ÂNDROCLO E O LEÃO
Ândroclo era um
escravo romano.
Passara uma noite
remexendo-se na enxerga, esperando a hora mais escura para fugir. E
fugiu.
Deixou Roma, saiu
correndo pelas estradas, embrenhou-se no mato.
Passou dias de angústia
e fome, ora escondendo-se atrás de um tronco, ora numa fenda no
chão.
Uma tarde, sentindo-se
muito fraco e doente, entrou numa caverna e deitou-se, esperando a
morte.
Adormeceu
profundamente.
Alta noite foi
despertado por um ruído de passos de animal e, logo depois ouviu um
rígido tremendo que abalou as paredes da caverna. Os passos se
aproximaram e Ândroclo percebeu que um animal se abrigava a seu
lado.
Se estava certo de
morrer, que lhe importava que fosse dessa ou daquela maneira, comido
por este o aquele animal?
Ândroclo arredou-se
para o cantinho da caverna, resolvido a dormir. Não conseguiu,
porque o animal pusera-se a gemer tristemente.
Era lua nova e a noite,
escura, muito escura, não lhe permitia enxergar coisa alguma ao
redor.
Esperou a madrugada e —
oh! Que surpresa! — notou que o seu companheiro de caverna era um
leão.
Ândroclo, porém, não
se assustou. Aproximou-se dele e examinou-o. virou e revirou sua pata
direita de onde escorria sangue. Verificou que um enorme espinho de
palmeira estava encravado entre as unhas.
Enquanto isso, o leão,
com a cabeça apoiada sobre a pata sã, gemia mansamente.
Ândroclo procurou um
jeito de arrancar o espinho.
Não teve outro
remédio: pegou com seu rijos dentes a cabeça do espinho e, com um
puxão, arrancou-o.
O leão sentiu-se
aliviado, porque, à tarde, trouxe uma caça que colocou a seus pés.
Viveram os dois alguns
dias, nessa boa camaradagem, o que fez Ândroclo começar a achar a
vida um pouco melhor.
Um dia, porém, dois
soldados de Roma saíram à procura do escravo fugido. Percebendo
suas pegadas, entraram na caverna e o algemaram.
Dessa maneira voltou
Ândroclo a Roma.
Era lei, naquele tempo,
que o escravo fugido devia lutar no circo com um leão faminto.
Marcou-se o dia e preparou-se a luta. Milhares de pessoas enchiam o
circo que tinha um aspecto festivo. Um guarda deu sinal, e Ândroclo
entrou na arena, enquanto, do outro lado, um enorme leão escancarava
as fauces.
Ândroclo olhou ao
redor. Não viu piedade nos olhos de nenhum assistente.
Cruzou os braços e
esperou a fera.
O leão deu um rugido
que fez a platéia estremecer de medo e, vendo Ândroclo, se atirou
de encontro a ele. De repente, estacou. Olhou Ândroclo, abanou a
cauda e, abaixando a cabeça, pôs-se a lamber os seus pés.
Reconheceram-se: era o leão da floresta que encontrava ali o seu
salvador.
Ândroclo sentiu que o
coração do leão possuía mais bondade e amor que o coração dos
homens, e abraçou-o comovidamente.
A multidão, de pé e
em gritos, exigia uma explicação.
Ândroclo contou sua
história:
— Não encontrei amor
entre os homens, e este animal feroz e temível foi o único ser que
me deu um pouco de afeição e amizade, como prova de gratidão.
Somos amigos.
O povo, comovido com a
história do escravo, gritou:
— Liberdade para o
escravo e para o leão!
Ândroclo foi declarado
livre.
Ele e seu amigo leão
viveram inseparáveis, muitos anos em Roma. E viveram felizes.
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