A CRUZ DA ESTRADA
Castro Alves
Caminheiro que passas
pela estrada,
Seguindo pelo rumo do
sertão,
Quando vires a cruz
abandonada,
Deixa-a em paz, dormir
na solidão.
Que vale o ramo de
alecrim cheiroso
Que lhe atiras nos
braços ao passar?
Vai espantar o bando
buliçoso
Das borboletas, que lá
vão pousar.
É de escravo humilde
sepultura,
Foi-lhe a vida o velar
de insônia atroz:
Deixa-o dormir no leito
de verdura
Que o Senhor, entre as
relvas, lhe compôs.
Não precisa de ti. O
gaturamo
Geme por ele à tarde
no sertão:
E a juriti, do taquaral
no ramo,
Povoa, soluçando, a
solidão.
Entre os braços da
cruz, a parasita,
Num abraço de flores,
se prendeu;
Chora orvalhos a grama,
que palpita,
E acende o vaga-lume o
facho seu.
Quando à noite o
silêncio habita as matas,
A sepultura fala a sós
com Deus...
Prende-se a voz na boca
das cascatas
E as asas de ouro aos
astros lá nos céus.
Caminheiro! do escravo
desgraçado
O sono agora mesmo
começou!
Não lhe toques no
leito de noivado,
Há pouco a liberdade o
desposou.
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