terça-feira, 29 de abril de 2014

MERECE SER LEMBRADO II - A CAVALGADA DAS BRUXAS


A CAVALGADA DAS BRUXAS

Dizem que as velhas bruxas, que se escondem nas grutas solitárias, não incomodam mais a gente.
Por que será?
Só Adrião o sabe, mas Adrião não conta a ninguém, pois tem medo que seu nariz fique de palmo e meio.
E como é que Adrião o sabe?
Aí é que está a história.
Adrião era um pastor muito valente que vivia a guardar os seus rebanhos ao pé da Montanha Negra.
Um dia — era ele mocinho — ficou procurando um carneirinho que desaparecera de repente, procurando, procurando, até que, desanimado de acha-lo, resolveu voltar para casa.
Adrião olhou para as estrelas e viu que já era perto de meia-noite.
A noite estava muito escura.
Meia-noite era a hora em que as bruxas costumavam sair das cavernas.
Adrião ia a caminho de casa, quando, ao passar perto de uma caverna, ouviu algumas vozes estranhas e o barulho de cabos de vassoura.
— Quem poderá andar por aqui, por estas horas? — disse Adrião consigo mesmo.
Adrião olhou em roda, mas não viu ninguém.
— Ah! E se fosse as bruxas? — disse ele — É hora delas saírem.
Adrião escondeu-se numa moita de capim e pôs-se a escutar.
Pouco a pouco, as bruxas foram saindo da caverna nos seus cavalinhos de pau, que eram cabos de vassoura.
Elas foram indo pelo ar e cantavam:
— No cabo desta vassoura,
Pelo dom desta hora,
Vamos pelo mundo afora.
Voaram até as nuvens, mas algumas ficaram perto da caverna, e uma gritou:
— Carne humana! Estou sentindo cheiro de carne humana! Há uma pessoa por aqui perto de nós.
Adrião pensou, pensou:
— E agora? As bruxas acabam por me descobrir e...
Uma bruxa deixou seu cabo de vassoura e deu vota à gruta, á procura de alguém.
Adrião, então, pegou o cabo de vassoura, nele e saiu voando. Adrião foi voando também porque o seu cabo de vassoura o carregava.
As bruxas voavam e cantavam, e Adrião foi voando e cantando atrás delas:
— No cabo desta vassoura,
Pelo dom desta hora,
Vamos pelo mundo afora.
Voando e cantando, as bruxas atravessaram as florestas, os mares, as montanhas, até que chegaram aos paises gelados do Norte. Passaram pela Dinamarca, pela Suécia e pela Noruega e foram das á Lapônia.
Viram, no meio de salgueiros brancos de neve, um castelo coberto de neve. Havia luz lá dentro.
Devia ser bem quentinho. Resolveram entrar nele e para ele se dirigiram.
Adrião viu uma porção de guardas, muito bem armados, ao redor do castelo, e disse consigo:
— E agora? Essas bruxas passarão, mas e eu, que não sou bruxa? Que vai ser de mim?
Adrião, porém, não sabia que, quando era preciso, o cabo de vassoura o tornava invisível como as bruxas, e, por isso ficou espantado de ouvir os guardas gritar, quando passaram no meio deles:
— Irra! Que ventania!
Os salgueiros sacudiram seus galhos com violência, e os guardas seguraram os capacetes com a mão, para não voarem.
As bruxas passaram no meio dos guardas e chegaram perto do grande portão de ferro, que estava fechado com sete chaves.
— E agora? Como é que vou passar?
Entretanto, as bruxas iam entrando pelos buracos da fechadura e Adrião também.
Foram direitinho à adega, sentaram-se em torno de uma larga mesa e ali comeram as melhores comidas e beberam os melhores vinhos.
Fartas de beber e comer, puseram-se de volta.
No cabo desta vassoura,
Antes que venha a aurora,
Antes que passe a hora,
Vamos, vamos embora...
Voaram, cantando, chegaram cantando, e, antes de entrarem nas suas cavernas, uma bruxa disse a Adrião:
— Adrião, bico calado! Não diga uma palavra do que viu, senão o seu nariz crescerá palmo e meio.
Adrião não sabe o que se passou depois.
Quando acordou, o sol já ia alto, e o seu chapéu de palha ia rolando pela montanha abaixo, levado pela brisa fresca da manhã.
Adrião olhou ao redor e não viu nada.
Só, ali perto, o carneirinho, que lhe dera tanto trabalho, comia a relva verde e tenra da encosta da Montanha Negra.
Adrião lembrou tudo o que acontecera de noite e pôs a mão no nariz para ver se continuava do mesmo tamanho. O nariz era o mesmo. Não contaria nada a ninguém.

HISTÓRIAS TIRADAS DO LIVRO AS MAIS BELAS HISTÓRIAS : COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO: ENSINO DE PRIMEIRO GRAU, 3ª SÉRIE ESCRITO POR LUCIA MONTEIRO CASASANTA. EDITORA DO BRASIL S/A. SÃO Paulo 1973. EBSA – MEC.

Um comentário: