A GALINHA DE TIA
MICAELA
Era noite de mutirão.
Doze ou quinze homens
trabalhavam ao redor de enormes lampiões.
Na cozinha, tia Micaela
tirava as primeiras fornadas de broa de fubá, e o cheiro de café
enchia as salas até as varandas.
O vozerio dos moços
misturavam com o estalido seco das palhinhas dos cestos que as
mulheres teciam num canto.
No meio deste
movimento, Joaquim Sara levou as mãos ao bolso, apalpou-o, olhou o
chão ao redor de si e exclamou:
— Meu relógio! Perdi
o meu relógio. Ainda há pouco, uns dez minutos, estava aqui no meu
bolso.
Todos se levantaram e
puseram-se a procurar no chão, entre as palhinhas, em cima das
mesas.
Alguns olhavam para
Colatino, conhecido como mentiroso e desonesto. Impossível achar o
ladrão!
Mas lá veio tia
Micaela com uma galinha sob sua blusa.
Era uma galinha preta,
com machas brancas no peito, de olhos vivos e brilhantes que lançavam
reflexos vermelhos à luz trêmula dos lampiões.
Tia Micaela
pachorrentamente pegou um tamborete e foi assentar-se no canto mais
escuro da sala.
Colocando a galinha no
colo, pediu que todas as pessoas presentes fizessem fila e que, uma
após outra, passassem a mão nas costas da galinha.
Todos, calados, olhavam
uns para os outros, como se quisessem indagar por que a galinha havia
de apontar o ladrão. Dar-se-ia ocaso de a galinha estar enfeitiçada
e de se por a cantar, quando sentisse sobre as suas costas a mão do
ladrão?
Começou o desfile.
Cada um, ao pôr a mão
sobre a galinha, parava de respirar, com medo de que ela viesse a
gritar.
Chegou a vez de
Colatino.
Pálido e trêmulo.
Colatino fez o mesmo que os outros. Mas nada!
Nem para ele, nem para
ninguém a galinha abriu o bico.
Afinal, a tia Micaela
pôs a galinha no cestinho pachorrentamente, foi buscar uma candeia.
Voltou e, chamando
outra vez um por um, começou a examinar a palma das mãos.
Todas estavam pretas,
menos a de Colatino que revelou, assim, sua falta.
Tia Micaela havia
passado nas costas da galinha fuligem engordurada, para que cada mão
se tornasse preta ao passar sobre ela.
Colatino que não tinha
a consciência em paz, fingiu apenas passar a mão, mas não tocou
nas penas da galinha.
Ah! Quem pensa que
esconde uma falta?
Nenhum comentário:
Postar um comentário