O CARAMUJINHO
O caramujinho Barriga
no Chão conversava, certa manhã, com seus primos Chifre Grande e
Sem Patas.
— É na verdade
insuportável esta lagarto Colete de Ferro. Cada dia se torna mais
impertinente pela sua basófia.
Tenho os ouvidos cheios das mentiras que ele me conta; diz que
descende do Marques de Jacaré e a Marquesa de Crocodilo. Pensa que é
valente e sábio.
— Mas outro dia fugiu
de uma cobra que já estava morta, no caminho, atalhou o Chifre
Grande.
— E também perdeu
uma corrida com uma preá, disse o Sem Patas.
— Como me fala sempre
na sua agilidade, vou fazer-lhe uma troça que ele não espera,
continuou o Barriga no Chão.
Nisto a conversão foi
interrompida com a chegada do elegante lagartinho Colete de Ferro.
Este saíra da pequena
toca em que morava e começou, segundo o costume, a
serrazinar
os três caracóis.
— Então, compadre,
já sabe da última notícia?
— Não, que notícia?
— É que a Câmara
Municipal, achando que o imposto sobre portas e janelas não é
bastante, vai criar um selo de 20 réis pra as casa que se movem.
Vocês têm que pagar ou mudar os pneumáticos para fugirem dos
fiscais.
O Barriga no Chão
encavacou com a pilhéria e retorquiu.
— Meu caro Colete de
Ferro, os meus pneumáticos não são da melhor marca mas assim mesmo
galgo todos os obstáculos e devoro quilômetros.
— Queres disputar um
“match” comigo?
— Ora, deixe-se
disso; você quer ver se faz comigo o que a tartaruga fez com a
lebre; pensa que vou distrair-me no percurso e assim permitir que
você ganhe? Ora essa!
— Nada disso: estou
falando sério. Iremos já à casa de Madama Coruja que regulará
todas as condições e ficará a importância das apostas. Topa?
— Topo, compadre.
Afastando-se, Colete de
Ferro viu uma linda borboleta e para engoli-la descreveu uma pirueta
tão rápida que as suas escamas brilharam ao sol, como um relâmpago.
Os dois primos
censuraram o Barriga no Chão por sua imprudência.
— Pois você não vê
logo que vai perder?! O lagarto é muito ligeiro.
Mas o caramujinho tinha
a sua idéia.
— Veremos, disse ele;
e disse um segredo tal, tão engraçado ao ouvido dos dois
companheiros, que eles riram-se a ponto de quase arrebentar a casca.
De tarde, os dois
campeões vieram pôr Madama Coruja ao fato do desafio proposto pelo
Caracol. Ela, muito circunspeta, aceito a missão de regular os
detalhes do encontro e enumerou as condições com grande
imparcialidade.
O trajeto seria os doze
quilômetros da estrada de rodagem e para prevenir qualquer embuste,
Madama Coruja, como juiz da corrida, mandou colocar uma folha de
couve junto de cada poste onde, cada concorrente ao passar devia pôr
a sua assinatura. Depois igualou certas condições pessoais: o
caracol deveria correr, na margem, sobre a relva, para evitar a
poeira e o lagartinho teria para pista a parte macadamizada
da estrada.
A aposta foi de cem
moedas de prata que foram entregues a Madama Toupeira que as enterrou
na sua toca.
A Coruja marcou o
desafio para a madrugada e Mestre Galo devia cantar três vezes. Ao
terceiro canto partiriam os adversários.
Muito antes de romper a
aurora havia grande bulício nos matos e ninhos. Perto dos postes,
nos arvoredos e galhos, saltitavam tico-ticos, coleiros, sabiás e
outros pássaros, que vinham assistir ao “match’. O Macaco servia
de juiz de raia, andava e pulava de uma lado para outro e quando lhe
perguntavam quem ganharia, ele fazia uma careta e dizia
misteriosamente:
— Eh! Eh! O que sei é
que o sucesso está garantido.
Sucesso de quem?
Havia grandes apostas e
a raposa apostou com o burro. Este era do partido do lagartinho e a
raposa “torcia” para o caramujinho.
Afinal o dia chegou. Os
dois concorrente cumprimentaram-se e a passarada gorjeou
em sinal de aplauso. Quando os primeiros raios do sol despontaram ao
longe na campina, o Galo que era o juiz da partida deu o sinal com o
seu cocô-rocô.
O caso era sensacional.
Resolvido a sustentar a aposta, o lagarto saiu com velocidade
deixando atrás de si um rastro de poeira.
Quando chegou à
primeira etapa o caramujinho que o havia passado acabava de assinar
na folha de couve. Colete de Ferro ficou estupefato e prometeu a sim
mesmo aumentar a velocidade.
No segundo quilômetro
o caramujinho também chegar primeiro! Era incrível! Mas o
lagartinho era de raça teimosa e além disso não desenvolvera ainda
toda a força.
Pôs-se em marcha e
quando aproximava do terceiro poste, exclamou contente:
[Faltam
as páginas 13 e 14 do livro]
... que acabava e
escrever seu nome na folha de registro, seguido da palavra “triunfo”!
O lagartinho estava
esbaforido e julgou que ficava louco! Como podia ser isso? Como
poderia ser derrotado por quem andava com a casinha às costas?
Como? O lagartinho
nunca soube, do contrário tiraria dele e de todos os caramujos uma
estrondosa desforra. De cumplicidade com o Macaco, a raposa e outros
bichos, pode ele enganar o seu valente rival. Não havendo coisa mais
parecida com um caramujo do que outro caramujo, o esperto Barriga no
Chão tinha colocado perto de cada porte um caracol, devidamente
instruído sobre o que tinha a fazer e escolheu seus companheiros do
mesmo tamanho e cor. Pareciam-se com ele.
Eram estes cúmplices
que, cada um por sua vez se apresentavam ao registro
, calmamente assinavam a folha, adiantando-se sempre ao infeliz
lagarto que, conscientemente, fazia todo o percurso.
Toda a família de
caramujos riu-se do lagarto, embora, afinal a corrida não fosse
lícita. A toupeira entregou o dinheiro das apostas ao vencedor e
houve grande banquete no campo, à noite, tendo os vaga-lumes dando
a iluminação e a banda de musica de sapos e grilos tocando varias
peças de seus vasto repertorio. Madama Coruja compareceu.
O lagartinho ganho
experiência e a mistificação que sofrera corrigiu-lhe o pedantismo
e a vaidade. O burro é que, querendo jogar na certa, teve que pagar
à finória raposa. Também quem tem culpa de que ele seja burro!
O título do livro é A
ÁRVORE DE NATAL.
O nome do autor não
foi possível identificar, mas na parte da capa que resta aparece um
nome Tycho Brahe.
A editora é LIVRARIA
QUARESMA, Rio de Janeiro, 1959.
O livro inicia-se com
AO LEITOR.
Mais um livro de
histórias é hoje oferecido às crianças brasileira.
A ÁRVORE DE NATAL
ou TESOURO MARAVILHOSO DE PAPAI NOEL, revela mais uma vez ao
bom público que nos tem protegido e amparado com sua benevolência,
o progresso que temos incutido à nossa Biblioteca Infantil que é a
única no Brasil.
O presente volume que
foi confiado a reconhecido e autorizado escritos, contém muitas
histórias originais e várias adaptações de novelas de mestres
como Shakespeare, Tolstoi, Perrault, La Fontaine, etc. ... Não são
a repetição do que já temos publicado ou mesmo parodiado, mas sim
trabalhos coligidos de maneira que a ficção, sempre imaginosa, ande
a par com o fim de todo o livro infantil: deleitar, instruindo.
Tais contos, como agora
damos à luz da publicidade, são um precioso elemento de educação
doméstica, pois, como diz La Fontaine: “ Quem não acha um prazer
extremo em ouvir histórias mesmo inverossímeis?” São uma formosa
coletânea que agradará a nossos leitores e principalmente aos seus
filhos e que virá demonstrar nosso constante empenho de ser útil e
agradável às crianças que falam a nossa bela língua portuguesa.
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