando surgiu em Santos uma epidemia de peste bubônica.
O remédio para a peste era um certo soro e não havia no Brasil quem o fabricasse.
Que fez o governo?
Pediu ao Instituto Pasteur de Paris que nos enviasse técnicos para fabricar o soro, porque a epidemia se alastrava medonhamente.
O Dr. Roux (leiam Ru), Diretor do Instituto, grande sábio, respondeu logo:
— Vocês têm aí o Osvaldo Cruz, que sabe, tão bem como nós, fazer estas coisas. Aproveitem esse moço. Não tenho no meu Instituto ninguém mais capaz do que ele.
Então o nosso governo chamou o Osvaldo Cruz, que venceu a peste, fazendo o soro. Dentro em pouco, o nosso governo confiou-lhe a direção do Instituto que veio a ser o nosso Manguinhos.

V

Osvaldo Cruz em Manguinhos reuniu alguns brasileiros inteligentes e trabalhadores e começou a prepara-los para acabar com as outras doenças de uma vez.
Um belo dia, Deus fez que Rodrigues Alves fosse eleito Presidente do Brasil.
Assim que foi eleito, esse bravo paulista escolheu um grupo de brasileiros trabalhadores e capazes e, entre outros problemas, resolveu fazer o saneamento do Rio de Janeiro.
Faltava um médico que se incumbisse da parte sanitária. Procura que procura, acabou por achar Osvaldo Cruz e confiou-lhe a grande tarefa.
— Presidente — disse-lhe Osvaldo Cruz, a luta vai ser tremenda. Teremos de contrariar os médicos, os negociantes, os ignorantes, os malévolos, os comodistas, e os seus inimigos políticos não perderão a oportunidade para agredi-lo.
— Não faz mal, Doutor Osvaldo Cruz, disse-lhe o Presidente. Realize o seu plano, meta a cara e não olhe para as conseqüências. Para isso é que foi feito o governo.

VI

Osvaldo Cruz estava convencido de que a transmissão da febre amarela era feita por mosquitos e tratou de acabar com eles. Sabia que a peste bubônica era transmitida pelos ratos e tratou de extingui-los. criou um verbo novo na nossa língua: desratizar.
A campanha que se levantou contra ele foi violentíssima.
Injuriaram-no, ridicularizaram-no insultaram-no de todos os modos.
Chegaram a provocar uma revolução em que correu sangue, porque conseguiu uma lei que tornava obrigatória a vacina contra a varíola.
Dentro em pouco, porém, vencia.
O Brasil libertara-se para sempre da febre amarela, vira reduzido extraordinariamente o impaludismo no Rio de Janeiro, passara a viver sem o terror da varíola e da peste bubônica.
Osvaldo Cruz cumprira o seu juramento de criança.

VII

Lembram-se do Lombardia, que veio com trezentas e quarenta pessoas e voltou com cento e seis?
Pois bem.
Estando nos Estados Unidos e indo visitar o Presidente da República em companhia de nosso embaixador Joaquim Nabuco, o Presidente Teodoro Roosevelt revelou-lhe o receio de que a esquadra norte-americana, em viagem para o Pacífico, aportasse, em pleno verão, no Rio de Janeiro.
— Pode ficar descansado, Presidente. Garanto que os seus marinheiros não apanharão febre no Brasil.
O presidente confiou naquele homem jovem e forte.
A esquadra veio ao Brasil, com dezoito mil homens, e não ocorreu um único caso de febre.
Por causa dessa bela vida, que tanto bem trouxe ao nosso país e tantos males o poupou, nós podemos hoje contar um bela história: “Era uma vez um país muito belo e muito rico, ao qual todos tinham muito medo de ir, por causa de suas doenças mortíferas, mas um bom menino que veio a ser homem bom lutou de tal maneira que hoje os povos o procuram, sem medo daquelas doenças”.




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