terça-feira, 15 de abril de 2014

A ação docente e a diversidade humana


SILVA, Samira Fayez Kfouri da. A ação docente e a diversidade humana. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010.

Livro da UNOPAR. Tomei emprestado à aluna de pedagogia.
Li em 2011.

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A escola é uma instituição construída historicamente no contexto da modernidade considerada como mediação privilegiada para desenvolver uma função social fundamental: transmitir cultura, oferecer às novas gerações o que de mais significativo culturalmente produziu a humanidade.

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Essa nova configuração das escolas expressa-se em diferentes manifestações de mal-estar, em tensões e conflitos denunciados tanto por educadores (as) como por estudantes. É o próprio horizonte utópico da escola que entra em questão: os desafios do mundo atual denunciam a fragilidade e a insuficiência dos ideais “modernos” e passam a exigir e suscitar novas interrogações e buscas. A escola, nesse contexto, mais que a transmissora da cultura, da “verdadeira cultura”, passa a ser concebida como um espaço de cruzamento, conflitos e diálogos entre diferentes culturas.

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Em vez de preservar uma tradição monocultural, a escola está sendo chamada a lidar com pluralidade de culturas, reconhecer os diferentes sujeitos socioculturais presentes em seu contexto, abrir espaços para a manifestação e valorização das diferenças. É essa, a nosso ver, a questão hoje posta. A escola sempre teve dificuldade em lidar com a pluralidade e a diferença. Tende a silenciá-las e neutralizá-las. Sente-se mais confortável com homogeneização e a padronização. No entanto, abrir espaços para a diversidade, a diferença, e a para o cruzamento de culturas constitui o grande desafio que está chamada a enfrentar.

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Num trabalho educativo intercultural é preciso conceber que o valor está na diferença, concebida, respeitada e entendida como produto da história humana e não na igualdade produzida.

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Por isso, falar sobre a diversidade cultural não diz respeito apenas ao reconhecimento do outro. Significa pensar a relação entre o eu e o outro. Aí está o encantamento da discussão sobre a diversidade. Ao considerarmos o outro, o diferente, não deixamos de focar a atenção sobre o nosso grupo, a nossa história, o nosso povo. Ou seja, falamos o tempo inteiro em semelhanças e diferenças.

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A escola possui a vantagem de ser uma das instituições sociais em que é possível o encontro das diferentes presenças. Ela é também um espaço sociocultural marcado por símbolos, rituais, crenças, culturas e valores diversos. Essas possibilidades do espaço educativo escolar precisam ser vistas na sua riqueza, no seu fascínio. Sendo assim a questão da diversidade cultural na escola deveria ser vista no que de mais fascinante ela proporciona às relações humanas.


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A educação é um processo histórico universal que procura reafirmar a condição do homem como ser que se distingue de todos os outros, no conjunto da natureza. Na interação com outros homens, com o meio e na reflexão sobre a própria vida, este homem universal tem como condição e produto de sua “natureza humana”, a capacidade de criar símbolos e de transmitir o conhecimento produzido e acumulado aos seus descendentes. Disso decorre que a educação é expressão do social e da cultura que caracteriza todos os seres humanos e, por ser histórica transforma-se ao longo do tempo. Nessa perspectiva, processo educacional que inclui mecanismos de socialização, como a educação escolar , produção cultural e “natureza” social humanos são experiências coincidentes.

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A declaração [de Salamanca] recomenda que as escolas se adaptem às necessidades dos alunos independentemente de quais sejam suas condições físicas, sociais e lingüísticas, incluindo as crianças que vivem nas ruas, que levam nômade, as minorias étnicas, culturais e sociais, além das que se desenvolvem à margem da sociedade.

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Portanto, não é só colocar todos e todas em escolas públicas e deixar que os docentes se encarreguem de educar. É preciso todo um movimento social, de todos os seguimentos, para que se crie esta rede de apoio necessária para se promover a educação inclusiva. É preciso exigir maiores investimentos e políticas adequadas, para não se produzir uma exclusão social ainda maior.

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Educação inclusiva não quer dizer somente aceitar a diferença, mas também potencializar os sujeitos para as transformações sociais. Envolve a cultura da diversidade. Ir além dos muros da escola e criar condições para que todos tenham, por exemplo, acesso à Língua Brasileira de Sinais desde a Educação Infantil. O mesmo valendo para o código Braille.

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A identidade, portanto, aquilo que me torna único no mundo, a representação que tenho de mim, é relacional. A autora [Woodward (2001)] continua afirmando que a identidade é marcada por símbolos construídos socialmente. Aquilo que usamos e como usamos nos identifica. Nossa história é o mais marcante elemento firmador de nossa identidade.

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A identidade se constrói nos vários espaços e com as várias pessoas com as quais interagimos.

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O sujeito assume identidades diversas, de acordo com as necessidades impostas pelo meio e por seu eu, em diferentes momentos e espaços, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Acabam convivendo dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas e por nós mesmos, continuamente questionadas. Se, por vezes, sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte, tal sentimento é apenas porque construímos uma cômoda história sobre nós mesmos ou uma confortadora “narrativa do eu”.
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Podemos concluir este capítulo afirmando que as identidades se formam nas inter-relações e uma escola que pretende forma identidades saudáveis deve investir no trabalho com a diversidade, valorizando-a e explicando-a. E uma dica é que os docentes comecem por si mesmos a rever seus conceitos e busquem estudar e aprofundar seus conhecimentos sobre como as identidades, as representações e as diferenças se produzem.

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Outros alunos rompem o jogo pela violência que aparece como o único meio de recusar a imagem negativa de si, provocada por seu insucesso e sua liberdade. Os alunos invalidam o jogo escolar, agredindo os professores e transformando-os em inimigos. A violência possibilita salvar sua dignidade e também engrandecer seu autor perante o grupo de iguais.

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O tema do respeito introduz uma mudança essencial na natureza dos princípios de justiça. A igualdade de todos é uma norma universal, uma ficção, um postulado que não tem necessidade de ser fundamentado empiricamente: as raças são iguais, os sexos são iguais, os seres humanos são iguais por princípio. As desigualdades funcionais do mérito são também de natureza objetiva e universal; elas são a sanção dos mecanismos impessoais do mercado de trabalho e dos concursos. E mesmo sabendo que essas provas são sempre “um jogo de cartas marcadas”, sabemos também que permanecem objetivas e justas em seu princípio, como o implica o tema da igualdade de oportunidades. Ao contrário, o tema do respeito é necessariamente indexado às particularidades individuais, naturais ou reivindicadas, exigindo o reconhecimento de características e de experiências específicas.

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Não haverá educação inclusiva se não houver escola inclusiva, currículo inclusivo, docentes inclusivos e toda uma sociedade predisposta a ter na diferença entre as pessoas possibilidades de enriquecimento cultural, e não uma ameaça a suas identidades.

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Sabemos que o ser humano é processo e produto das relações sociais, e que se identifica como protagonista dos processos humanos os quais transformam os modos de pensar, agir, sentir e ser.





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