UMA HISTÓRIA
VERDADEIRA: TOBIAS
Há muitos, muitos anos
antes de nascer Jesus, havia em Israel um rei ímpio. Deus avisara-o
várias vezes, através de seus profetas, de que havia de castiga-lo,
mas em vão.
Tantas praticou que um
rei vizinho, da Assíria, invadiu seu reino, levando-o e a todo seu
povo como escravos.
Na Assíria, os homens
de Israel sofreram a mais dura escravidão. Não tinham muitas vezes
o que comer nem o que vestir. Trabalhavam muito, eram castigados
constantemente e assassinados por qualquer motivo. Seus corpos eram
lançados nos campos desertos e devorados pelos urubus. Ninguém
podia dar-lhes sepulturas, sob pena de castigos cruéis.
Foi nas piores horas
desse cativeiro que apareceu um homem bom. Chamava-se Tobias. Fora
educado na devoção de Deus e, desde menino, muito querido de todos,
pela sua muita bondade. Consolava os aflitos, vestia os esfarrapados,
dava pão aos famintos, sepultava os mortos.
Estive onde estivesse,
deixava o que estava fazendo, mal soubesse que havia um companheiro
morto, levava-o para a sua casa e aproveitava a noite para
enterra-lo. Sabendo disso, o rei dos assírios tratou de castiga-lo,
espoliou-o de todos os seus bens e mandou prende-lo. Tobias conseguiu
fugir, mas não tardou que o rei assírio fosse morto. Tobias voltou,
então, à sua tarefa de ajudar seus compatriotas aflitos.
II
Um dia, depois de ter
passado a noite inteira a sepultar os mortos, voltava para casa,
quando se recostou num muro para descansar. Ali adormeceu. Durante o
sono, ficou cego.
Impossibilitado de
trabalhar, vivia Tobias agora sustentado por sua mulher, que tecia
linho para manter o lar.
Nesse mísero estado,
continuou Tobias sempre fiel ao Senhor.
Um dia, chamou seu
filho que também se chamava Tobias e disse-lhe:
— Emprestei há muito
tempo dez moedas de prata a Gabel que mora na Média, bem longe
daqui. Eis o documento. Apresente-lho e diga-lhe que estamos na maior
miséria, e, se puder, envie-me o dinheiro. O caminho é áspero e
longo. Procure um amigo fiel que o possa guiar.
O moço Tobias saiu
logo à procura de alguém e encontrou outro moço, pronto para
partir para aquelas paragens.
Tobias ignorava que o
jovem era um anjo do Senhor, que se disfarçara para lhe servir de
companhia, e perguntou-lhe:
— Conhece o caminho
que conduz à Média?
— Oh! E muito!
Conheço bem o caminho de que fala e conheço também Gabel pois já
morei na casa dele.
Tobias recebeu a bênção
de seus pais, partiu com o anjo e andaram, andaram muito.
Com os pés doloridos e
inchados de tanto andar, Tobias parou à beira do Rio Tigre e
mergulhou os pés nas usa águas frias, mas um peixe monstruoso o
atacou.
— Segure-o pelas
guelras e puxe-o para fora da água! Disse-lhe o seu companheiro.
Tobias arrastou o peixe
para a margem do rio.
— Abra-o e tire-lhe o
fel, é ótimo remédio — recomendou-lhe, outra vez, o companheiro.
Os dois fizeram juntos
o trabalho, e tendo guardado com cuidado o fel, continuaram a viagem.
Chegando a uma cidade,
o anjo disse a Tobias:
— Aqui mora um
parente seu, que tem uma filha formosa e boa, que se chama Sara.
Peça-lhe em casamento a seus pais.
Tobias fez o que o anjo
lhe aconselhara.
Foi recebido com
alegria em asa de seu parente, que lhe deu hospedagem por muitos dias
e também lhe deu a filha em casamento.
Enquanto se celebravam
as festas de núpcias, o anjo continuou sozinho a viagem e recebeu o
dinheiro de Gabel.
Prolongando-se a
ausência de Tobias, por causa do casamento, seus pais se
inquietaram.
Muitas vezes ao dia,
sua mãe subia ao alto de um monte e alongava os olhos pelos caminhos
distantes, para ver se o descobria.
Finalmente, um dia,
avistou-o bem longe e correu a dar a notícia a seu marido.
O cão do velho casal
compreendeu a alegria de sua dona, e foi à sua frente, como se
quisesse dar ao pai a boa nova da vinda do filho.
Sacudia a cauda em
sinal de alegria, latindo de satisfação.
Por sua vez, o pai
também compreendeu a alegria do cão. Levantou-se e foi levado à
mão por um menino ao encontro do filho.
Abraçaram-se, chorando
de alegria.
Ao entrar em casa,
deram graças a Deus pelo retorno de Tobias e pelos benefícios
recebidos na viagem.
Só depois disso,
Tobias tirou o fel do peixe e passou-o nos olhos de seu pai, que
recobrou a vista no mesmo instante.
Após sete dias, chegou
Sara com sua comitiva. Vários camelos carregavam seus ricos
presentes.
Houve muitas festas. No
meio delas, Tobias contou aos convidados o bem que devia ao seu
companheiro de viagem. Quis oferecer-lhe, em sinal de agradecimento,
metade da riqueza que havia recebido de Sara, pelo seu casamento.
O anjo, nessa hora,
dando-se a conhecer, disse-lhe:
— Louve a Deus do céu
e da terra e agradeça-lhe a bondade que Ele usou para com você.
Quando seu pai sepultava os mortos e pedia com lágrimas a proteção
de Deus, era eu quem apresentava suas orações ao Senhor. O Senhor
mandou-me aqui para acudir ao velho Tobias, que nunca deixou de
acudir aos outros. Eu sou o anjo Rafael, um dos sete anjos que cercam
o Senhor.
Ficaram todos
assustados, ouvindo tais palavras.
Trêmulos, caíram como
os rostos no chão.
E o anjo disse:
— A paz seja com
vocês. Não tenham medo.
Dito isto o anjo
desapareceu. Então todos, prostrados no chão, bendizeram o Senhor.
Tobias viveu ainda
muitos anos santamente e, assim, viveram seu filho Tobias, sua nora e
todos os de sua geração.
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