terça-feira, 6 de maio de 2014

MERECE SER LEMBRADO II -- SEJA UM BANDEIRANTE, MENINO!


SEJA UM BANDEIRANTE, MENINO!

Lá vai a bandeira.
Parece uma cidade andando: centenas de pessoas, — homens, mulheres, crianças, velhos, negros, brancos, mestiços, índios escravizados, frades, nobres, bandidos, gente de toda a espécie. Vão armados, cada um com sua arma, até as crianças levam tambores e outros instrumentos de música. Uns vão a cavalo, outros a pé. Cães de caça, bois, carneiros, cabras, patos, galinhas, caminham também.
E lá vai a bandeira, matas adentro.
De repente, uma tribo de índios quer impedir a passagem.
Os tambores rufam. Todos pegam de suas armas, arcabuzes de pederneiras, espadas, flechas. Trava-se a luta e dominam a tribo.
Lá vai a bandeira.
Adiante uma serra, fechando o caminho: dão volta à serra.
De começo, estão em terra mais ou menos conhecida.
Dentro em pouco, tudo lhes é novo. Mas os astros e a bússola servem de orientação, porque têm um rumo a seguir e tomam cuidado para não se perderem. De vez em quando, fincam um marco, registram no roteiro um rio ou um monte, para não se perderem e para facilitarem a volta.
Acolá surge um rio imenso, que não é possível atravessar a vau: cortam árvores, fazem canoas e atravessam o rio.
E lá vai a bandeira.
Caminha. Caminha. Caminha.
Aqui, ali ou acolá hão de encontrar fortuna: seja uma mina de ouro, uma tribo de índios a escravizar, ou — quem sabe? — a Serra Resplandecente das Esmeraldas!
E lá vai a bandeira por lugares nunca pisados.
Um dia, o alimento escasseia.
A bandeira acampa. Levantam-se choupanas. Plantam-se roças de milho, arroz, feijão e mandioca.
Espera-se a colheita e, enquanto isso, exploram-se os arredores do acampamento.
Está criado, assim, um arraial em plena mata — o arraial que é a semente da cidade. Está, pois, plantada a cidade no meio da mata.
Faz-se a colheita e, outra vez, lá vai a bandeira. Mas não vão todos. Ficam alguns no arraial.
E agora? Para onde ir a bandeira?
O chefe olha os papéis, os seus mapas, olha para as estrelas, olha a bússola, conversa com o seu conselho e marca a direção a seguir.
E lá vai a bandeira.
Sobe montanhas, corta o campo, vara o matagal, rompe os chapadões, atravessa os rios.
E lá vai a bandeira.
Caminha. Caminha. Caminha.
Aqui agoniza um bandeirante. Param. Acode o padre, para ouvi-lo em confissão. Acodem as testemunhas para lhe recolherem as últimas vontades.
Morre.
Os companheiros abrem-lhe uma cova. Põem-lhe uma cruz á cabeceira.
E lá vai a bandeira.
Brigas, crimes, ódios, intrigas. Um conspira com alguns companheiros contra o chefe. Este os julga e dá a sentença de morte.
A bandeira continua. Passam os dias, semanas, meses. Passam os anos e a caminhada não tem fim.
O bandeirante era um bravo e um forte. Tinha uma alma corajosa e confiante: traçava um plano e sabia realiza-lo, sem medir sacrifícios.
Bandeiras atrás de bandeiras cruzaram o nosso território de todos os lados. Transpuseram as linhas de nossas fronteiras com as terras de Espanha, e, assim, aumentaram extraordinariamente o nosso território.
Cada passo desses fortes representava um pedaço a mais para nossa Pátria. Os seus pés foram criadores de bens, de arraiais, de cidades.
Por isso, de todos eles podemos dizer o que de Fernão Dias disse Olavo Bilac, nos mais belos de seus versos:
“Violador de sertões! Plantador de cidades!
Dentro do coração da Pátria viverás”.
Sim, meus meninos. Os bandeirantes, que rasgaram os sertões e que plantaram cidades, vivem no coração da pátria.
Sejam bandeirantes como eles, abridores de caminhos, corajosos, destemidos, incansáveis. Façam o Brasil crescer, não já em território, porque o temos vastíssimo, mas nas ciências e nas artes, na indústria e no comércio, na agricultura e na pecuária, no direito e na santidade.
Assim, os homens de todo o mundo hão-de-procurar o Brasil à busca de uma vida melhor.
E vocês viverão, como os bandeirantes, eternamente, no coração da pátria.

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