SEJA UM BANDEIRANTE,
MENINO!
Lá vai a bandeira.
Parece uma cidade
andando: centenas de pessoas, — homens, mulheres, crianças,
velhos, negros, brancos, mestiços, índios escravizados, frades,
nobres, bandidos, gente de toda a espécie. Vão armados, cada um com
sua arma, até as crianças levam tambores e outros instrumentos de
música. Uns vão a cavalo, outros a pé. Cães de caça, bois,
carneiros, cabras, patos, galinhas, caminham também.
E lá vai a bandeira,
matas adentro.
De repente, uma tribo
de índios quer impedir a passagem.
Os tambores rufam.
Todos pegam de suas armas, arcabuzes de pederneiras, espadas,
flechas. Trava-se a luta e dominam a tribo.
Lá vai a bandeira.
Adiante uma serra,
fechando o caminho: dão volta à serra.
De começo, estão em
terra mais ou menos conhecida.
Dentro em pouco, tudo
lhes é novo. Mas os astros e a bússola servem de orientação,
porque têm um rumo a seguir e tomam cuidado para não se perderem.
De vez em quando, fincam um marco, registram no roteiro um rio ou um
monte, para não se perderem e para facilitarem a volta.
Acolá surge um rio
imenso, que não é possível atravessar a vau: cortam árvores,
fazem canoas e atravessam o rio.
E lá vai a bandeira.
Caminha. Caminha.
Caminha.
Aqui, ali ou acolá hão
de encontrar fortuna: seja uma mina de ouro, uma tribo de índios a
escravizar, ou — quem sabe? — a Serra Resplandecente das
Esmeraldas!
E lá vai a bandeira
por lugares nunca pisados.
Um dia, o alimento
escasseia.
A bandeira acampa.
Levantam-se choupanas. Plantam-se roças de milho, arroz, feijão e
mandioca.
Espera-se a colheita e,
enquanto isso, exploram-se os arredores do acampamento.
Está criado, assim, um
arraial em plena mata — o arraial que é a semente da cidade. Está,
pois, plantada a cidade no meio da mata.
Faz-se a colheita e,
outra vez, lá vai a bandeira. Mas não vão todos. Ficam alguns no
arraial.
E agora? Para onde ir a
bandeira?
O chefe olha os papéis,
os seus mapas, olha para as estrelas, olha a bússola, conversa com o
seu conselho e marca a direção a seguir.
E lá vai a bandeira.
Sobe montanhas, corta o
campo, vara o matagal, rompe os chapadões, atravessa os rios.
E lá vai a bandeira.
Caminha. Caminha.
Caminha.
Aqui agoniza um
bandeirante. Param. Acode o padre, para ouvi-lo em confissão. Acodem
as testemunhas para lhe recolherem as últimas vontades.
Morre.
Os companheiros
abrem-lhe uma cova. Põem-lhe uma cruz á cabeceira.
E lá vai a bandeira.
Brigas, crimes, ódios,
intrigas. Um conspira com alguns companheiros contra o chefe. Este os
julga e dá a sentença de morte.
A bandeira continua.
Passam os dias, semanas, meses. Passam os anos e a caminhada não tem
fim.
O bandeirante era um
bravo e um forte. Tinha uma alma corajosa e confiante: traçava um
plano e sabia realiza-lo, sem medir sacrifícios.
Bandeiras atrás de
bandeiras cruzaram o nosso território de todos os lados.
Transpuseram as linhas de nossas fronteiras com as terras de Espanha,
e, assim, aumentaram extraordinariamente o nosso território.
Cada passo desses
fortes representava um pedaço a mais para nossa Pátria. Os seus pés
foram criadores de bens, de arraiais, de cidades.
Por isso, de todos eles
podemos dizer o que de Fernão Dias disse Olavo Bilac, nos mais belos
de seus versos:
“Violador de sertões!
Plantador de cidades!
Dentro do coração da
Pátria viverás”.
Sim, meus meninos. Os
bandeirantes, que rasgaram os sertões e que plantaram cidades, vivem
no coração da pátria.
Sejam bandeirantes como
eles, abridores de caminhos, corajosos, destemidos, incansáveis.
Façam o Brasil crescer, não já em território, porque o temos
vastíssimo, mas nas ciências e nas artes, na indústria e no
comércio, na agricultura e na pecuária, no direito e na santidade.
Assim, os homens de
todo o mundo hão-de-procurar o Brasil à busca de uma vida melhor.
E vocês viverão, como
os bandeirantes, eternamente, no coração da pátria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário