AS DUAS AMIGAS
Era um vez um duque que
governava uma província; o irmão dele, mais moço, derrubou-o do
trono e o exilou para uma floresta longínqua.
O usurpador tinha uma
filha chamada Raquel e para que não ficasse só, deu-lhe para
companheira a sua prima Eglantina, filha do duque exilado.
Raquel procurava
consolara a prima da injustiça feita ao seu pai destronado; ambas
eram muito amigas e não compartilhavam os desentendimentos dos seus
progenitores.
Por isso, passando os
braços ao pescoço da amiga, convidou-a para assistir a um torneio
onde haveria um desafio de luta entre um moço desconhecido e um
atleta russo, que já tinha vencido e morto muitos adversários. Era
tão forte que matava um boi, só com um soco.
O duque Roberto — o
usurpador, quando as moças lhe apareceram, disse à filha:
— Raquel, se falares
ao moço que se vai bater no torneio, dize-lhe que desista de tão
desigual luta. Tenho pena dele, pois é muito jovem.
Tendo ele vindo
apresentar suas homenagens às duas damas, Raquel pediu que não
lutasse, mas ele redargüiu:
— Sinto recusar
alguma coisa a tão nobres senhoras, mas se eu morrer o mundo não
perde nada.
Não tenho amigos nem
quem me lamente.
Disse isto de tal modo
que as duas entristeceram, principalmente Eglantina que não escondeu
a simpatia pelo moço.
A luta teve um
desenlace inesperado. O jovem campeão que se chamava Rolando atacou
energicamente o atleta e o deitou várias vezes ao solo até que
conseguiu pô-lo com as duas espadas por terra. Completamente exausto
de forças e gravemente ferido.
O duque Roberto — o
usurpador, — que assistia à festa mandou chamar o vencedor e
perguntou-lhe o nome.
— Chamo-me Rolando de
Mão Forte, filho do Conde Gustavo de Mão Forte, morto na última
guerra.
Este conde fora amigo
do pai de Eglantina e esta exultou por saber isso enquanto que o
duque Roberto se aborrecia por ser filho de um partidário de seu
irmão destronado.
Vendo que o duque
tivera má impressão, o moço ficou triste, mas em compensação
Eglantina apertou-lhe as mãos, dizendo que tinha prazer em ver salvo
o filho de um valente companheiro de seu pai.
Tais palavras
desagradaram ao duque que já andava aborrecido de Eglantina e de ver
que o seu irmão destronado tinha amigos dedicados entre o povo e a
nobreza.
Assim que chegou do
torneio o rancoroso duque, entrou como um furioso nos aposentos de
Eglantina e Raquel e deu ordem à sobrinha de se ir embora, para
junto de seu pai desterrado.
Debalde Raquel pediu; o
duque foi inflexível. Ela lembrou que Eglantina era sua amiga de
infância, boa e leal, mas o duque lhe declarou, em tom firme:
— Ela irá porque é
uma fingida e como é bonita julga ser mais que tu, minha filha. Não
quero ver essa falsa criatura que está conspirando com os meus
inimigos.
Felizmente, o conde
Rolando, desconfiado de mau acolhimento desaparecera debalde os
guardas do duque o procuraram par o encerrar no cárcere.
Vendo que o pai não
revogaria a decisão, Raquel resolveu acompanhar Eglantina.
Disfarçaram-se em fidalgos pobres, mas a prima de Raquel ia com
trajes masculinos. Com os cabelos cortados e o gorro parecia mesmo um
gentil mancebo. Levavam, costurados dentro das roupas, muitas pedras
preciosas e bastante dinheiro nas algibeiras.
A viagem foi cheia de
sustos pois o duque mandou procurar as duas fugitvas. Atravessaram
rios e bosques, e estavam muito fatigadas, quando encontraram um
pastor, servo de uma boa casa na floresta, casa que ele estava
encarregado de vender.
Afinal, Eglantina e
Raquel compraram a habitação, tomaram o guia para seu servidor e aí
começaram a viver como pastores e agricultores.
Eglantina tinha, por
conveniência, não só mudado de traje como de nome; o seu mordomo e
outros campônios a conheciam como Ovídio e com este nome mantinha o
incógnito.
Entretanto Rolando
evitara as grandes estradas e seguia, sem o saber o caminho trilhado
pelas duas fugitivas.
Tinha medo de que, por
dinheiro ou bajulação o denunciassem e a muito custo chegou à
cabana de um velho amigo de seu pai.
O bom ancião deu-lhe
agasalho durante alguns dias e o acompanhou até junto da floresta
que confinava com o castelo onde estava o duque desterrado.
Antes de separar-se de
Rolando, o velho deu-lhe uma bolsa e o moço se internou pela mata.
Andou e ficou fatigado;
ao cabo de dois dias acabaram-se as provisões e foi trêmulo de sede
e de fome que bateu à porta de uma bonita casa que parecia ser
morada de pastores.
Abriram-lhe a porta e
ele viu-se em frente de Ovídio (isto é, de Eglantina vestida de
homem) e pediu agasalho que lhe foi concedido. Mal podia a prima de
Raquel dominar a emoção que sentia e foi rindo e chorando que ela
contou a Raquel o feliz encontro. Raquel que também pitara de negro
os cabelos louros e se vestia de pastora, também não foi conhecida
pelo valente conde Rolando, que, aliás, só as vira uma vez no
torneio, em trajes da corte.
Passou ali Rolando uma
semana e souberam elas então que ele procurava o duque para o
induzir a retornar o trono. Partiu uma tarde e Ovídio (ou Eglantina)
o ajudou a montar, o que espantou rolando por ver uma camponesa
dar-se ares de grande dama.
Daí a dias Roberto
encontrou o duque que jantava com grandes fidalgos e que formava já
um pequeno exército com o fim de retomar o trono de que fora
despojado. Rolando foi nomeado para marchar à frente de três centos
de cavaleiros, precedendo as tropas do duque.
Este ia com Rolando.
No dia seguinte
acharam-se à pequena distância da cabana do pastor onde Raquel e
Ovídio moravam. Rolando bateu e pediu hospitalidade.
Quando o duque entrou
na sala um formoso pajem caiu-lhe aos pés e o pai reconheceu sua
filha Eglantina.
Rolando, maravilhado,
olhava para a donzela, cheia de alegria e mais contente ficou quando
ela lhe perguntou:
— Ainda se lembra de
mim?
Eglantina então tomou
Raquel pela mão e disse ao pai:
— Abrace, meu pai,
sua nobre sobrinha Raquel, que deixou a corte só para me acompanhar.
É um nobre coração.
O duque estreitou-a
fortemente ao peito, dizendo-lhe: — Não me esquecerei de ti.
No dia seguinte o
exército marchou e as duas moças acompanharam o pai.
Quanto ao usurpador via
seus partidários o abandonarem diariamente. A cidade única que lhe
restava foi cercada e o duque apenas rodeado de alguns soldados, não
pôde resistir. Foi aprisionado e obrigado a renunciar o trono.
Mas do duque temível
que tão arrogante e perverso era, só ficara a fama. A fuga de sua
filha o tinha acabrunhado e são então compreendeu o tesouro que
perdera. Declarou, pois, publicamente, que viveria afastado de toda a
vida política contando que a filha o não deixasse.
O irmão foi generoso e
perdoou a todos, entrando a província em uma era de paz e trabalho.
Rolando casou-se com
Eglantina e a festa nupcial foi magnífica e brilhante.
E Raquel?
Passando uma vez pela
corte o moço rei da Panonia, tão enamorado ficou que a fez rainha
do seu coração e dos seus vassalos.
O título do livro é A
ÁRVORE DE NATAL.
O nome do autor não
foi possível identificar, mas na parte da capa que resta aparece um
nome Tycho Brahe.
A editora é LIVRARIA
QUARESMA, Rio de Janeiro, 1959.
O livro inicia-se com
AO LEITOR.
Mais um livro de
histórias é hoje oferecido às crianças brasileira.
A ÁRVORE DE NATAL
ou TESOURO MARAVILHOSO DE PAPAI NOEL, revela mais uma vez ao
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O presente volume que
foi confiado a reconhecido e autorizado escritos, contém muitas
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como Shakespeare, Tolstoi, Perrault, La Fontaine, etc. ... Não são
a repetição do que já temos publicado ou mesmo parodiado, mas sim
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Tais contos, como agora
damos à luz da publicidade, são um precioso elemento de educação
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