sábado, 5 de abril de 2014

MERECE SER LEMBRADO 7


AS DUAS AMIGAS

Era um vez um duque que governava uma província; o irmão dele, mais moço, derrubou-o do trono e o exilou para uma floresta longínqua.
O usurpador tinha uma filha chamada Raquel e para que não ficasse só, deu-lhe para companheira a sua prima Eglantina, filha do duque exilado.
Raquel procurava consolara a prima da injustiça feita ao seu pai destronado; ambas eram muito amigas e não compartilhavam os desentendimentos dos seus progenitores.
Por isso, passando os braços ao pescoço da amiga, convidou-a para assistir a um torneio onde haveria um desafio de luta entre um moço desconhecido e um atleta russo, que já tinha vencido e morto muitos adversários. Era tão forte que matava um boi, só com um soco.
O duque Roberto — o usurpador, quando as moças lhe apareceram, disse à filha:
— Raquel, se falares ao moço que se vai bater no torneio, dize-lhe que desista de tão desigual luta. Tenho pena dele, pois é muito jovem.
Tendo ele vindo apresentar suas homenagens às duas damas, Raquel pediu que não lutasse, mas ele redargüiu:
— Sinto recusar alguma coisa a tão nobres senhoras, mas se eu morrer o mundo não perde nada.
Não tenho amigos nem quem me lamente.
Disse isto de tal modo que as duas entristeceram, principalmente Eglantina que não escondeu a simpatia pelo moço.
A luta teve um desenlace inesperado. O jovem campeão que se chamava Rolando atacou energicamente o atleta e o deitou várias vezes ao solo até que conseguiu pô-lo com as duas espadas por terra. Completamente exausto de forças e gravemente ferido.
O duque Roberto — o usurpador, — que assistia à festa mandou chamar o vencedor e perguntou-lhe o nome.
— Chamo-me Rolando de Mão Forte, filho do Conde Gustavo de Mão Forte, morto na última guerra.
Este conde fora amigo do pai de Eglantina e esta exultou por saber isso enquanto que o duque Roberto se aborrecia por ser filho de um partidário de seu irmão destronado.
Vendo que o duque tivera má impressão, o moço ficou triste, mas em compensação Eglantina apertou-lhe as mãos, dizendo que tinha prazer em ver salvo o filho de um valente companheiro de seu pai.
Tais palavras desagradaram ao duque que já andava aborrecido de Eglantina e de ver que o seu irmão destronado tinha amigos dedicados entre o povo e a nobreza.
Assim que chegou do torneio o rancoroso duque, entrou como um furioso nos aposentos de Eglantina e Raquel e deu ordem à sobrinha de se ir embora, para junto de seu pai desterrado.
Debalde Raquel pediu; o duque foi inflexível. Ela lembrou que Eglantina era sua amiga de infância, boa e leal, mas o duque lhe declarou, em tom firme:
— Ela irá porque é uma fingida e como é bonita julga ser mais que tu, minha filha. Não quero ver essa falsa criatura que está conspirando com os meus inimigos.
Felizmente, o conde Rolando, desconfiado de mau acolhimento desaparecera debalde os guardas do duque o procuraram par o encerrar no cárcere.
Vendo que o pai não revogaria a decisão, Raquel resolveu acompanhar Eglantina. Disfarçaram-se em fidalgos pobres, mas a prima de Raquel ia com trajes masculinos. Com os cabelos cortados e o gorro parecia mesmo um gentil mancebo. Levavam, costurados dentro das roupas, muitas pedras preciosas e bastante dinheiro nas algibeiras.
A viagem foi cheia de sustos pois o duque mandou procurar as duas fugitvas. Atravessaram rios e bosques, e estavam muito fatigadas, quando encontraram um pastor, servo de uma boa casa na floresta, casa que ele estava encarregado de vender.
Afinal, Eglantina e Raquel compraram a habitação, tomaram o guia para seu servidor e aí começaram a viver como pastores e agricultores.
Eglantina tinha, por conveniência, não só mudado de traje como de nome; o seu mordomo e outros campônios a conheciam como Ovídio e com este nome mantinha o incógnito.
Entretanto Rolando evitara as grandes estradas e seguia, sem o saber o caminho trilhado pelas duas fugitivas.
Tinha medo de que, por dinheiro ou bajulação o denunciassem e a muito custo chegou à cabana de um velho amigo de seu pai.
O bom ancião deu-lhe agasalho durante alguns dias e o acompanhou até junto da floresta que confinava com o castelo onde estava o duque desterrado.
Antes de separar-se de Rolando, o velho deu-lhe uma bolsa e o moço se internou pela mata.
Andou e ficou fatigado; ao cabo de dois dias acabaram-se as provisões e foi trêmulo de sede e de fome que bateu à porta de uma bonita casa que parecia ser morada de pastores.
Abriram-lhe a porta e ele viu-se em frente de Ovídio (isto é, de Eglantina vestida de homem) e pediu agasalho que lhe foi concedido. Mal podia a prima de Raquel dominar a emoção que sentia e foi rindo e chorando que ela contou a Raquel o feliz encontro. Raquel que também pitara de negro os cabelos louros e se vestia de pastora, também não foi conhecida pelo valente conde Rolando, que, aliás, só as vira uma vez no torneio, em trajes da corte.
Passou ali Rolando uma semana e souberam elas então que ele procurava o duque para o induzir a retornar o trono. Partiu uma tarde e Ovídio (ou Eglantina) o ajudou a montar, o que espantou rolando por ver uma camponesa dar-se ares de grande dama.
Daí a dias Roberto encontrou o duque que jantava com grandes fidalgos e que formava já um pequeno exército com o fim de retomar o trono de que fora despojado. Rolando foi nomeado para marchar à frente de três centos de cavaleiros, precedendo as tropas do duque.
Este ia com Rolando.
No dia seguinte acharam-se à pequena distância da cabana do pastor onde Raquel e Ovídio moravam. Rolando bateu e pediu hospitalidade.
Quando o duque entrou na sala um formoso pajem caiu-lhe aos pés e o pai reconheceu sua filha Eglantina.
Rolando, maravilhado, olhava para a donzela, cheia de alegria e mais contente ficou quando ela lhe perguntou:
— Ainda se lembra de mim?
Eglantina então tomou Raquel pela mão e disse ao pai:
— Abrace, meu pai, sua nobre sobrinha Raquel, que deixou a corte só para me acompanhar. É um nobre coração.
O duque estreitou-a fortemente ao peito, dizendo-lhe: — Não me esquecerei de ti.
No dia seguinte o exército marchou e as duas moças acompanharam o pai.
Quanto ao usurpador via seus partidários o abandonarem diariamente. A cidade única que lhe restava foi cercada e o duque apenas rodeado de alguns soldados, não pôde resistir. Foi aprisionado e obrigado a renunciar o trono.
Mas do duque temível que tão arrogante e perverso era, só ficara a fama. A fuga de sua filha o tinha acabrunhado e são então compreendeu o tesouro que perdera. Declarou, pois, publicamente, que viveria afastado de toda a vida política contando que a filha o não deixasse.
O irmão foi generoso e perdoou a todos, entrando a província em uma era de paz e trabalho.
Rolando casou-se com Eglantina e a festa nupcial foi magnífica e brilhante.
E Raquel?
Passando uma vez pela corte o moço rei da Panonia, tão enamorado ficou que a fez rainha do seu coração e dos seus vassalos.









O título do livro é A ÁRVORE DE NATAL.
O nome do autor não foi possível identificar, mas na parte da capa que resta aparece um nome Tycho Brahe.
A editora é LIVRARIA QUARESMA, Rio de Janeiro, 1959.

O livro inicia-se com

AO LEITOR.

Mais um livro de histórias é hoje oferecido às crianças brasileira.
A ÁRVORE DE NATAL ou TESOURO MARAVILHOSO DE PAPAI NOEL, revela mais uma vez ao bom público que nos tem protegido e amparado com sua benevolência, o progresso que temos incutido à nossa Biblioteca Infantil que é a única no Brasil.
O presente volume que foi confiado a reconhecido e autorizado escritos, contém muitas histórias originais e várias adaptações de novelas de mestres como Shakespeare, Tolstoi, Perrault, La Fontaine, etc. ... Não são a repetição do que já temos publicado ou mesmo parodiado, mas sim trabalhos coligidos de maneira que a ficção, sempre imaginosa, ande a par com o fim de todo o livro infantil: deleitar, instruindo.
Tais contos, como agora damos à luz da publicidade, são um precioso elemento de educação doméstica, pois, como diz La Fontaine: “ Quem não acha um prazer extremo em ouvir histórias mesmo inverossímeis?” São uma formosa coletânea que agradará a nossos leitores e principalmente aos seus filhos e que virá demonstrar nosso constante empenho de ser útil e agradável às crianças que falam a nossa bela língua portuguesa.

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