quinta-feira, 1 de maio de 2014

MERECE SER LEMBRADO II -- ÂNDROCLO E O LEÃO


ÂNDROCLO E O LEÃO

Ândroclo era um escravo romano.
Passara uma noite remexendo-se na enxerga, esperando a hora mais escura para fugir. E fugiu.
Deixou Roma, saiu correndo pelas estradas, embrenhou-se no mato.
Passou dias de angústia e fome, ora escondendo-se atrás de um tronco, ora numa fenda no chão.
Uma tarde, sentindo-se muito fraco e doente, entrou numa caverna e deitou-se, esperando a morte.
Adormeceu profundamente.
Alta noite foi despertado por um ruído de passos de animal e, logo depois ouviu um rígido tremendo que abalou as paredes da caverna. Os passos se aproximaram e Ândroclo percebeu que um animal se abrigava a seu lado.
Se estava certo de morrer, que lhe importava que fosse dessa ou daquela maneira, comido por este o aquele animal?
Ândroclo arredou-se para o cantinho da caverna, resolvido a dormir. Não conseguiu, porque o animal pusera-se a gemer tristemente.
Era lua nova e a noite, escura, muito escura, não lhe permitia enxergar coisa alguma ao redor.
Esperou a madrugada e — oh! Que surpresa! — notou que o seu companheiro de caverna era um leão.
Ândroclo, porém, não se assustou. Aproximou-se dele e examinou-o. virou e revirou sua pata direita de onde escorria sangue. Verificou que um enorme espinho de palmeira estava encravado entre as unhas.
Enquanto isso, o leão, com a cabeça apoiada sobre a pata sã, gemia mansamente.
Ândroclo procurou um jeito de arrancar o espinho.
Não teve outro remédio: pegou com seu rijos dentes a cabeça do espinho e, com um puxão, arrancou-o.
O leão sentiu-se aliviado, porque, à tarde, trouxe uma caça que colocou a seus pés.
Viveram os dois alguns dias, nessa boa camaradagem, o que fez Ândroclo começar a achar a vida um pouco melhor.
Um dia, porém, dois soldados de Roma saíram à procura do escravo fugido. Percebendo suas pegadas, entraram na caverna e o algemaram.
Dessa maneira voltou Ândroclo a Roma.
Era lei, naquele tempo, que o escravo fugido devia lutar no circo com um leão faminto. Marcou-se o dia e preparou-se a luta. Milhares de pessoas enchiam o circo que tinha um aspecto festivo. Um guarda deu sinal, e Ândroclo entrou na arena, enquanto, do outro lado, um enorme leão escancarava as fauces.
Ândroclo olhou ao redor. Não viu piedade nos olhos de nenhum assistente.
Cruzou os braços e esperou a fera.
O leão deu um rugido que fez a platéia estremecer de medo e, vendo Ândroclo, se atirou de encontro a ele. De repente, estacou. Olhou Ândroclo, abanou a cauda e, abaixando a cabeça, pôs-se a lamber os seus pés. Reconheceram-se: era o leão da floresta que encontrava ali o seu salvador.
Ândroclo sentiu que o coração do leão possuía mais bondade e amor que o coração dos homens, e abraçou-o comovidamente.
A multidão, de pé e em gritos, exigia uma explicação.
Ândroclo contou sua história:
— Não encontrei amor entre os homens, e este animal feroz e temível foi o único ser que me deu um pouco de afeição e amizade, como prova de gratidão. Somos amigos.
O povo, comovido com a história do escravo, gritou:
— Liberdade para o escravo e para o leão!
Ândroclo foi declarado livre.
Ele e seu amigo leão viveram inseparáveis, muitos anos em Roma. E viveram felizes.





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