sábado, 5 de abril de 2014

MERECE SER LEMBRADO 14


O CARAMUJINHO

O caramujinho Barriga no Chão conversava, certa manhã, com seus primos Chifre Grande e Sem Patas.
— É na verdade insuportável esta lagarto Colete de Ferro. Cada dia se torna mais impertinente pela sua basófia. Tenho os ouvidos cheios das mentiras que ele me conta; diz que descende do Marques de Jacaré e a Marquesa de Crocodilo. Pensa que é valente e sábio.
— Mas outro dia fugiu de uma cobra que já estava morta, no caminho, atalhou o Chifre Grande.
— E também perdeu uma corrida com uma preá, disse o Sem Patas.
— Como me fala sempre na sua agilidade, vou fazer-lhe uma troça que ele não espera, continuou o Barriga no Chão.
Nisto a conversão foi interrompida com a chegada do elegante lagartinho Colete de Ferro.
Este saíra da pequena toca em que morava e começou, segundo o costume, a serrazinar os três caracóis.
— Então, compadre, já sabe da última notícia?
— Não, que notícia?
— É que a Câmara Municipal, achando que o imposto sobre portas e janelas não é bastante, vai criar um selo de 20 réis pra as casa que se movem. Vocês têm que pagar ou mudar os pneumáticos para fugirem dos fiscais.
O Barriga no Chão encavacou com a pilhéria e retorquiu.
— Meu caro Colete de Ferro, os meus pneumáticos não são da melhor marca mas assim mesmo galgo todos os obstáculos e devoro quilômetros.
— Queres disputar um “match” comigo?
— Ora, deixe-se disso; você quer ver se faz comigo o que a tartaruga fez com a lebre; pensa que vou distrair-me no percurso e assim permitir que você ganhe? Ora essa!
— Nada disso: estou falando sério. Iremos já à casa de Madama Coruja que regulará todas as condições e ficará a importância das apostas. Topa?
— Topo, compadre.
Afastando-se, Colete de Ferro viu uma linda borboleta e para engoli-la descreveu uma pirueta tão rápida que as suas escamas brilharam ao sol, como um relâmpago.
Os dois primos censuraram o Barriga no Chão por sua imprudência.
— Pois você não vê logo que vai perder?! O lagarto é muito ligeiro.
Mas o caramujinho tinha a sua idéia.
— Veremos, disse ele; e disse um segredo tal, tão engraçado ao ouvido dos dois companheiros, que eles riram-se a ponto de quase arrebentar a casca.
De tarde, os dois campeões vieram pôr Madama Coruja ao fato do desafio proposto pelo Caracol. Ela, muito circunspeta, aceito a missão de regular os detalhes do encontro e enumerou as condições com grande imparcialidade.
O trajeto seria os doze quilômetros da estrada de rodagem e para prevenir qualquer embuste, Madama Coruja, como juiz da corrida, mandou colocar uma folha de couve junto de cada poste onde, cada concorrente ao passar devia pôr a sua assinatura. Depois igualou certas condições pessoais: o caracol deveria correr, na margem, sobre a relva, para evitar a poeira e o lagartinho teria para pista a parte macadamizada da estrada.
A aposta foi de cem moedas de prata que foram entregues a Madama Toupeira que as enterrou na sua toca.
A Coruja marcou o desafio para a madrugada e Mestre Galo devia cantar três vezes. Ao terceiro canto partiriam os adversários.
Muito antes de romper a aurora havia grande bulício nos matos e ninhos. Perto dos postes, nos arvoredos e galhos, saltitavam tico-ticos, coleiros, sabiás e outros pássaros, que vinham assistir ao “match’. O Macaco servia de juiz de raia, andava e pulava de uma lado para outro e quando lhe perguntavam quem ganharia, ele fazia uma careta e dizia misteriosamente:
— Eh! Eh! O que sei é que o sucesso está garantido.
Sucesso de quem?
Havia grandes apostas e a raposa apostou com o burro. Este era do partido do lagartinho e a raposa “torcia” para o caramujinho.
Afinal o dia chegou. Os dois concorrente cumprimentaram-se e a passarada gorjeou em sinal de aplauso. Quando os primeiros raios do sol despontaram ao longe na campina, o Galo que era o juiz da partida deu o sinal com o seu cocô-rocô.
O caso era sensacional. Resolvido a sustentar a aposta, o lagarto saiu com velocidade deixando atrás de si um rastro de poeira.
Quando chegou à primeira etapa o caramujinho que o havia passado acabava de assinar na folha de couve. Colete de Ferro ficou estupefato e prometeu a sim mesmo aumentar a velocidade.
No segundo quilômetro o caramujinho também chegar primeiro! Era incrível! Mas o lagartinho era de raça teimosa e além disso não desenvolvera ainda toda a força.
Pôs-se em marcha e quando aproximava do terceiro poste, exclamou contente:
[Faltam as páginas 13 e 14 do livro]
... que acabava e escrever seu nome na folha de registro, seguido da palavra “triunfo”!
O lagartinho estava esbaforido e julgou que ficava louco! Como podia ser isso? Como poderia ser derrotado por quem andava com a casinha às costas?
Como? O lagartinho nunca soube, do contrário tiraria dele e de todos os caramujos uma estrondosa desforra. De cumplicidade com o Macaco, a raposa e outros bichos, pode ele enganar o seu valente rival. Não havendo coisa mais parecida com um caramujo do que outro caramujo, o esperto Barriga no Chão tinha colocado perto de cada porte um caracol, devidamente instruído sobre o que tinha a fazer e escolheu seus companheiros do mesmo tamanho e cor. Pareciam-se com ele.
Eram estes cúmplices que, cada um por sua vez se apresentavam ao registro , calmamente assinavam a folha, adiantando-se sempre ao infeliz lagarto que, conscientemente, fazia todo o percurso.
Toda a família de caramujos riu-se do lagarto, embora, afinal a corrida não fosse lícita. A toupeira entregou o dinheiro das apostas ao vencedor e houve grande banquete no campo, à noite, tendo os vaga-lumes dando a iluminação e a banda de musica de sapos e grilos tocando varias peças de seus vasto repertorio. Madama Coruja compareceu.
O lagartinho ganho experiência e a mistificação que sofrera corrigiu-lhe o pedantismo e a vaidade. O burro é que, querendo jogar na certa, teve que pagar à finória raposa. Também quem tem culpa de que ele seja burro!







O título do livro é A ÁRVORE DE NATAL.
O nome do autor não foi possível identificar, mas na parte da capa que resta aparece um nome Tycho Brahe.
A editora é LIVRARIA QUARESMA, Rio de Janeiro, 1959.

O livro inicia-se com

AO LEITOR.

Mais um livro de histórias é hoje oferecido às crianças brasileira.
A ÁRVORE DE NATAL ou TESOURO MARAVILHOSO DE PAPAI NOEL, revela mais uma vez ao bom público que nos tem protegido e amparado com sua benevolência, o progresso que temos incutido à nossa Biblioteca Infantil que é a única no Brasil.
O presente volume que foi confiado a reconhecido e autorizado escritos, contém muitas histórias originais e várias adaptações de novelas de mestres como Shakespeare, Tolstoi, Perrault, La Fontaine, etc. ... Não são a repetição do que já temos publicado ou mesmo parodiado, mas sim trabalhos coligidos de maneira que a ficção, sempre imaginosa, ande a par com o fim de todo o livro infantil: deleitar, instruindo.
Tais contos, como agora damos à luz da publicidade, são um precioso elemento de educação doméstica, pois, como diz La Fontaine: “ Quem não acha um prazer extremo em ouvir histórias mesmo inverossímeis?” São uma formosa coletânea que agradará a nossos leitores e principalmente aos seus filhos e que virá demonstrar nosso constante empenho de ser útil e agradável às crianças que falam a nossa bela língua portuguesa.

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