ARGOS, O CÃO DE
ULISSES
Ulisses, rei de Ítaca,
criou um belo cão. Logo que cresceu, forte e ágil, acompanhava o
patrão, como ma sombra. Passeava com ele, viajava com ele, ia com
ele à caça, ajudando-o a caçar.
Um dia, porém, Ulisses
partiu para a guerra e ficou longe de seu reino tanto tempo que
ninguém mais acreditava que estivesse vivo.
Mas voltou.
Quando partiu era moço,
belo e vigoroso; ao voltar, depois de muitos anos e muita luta, vinha
envelhecido e desfigurado.
Apoiado a um bastão
cheio de nós, percorreu os velhos caminhos do seu reino, sem que
ninguém o conhecesse. Passou pelos campos férteis que rodeavam o
seu palácio, cortou as avenidas de seu parque, viu, ao longe, nas
encostas dos montes, o seu gado luzidio. Esteve com os seus pastores,
e estes não o reconheceram. Encontrou-se com os seus velhos
caseiros, que quiseram deter-lhe os passos, pensando que ele fosse um
vagabundo.
Chegou até a porta de
sua casa e viu que devia lá haver alguma festa,de tal forma estava
iluminada.
De repente, ouviu um
latido: era o seu cão que, reconhecendo-o, tentou levantar-se para
ir-lhe ao encontro e não pôde.
Comovido, Ulisses
perguntou a um caseiro:
— Que cão é esse?
Deveria ser muito belo quando mais novo.
— É o cão de
Ulisses — respondeu-lhe o caseiro — o nosso bom e sábio rei, que
partiu para a guerra de Tróia e cujas proezas todos os gregos sabem
de cor. Anda por esse mundo, se ainda não morreu.
Ulisses, então,
dirigiu-se para o velho animal:
— Argos! Argos!
Ouvindo a voz de
Ulisses, Argos levantou de novo a cabeça. Encarou Ulisses. Revelou
nos olhos uma grande alegria. Tentou levantar-se e não o conseguiu.
Recebeu a última carícia de seu dono e morreu.
— Ah! Cão fiel! —
exclamou Ulisses. Entre tantos homens, que tanto me estimavam fui um
desconhecido. Só tu Argos, só tu reconheceste o teu amigo.
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