SILVA,
Samira Fayez Kfouri da. A
ação docente e a diversidade humana.
São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010.
Livro
da UNOPAR.
Tomei emprestado à aluna de pedagogia.
Li
em 2011.
9
A
escola é uma instituição construída historicamente no contexto da
modernidade considerada como mediação privilegiada para desenvolver
uma função social fundamental: transmitir cultura, oferecer às
novas gerações o que de mais significativo culturalmente produziu a
humanidade.
10
Essa
nova configuração das escolas expressa-se em diferentes
manifestações de mal-estar, em tensões e conflitos denunciados
tanto por educadores (as) como por estudantes. É
o próprio horizonte utópico da escola que entra em questão: os
desafios do mundo atual denunciam a fragilidade e a insuficiência
dos ideais “modernos” e passam a exigir e suscitar novas
interrogações e buscas. A escola, nesse contexto, mais que a
transmissora da cultura, da “verdadeira cultura”, passa a ser
concebida como um espaço de cruzamento, conflitos e diálogos entre
diferentes culturas.
11
Em
vez de preservar uma tradição monocultural, a escola está sendo
chamada a lidar com pluralidade de culturas, reconhecer os diferentes
sujeitos socioculturais presentes em seu contexto, abrir espaços
para a manifestação e valorização das diferenças. É essa, a
nosso ver, a questão hoje posta. A
escola sempre teve dificuldade em lidar com a pluralidade e a
diferença. Tende a silenciá-las e neutralizá-las. Sente-se mais
confortável com homogeneização e a padronização. No entanto,
abrir espaços para a diversidade, a diferença, e a para o
cruzamento de culturas constitui o grande desafio que está chamada a
enfrentar.
25
Num
trabalho educativo intercultural é preciso conceber que o valor está
na diferença, concebida, respeitada e entendida como produto da
história humana e não na igualdade produzida.
50
Por
isso, falar sobre a diversidade cultural não diz respeito apenas ao
reconhecimento do outro. Significa pensar a relação entre o eu e o
outro. Aí está o encantamento da discussão sobre a diversidade. Ao
considerarmos o outro, o diferente, não deixamos de focar a atenção
sobre o nosso grupo, a nossa história, o nosso povo. Ou seja,
falamos o tempo inteiro em semelhanças e diferenças.
53
A
escola possui a vantagem de ser uma das instituições sociais em que
é possível o encontro das diferentes presenças. Ela é também um
espaço sociocultural marcado por símbolos, rituais, crenças,
culturas e valores diversos. Essas possibilidades do espaço
educativo escolar precisam ser vistas na sua riqueza, no seu
fascínio. Sendo
assim a questão da diversidade cultural na escola deveria ser vista
no que de mais fascinante ela proporciona às relações humanas.
65
A
educação é um processo histórico universal que procura reafirmar
a condição do homem como ser que se distingue de todos os outros,
no conjunto da natureza.
Na interação com outros homens, com o meio e na reflexão sobre a
própria vida, este homem universal tem como condição e produto de
sua “natureza humana”, a capacidade de criar símbolos e de
transmitir o conhecimento produzido e acumulado aos seus
descendentes.
Disso decorre que a educação é expressão do social e da cultura
que caracteriza todos os seres humanos e, por ser histórica
transforma-se ao longo do tempo. Nessa perspectiva, processo
educacional ―
que inclui mecanismos de socialização, como a educação escolar
―,
produção cultural e “natureza” social humanos são experiências
coincidentes.
69
A
declaração [de Salamanca] recomenda que as escolas se adaptem às
necessidades dos alunos independentemente de quais sejam suas
condições físicas, sociais e lingüísticas, incluindo as crianças
que vivem nas ruas, que levam nômade, as minorias étnicas,
culturais e sociais, além das que se desenvolvem à margem da
sociedade.
71
Portanto,
não é só colocar todos e todas em escolas públicas e deixar que
os docentes se encarreguem de educar. É preciso todo um movimento
social, de todos os seguimentos, para que se crie esta rede de apoio
necessária para se promover a educação inclusiva. É preciso
exigir maiores investimentos e políticas adequadas, para não se
produzir uma exclusão social ainda maior.
72
Educação
inclusiva não quer dizer somente aceitar a diferença, mas também
potencializar os sujeitos para as transformações sociais. Envolve a
cultura da diversidade. Ir além dos muros da escola e criar
condições para que todos tenham, por exemplo, acesso à Língua
Brasileira de Sinais desde a Educação Infantil. O mesmo valendo
para o código Braille.
85
A
identidade, portanto, aquilo que me torna único no mundo, a
representação que tenho de mim, é relacional. A autora [Woodward
(2001)]
continua afirmando que a identidade é marcada por símbolos
construídos socialmente. Aquilo que usamos e como usamos nos
identifica. Nossa história é o mais marcante elemento firmador de
nossa identidade.
86
A
identidade se constrói nos vários espaços e com as várias pessoas
com as quais interagimos.
87
O
sujeito assume identidades diversas, de acordo com as necessidades
impostas pelo meio e por seu eu, em diferentes momentos e espaços,
identidades que não são unificadas ao redor de um “eu”
coerente. Acabam convivendo dentro de nós há identidades
contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que
nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas e por
nós mesmos, continuamente questionadas. Se, por vezes, sentimos que
temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte, tal
sentimento é apenas porque construímos uma cômoda história sobre
nós mesmos ou uma confortadora “narrativa do eu”.
90
Podemos
concluir este capítulo afirmando que as identidades se formam nas
inter-relações e uma escola que pretende forma identidades
saudáveis deve investir no trabalho com a diversidade, valorizando-a
e explicando-a. E uma dica é que os docentes comecem por si mesmos a
rever seus conceitos e busquem estudar e aprofundar seus
conhecimentos sobre como as identidades, as representações e as
diferenças se produzem.
104
Outros
alunos rompem o jogo pela violência que aparece como o único meio
de recusar a imagem negativa de si, provocada por seu insucesso e sua
liberdade. Os alunos invalidam o jogo escolar, agredindo os
professores e transformando-os em inimigos. A violência possibilita
salvar sua dignidade e também engrandecer seu autor perante o grupo
de iguais.
105
O
tema do respeito introduz uma mudança essencial na natureza dos
princípios de justiça. A igualdade de todos é uma norma universal,
uma ficção, um postulado que não tem necessidade de ser
fundamentado empiricamente: as raças são iguais, os sexos são
iguais, os seres humanos são iguais por princípio. As desigualdades
funcionais
do mérito são também de natureza objetiva e universal; elas são a
sanção dos mecanismos impessoais do mercado de trabalho e dos
concursos. E mesmo sabendo que essas provas são sempre “um jogo de
cartas marcadas”, sabemos também que permanecem objetivas e justas
em seu princípio, como o implica o tema da igualdade de
oportunidades. Ao contrário, o tema do respeito é necessariamente
indexado às particularidades individuais, naturais ou reivindicadas,
exigindo o reconhecimento de características e de experiências
específicas.
138
Não
haverá educação inclusiva se não houver escola inclusiva,
currículo inclusivo, docentes inclusivos e toda uma sociedade
predisposta a ter na diferença entre as pessoas possibilidades de
enriquecimento cultural, e não uma ameaça a suas identidades.
155
Sabemos
que o ser humano é processo e produto das relações sociais, e que
se identifica como protagonista dos processos humanos os quais
transformam os modos de pensar, agir, sentir e ser.
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