terça-feira, 15 de abril de 2014

o que é dialética


KONDER, Leandro. O que é dialética. São Paulo: Brasilense, 2003. (Coleção Primeiros passos; 23)

Livro lido em 2007 cujas anotações foram encontradas apenas em 2009 com outras anotações que estavam no mesmo bloco. Livro da biblioteca municipal de Capinópolis, nº 3099.

Pelo índice
Origens da dialética
O trabalho
A alienação
A totalidade
A contradição e a mediação
A “fluidificação” dos conceitos
As leis da dialética
O sujeito e a história
O indivíduo e a sociedade
Semente de dragões.

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Dialética era, na Grécia antiga, a arte do diálogo. Aos poucos, passou a ser a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão.

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Na acepção moderna, entretanto, dialética significa outra coisa: é o modo de pensarmos as contradições da realidade, o modo de compreendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação.

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Segundo Aristóteles, todas as coisas possuem determinadas potencialidades; os movimentos das coisas são potencialidades que estão se atualizando, isto é, são possibilidades que estão se transformando em realidades efetivas. Com seus conceitos de ato e potência, Aristóteles conseguiu impedir que o movimento fosse considerado apenas uma ilusão desprezível, um aspecto superficial da realidade; graças a ele, os filósofos não abandonaram completamente o estudo do lado dinâmico e mutável do real.

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1...A própria palavra dialética se tornou uma espécie de sinônimo de lógica (ou então passou a ser empregada, em alguns casos, como o significado pejorativo de “lógica das aparências”)

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1... Há, porém, uma exceção; o maior dos filósofos iluministas é também o autor de uma obra rica em observações de grande interesse para a concepção dialética do mundo: Denis Diderot (1713 – 1784)

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No Sonho de D’Alembert, imaginou que D’Alembert, seu amigo, sonhando dizia coisas tais como: “Todos os seres circulam uns nos outros. Tudo é um fluxo perpetuo. O que é um ser? A soma de um certo número de tendências. E a vida? A vida é uma sucessão de ações e reações. Nascer, viver e passar é mudar de formas”. D’Alembert ficou chocado com a “loucura” que Diderot tinha escrito e o texto, redigido em 1769, acabou só sendo publicado em 1830.

No Suplemento à viagem de Bougainville, publicado em 1796, Diderot aconselhava seus leitores: “Examinem todas as instituições políticas, civis e religiosas; ou muito me engano ou vocês verão nelas o gênero humano subjugado, a cada século mais submetido ao jugo de um punhado de meliantes”. E recomendava: “Desconfiem de quem quer impor a ordem”.
Uma das obras mais famosas de Diderot é O sobrinho de Rameau, que relata uma conversa entre o filósofo e um jovem vigarista, sobrinho de um músico célebre: Diderot se coloca, habilmente, numa posição moderada, mas coloca na boca do seu interlocutor uma argumentação brilhante, uma defesa altamente perturbadora da vigarice, de modo que a moral vigente fica bastante abalada em seus fundamentos, no fim do diálogo. Diderot assume os elementos conservadores que sabe existirem no seu pensamento, mas permite ao jovem vigarista que desenvolva seus pontos de vista com extraordinária desenvoltura; o resultado é um confronto fascinante, que Hegel e Marx consideram um primor de dialética.

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Ao lado de Diderot, quem deu a maior contribuição à dialética na segunda metade do Século XVIII foi Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778)

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O cento da filosofia, para Kant, não podia deixar de ser a reflexão sobre a questão do conhecimento, a questão da exata natureza e dos limites do conhecimento humano. Fixando sua atenção naquilo que ele chamou de “razão pura”, o filósofo se convenceu, então, de que na própria “razão pura” (anterior à experiência) existiam certas contradições — as “antimonias” — que nunca poderiam ser expulsas do pensamento humano por nenhuma lógica.

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Outro filosofo alemão, de uma geração posterior, demonstrou que a contradição não era apenas dimensão essencial na consciência do sujeito do conhecimento, conforme Kant tinha concluído; era um princípio básico que não podia ser suprimido nem da consciência do sujeito nem da realidade objetiva. Esse novo pensador, que se chamava Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831), sustentava que a questão central da filosofia a questão do ser, mesmo, e não a do conhecimento.

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Hegel concordava com Kant num ponto essencial: no reconhecimento de que o sujeito humano é essencialmente ativo e está sempre interferindo na realidade.

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2... Hegel percebe que o trabalho é a mola que impulsiona o desenvolvimento humano; é no trabalho que o homem (p.23) se produz a sim mesmo; o trabalho é o núcleo a partir do qual podem ser compreendidas as formas complicadas da atividade criadora do sujeito humano. No trabalho se acha tanto a resistência do objeto (que nunca pode ser ignorada) como o poder do sujeito, a capacidade que o sujeito tem de encaminhar, com habilidade e persistência, uma superação dessa resistência.

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O trabalho é conceito-chave para nós compreendermos o que é a superação dialética. Para expressar a sua concepção da superação dialética, Hegel usou a palavra alemã aufheben, um verbo que significa suspender. Mas esse suspender tem três sentidos diferentes. O primeiro sentido é o de negar, anular, cancelar (como ocorre, por exemplo, quando a gente suspende um passeio por causa do mau tempo, ou quando um estudante é suspenso das aulas e não pode comparecer à escola durante algum tempo). O segundo sentido é o de erguer alguma coisa e mantê-la erguida para protegê-la (como a gente vê, por exemplo, num poema de Manuel Bandeira, quando o poeta fala do quarto onde morou há muitos anos e diz que ele foi preservado porque ficou “intacto, suspenso no ar”). O terceiro sentido é o de elevar a qualidade, promover a passagem de alguma coisa para um plano superior, suspender o nível. Pois bem: Hegel emprega a palavra com os três sentidos diferentes ao mesmo tempo. Para ele, a superação dialética é simultaneamente a negação de uma determinada realidade, a conservação de algo de essencial que existe nessa realidade, a conservação de algo de essencial que existe nessa realidade negada e a elevação dela a um nível superior.
Isso parece obscuro, mas fica menos confuso se observamos o que acontece no trabalho: a matéria-prima é “negada” (quer dizer, é destruída (p.27) em sua forma natural), mas ao mesmo tempo é “conservada” (quer dizer, é aproveitada) e assume uma forma nova, modificada, correspondente aos objetivos humanos (quer dizer, é “elevada” em seu valor).

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“Divisão do trabalho e propriedade privada” — escreveu Marx — “são termos idênticos: um diz em relação `a exploração do trabalho escravo a mesma coisa que o outro diz em relação ao produto da exploração do trabalho escravo”. As condições criadas pela divisão do trabalho e pela propriedade privada introduziram um “estranhamento” entre o trabalhador e o trabalho, na medida em que o produto do trabalho, antes mesmo de o trabalho se realizar, pertence a outra pessoa que não o trabalhador. Por isso, em lugar de realizar-se no seu trabalho, o ser humano se aliena nele; em lugar de reconhecer-se em suas próprias criações, o ser humano se sente ameaçado por elas; em lugar de libertar-se, acaba enrolando em novas opressões.

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Qualquer objeto que o homem possa perceber ou criar é parte de um todo. Em cada ação empreendida, o ser humano se defronta, inevitavelmente, com problemas interligados. Por isso, para encaminhar uma solução para os problemas, o ser humano precisa ter uma certa visão de conjunto deles: é a partir da visão do conjunto que a gente pode avaliar a dimensão de cada elemento do quadro. Foi o que Hegel sublinhou quando escreveu: “A verdade é o todo”. Se não enxergarmos o todo, podemos atribuir um valor exagerado a uma verdade imitada (transformando-a em mentira), prejudicando a nossa compreensão de uma verdade mais geral.

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A visão de conjunto — ressalve-se — é sempre provisória e nunca pode pretender esgotar a realidade a que ele se refere. A realidade é sempre mais rica do que o conhecimento que a gente tem dela. Há sempre algo que escapa à s nossa síntese; isso, porém, não nos dispensa do esforço de nossa realidade. A síntese é a visão de conjunto que permite o homem descobrir a estrutura significativa da realidade com que se defronta, numa situação dada. E é essa estrutura significativa — que a visão de conjunto proporciona — que é chamada de totalidade.

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A modificação do todo só se realiza, de fato, após um acúmulo de mudanças nas partes que o compõem. Processam-se alterações setoriais, quantitativas, até que se alcança um ponto crítico que assinala a transformação qualitativa da totalidade. É a lei dialética da transformação da quantidade em qualidade. Voltaremos a falar dessa lei. Por enquanto, o que devemos sublinhar é que a modificação do todo é mais complicada que a modificação de cada um dos elementos que integram. E devemos sublinhar outra coisa: cada totalidade tem sua maneira diferente de mudar; as condições da mudança variam, dependendo do caráter da totalidade e do processo específico do qual ela é um momento.

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1... a teoria é necessária e nos ajuda muito, mas por si só não fornece os critérios suficientes para nós estarmos seguros de agir com acerto. Nenhuma teoria pode ser tão boa a ponto de nos evitar erros. A gente depende, em última análise, da prática — especialmente da prática social — para verificar o maior ou menor acerto do nosso trabalho com os conceitos (e com as totalizações).
A teoria nos ajuda, fornecendo importantes indicações. Em relação à totalidade, por exemplo, a (p.44)teoria dialética recomenda que nós prestemos atenção ao “recheio” de cada síntese, quer dizer, às contradições e mediações concretas que a síntese encerra.

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Mas o texto (fala de uma obra de Marx) ainda diz mais: por análise, eu decomponho e recomponho o conhecimento indicado na expressão que me serviu de ponto de partida. No fim, realizada a viagem do mais complexo (ainda abstrato) ao mais simples e feito o retorno do mais simples ao mais complexo (já concreto), a expressão população passa a ter um conteúdo bem determinado. O concreto, portanto, é o resultado de um trabalho. “o concreto” — insiste Marx — “é concreto porque é a síntese de várias determinações diferentes, é unidade na diversidade.”

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A concepção de Marx, segundo a qual o conhecimento não é um ato e sim um processo, desenvolveu-se em polêmica contra a concepção irracionalista. Os irracionalistas consideram a intuição um instrumento privilegiado do conhecimento humano; para eles, o que és “sacado” intuitivamente já possui valor de verdade, de modo que não existe nenhum motivo par anos trilharmos o trabalhoso caminho indicado por Marx; a impressão genérica obtida no ponto de partida já nos basta. O irracionalismo desestimula o ser humano a realizar o paciente esforço de ir além da aparência, em busca da essência dos fenômenos.

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“A dialética” — observa Carlos Nelson Coutinho — “não pensa o todo negando as partes, nem pensa as partes abstraídas do todo. Ela pensa tanto as contradições entre as partes (a diferença entre elas: o que faz de uma obra de arte algo distinto de um panfleto político) como a união entre elas (o que leva a arte e a política a se relacionarem no seio da sociedade enquanto totalidade).”

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A experiência nos ensina que em todos os objetos com os quais lidamos existe uma dimensão imediata (que nos percebemos imediatamente) e existe uma dimensão mediata (que a gente vai descobrindo, construindo ou reconstruindo aos poucos).

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As conexões íntimas que existem entre realidades diferentes criam unidades contraditórias. Em tais unidades, a contradição é essencial: não é um mero defeito do raciocínio. Num sentido amplo, filosófico, que não se confunde com o sentido que a lógica confere ao termo, a contradição é reconhecida pela dialética como principio básico do movimento pelo qual os seres existem. A dialética não se contrapõe à lógica, mas vai além da lógica, desbravando um espaço que a lógica não consegue ocupar.

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1... Hegel descrevia o processo global da realidade da seguinte maneira: a Idéia Absoluta assumiu a imperfeição ( a instabilidade) da matéria, desdobrou-se em uma série de movimentos que a explicitavam e realizavam, para, afinal com a trajetória ascensional do ser humano, iniciar — enriquecida — seu retorno a si mesma. Essa descrição — que é claramente idealista — supõe o conhecimento do ponto de partida e do ponto de chegada do movimento da realidade. Quer dizer: é a descrição do processo da realidade como uma totalidade fechada, “redonda”. Marx, como materialista, não podia aceitar essa descrição: para ele, o processo da realidade só podia ser encarado com uma totalidade aberta, quer dizer, através de esquemas que não pretendessem “reduzir” a infinita riqueza da realidade ao conhecimento.

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Hegel, com a dialética dele, lançou as bases para a “fluidificação” dos conceitos; em Hegel, no entanto, a “fluidificação” ficava limitada pelo caráter excessivamente abstrato do quadro global (totalidade) da história humana. Isso se vê, por exemplo, no uso do conceito de natureza humana: em Hegel, o ser humano que promovia o movimento da história era uma abstrata “auto-consciência”, ligada à tal da Idéia Absoluta, praticamente desvinculada dos problemas que afetam o corpo dos homens, de modo que a “natureza humana”, tal como Hegel a entendia, era idealizada, tinha muito pouco de “natureza” e por isso lhe faltava uma dimensão histórica mais concreta. Marx, por sua vez, conseguiu “fluidificar” muito mais radicalmente o conceito de natureza humana. Para Marx, o homem tinha um corpo, uma dimensão concretamente “natural”, e por isso a natureza humana se modificava materialmente, na sua atividade física sobre o mundo: “ao atuar sobre a natureza exterior, o homem modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza”. O movimento autotransformador da natureza humana, para Marx, não é um movimento espiritual (como em Hegel) e sim um movimento material, que abrange a modificação não só das formas de trabalho e organização prática de vida, mas também dos próprios órgãos dos sentidos: o olho humano passou a ver coisas que não (p.53) enxergava antes, o ouvido humano foi educado pela música para ouvir coisas que não escutava antes, etc. “A formação dos cinco sentidos” — escreveu Marx — “é trabalho de toda a história passada”.

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Engels concentrou, então, sua atenção no exame dos princípios daquilo que ele chamou de “dialética da natureza” e chegou à conclusão de que as leis gerais da dialética (comuns tanto à história humana como à natureza) podiam ser reduzidas, no essencial, a três:
  1. lei da passagem da quantidade à qualidade (e vice-versa);
  2. lei da interpenetração dos contrários;
  3. lei da negação da negação.
A primeira lei se refere ao fato de que, ao mudarem, as coisas não mudam sempre no mesmo ritmo; o processo de transformação por meio do qual elas existem passa por períodos lentos (nos quais se sucedem pequenas alterações quantitativas) e por períodos de aceleração (que precipitam alterações qualitativas, isto é, “saltos”, modificações radicais). Engels dá o exemplo da água que vai esquentando, vai esquentando, até alcançar cem graus centígrado e ferver, quando se precipita a sua passagem do estado líquido ao estado gasoso.
A segunda lei é aquela que nos lembra que tudo tem a ver com tudo, os diversos aspectos da realidade s entrelaçam e, em diferentes níveis, dependem uns dos outros, de modo que as coisas não podem ser compreendidas isoladamente, uma por uma, sem levarmos em conta a conexão que cada uma delas mantém com cosias diferentes.conforme as conexões (quer dizer, conforme o (p.59)contexto em que ela esteja situada), prevalece, na coisa, um lado ou o outro da sua realidade (que é intrinsecamente contraditória). Os dois lados se opõem e, no entanto, constituem uma unidade (e por isso esta lei já foi também chamada de unidade e luta dos contrários).

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A terceira lei dá conta do fato de que o movimento geral da realidade faz sentido, quer dizer, não é absurdo, não se esgota em contradições irracionais, ininteligíveis, nem se perde na eterna repetição do conflito entre teses e antítese, entre afirmações e negações. A afirmação engendra necessariamente a sua negação , porém a negação não prevalece como tal: tanto a afirmação como a negação são superadas e o que acaba por prevalecer é uma síntese, é a negação da negação.
Essas leis já se achavam em Hegel; Engels procurou resgata-las do idealismo hegeliano e dar-lhes um sentido claramente materialista. Expondo, simplificadamente, algumas das noções básicas da dialética, Engels teve um imenso êxito e exerceu uma influência notável no pensamento de várias gerações de operários conscientes e militantes socialistas. A polêmica de Engels contra Dühring se tornou um marco na história das idéias do movimento operário.

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Houve revolucionários que reagiram contra a deformação da concepção marxista da história. Rosa Luxemburg (1871-1919) e Lênin (1870-1924) se destacaram na revalorização da dialética. Invocando uma frase de Engels no Anti-Dühring, Rosa sustentou que a história mundial se achava em face de um dilema: ou o socialismo vencia ou o imperialismo arrastaria a humanidade (como na Roma antiga) à decadência, à destruição, à barbárie.


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Por isso se compreende que um marxista como Louis Althusser tenha chegado a se convencer de que a história é um processo sem finalidade (s) e sem sujeito (s), isto é, um processo mais ou menos automático, cujos movimentos são determinados (p.78) por estruturas nas quais não existe, concretamente, espaço para as iniciativas do sujeito humano. Essa concepção — ressalvada a honestidade subjetiva do filósofo francês — reflete uma impotência em face da necessidade de pensarmos dialeticamente as coisas que existem à nossa volta. Se a história ainda está sendo feita, em medida inaceitável, pelos outros, então o problema está em passarmos a fazê-la mais decisivamente nós mesmos. E, se as formas de organização criadas para isso estão funcionando de maneira insatisfatória, o problema está em ativá-las ou em mudá-las, conferindo-lhes a eficácia que deveriam ter. Althusser preocupou-se sinceramente, ao longo de muitos anos, com essas questões; mas sua concepção da história, que é uma concepção antidialética, não o ajudou a encaminhar nenhuma solução para elas.

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A falta de uma compreensão dialética desses problemas e avidez dos indivíduos pela comunidade (por formas de convivência mais profundas) levam as pessoas, com freqüência, a aderirem apaixonadamente, a sucedâneos de formas de existência autenticamente comunitárias (quer dizer: levam-nas a se integrarem em pseudocomunidades, em caricaturas de comunidades). É o que acontece, por exemplo, com algumas pessoas que passam a militar fanaticamente em organizações de tipo fascistas, que se tornam propagandistas tempo integral de seitas religiosas “salvacionistas”, viram “formigas” num “formigueiro” qualquer. E é também um fenômeno que se manifesta, com gravidade bem menor, no caso de certos grupos de jovens que se irmanam na “curtição” de uma mesma diversão ou de uma moda passageira intensamente vivida.
A falta da dialética e o anseio pela comunidade, combinados, podem igualmente influir — e com freqüência influem mesmo — no comportamento dos revolucionários. Antes de poder transformar a sociedade na qual nasceu e atua, o revolucionário é em boa parte formado por ela, de modo que seria ingenuidade supor que ele possa permanecer completamente imune aos venenos dela.

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Um espírito agudamente dialético como o poeta Bertolt Brecht disse uma vez: “O que é, exatamente (85 tem um desenho por isso pula para p.86) por ser tal como é, não vai ficar tal como está”. Essa consciência da inevitabilidade da mudança e da impossibilidade de escamotear as contradições incomoda os beneficiários de interesses constituídos e os dependentes de hábitos mentais ou de valores cristalizados.

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A dialética — observa o filosofo brasileiro Gerd Bornheim — “é fundamentalmente contestadora”. Ninguém conseguirá jamais domestica-la. Em sua inspiração mais profunda, ela existe tanto como para sacudir o conservadorismo dos próprios revolucionários. O método dialético não se presta para criar cachorrinhos amestrados. Ele é, como disse o argentino Carlos Astrada, “semente de dragões”.

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2... enunciada por Marx na décima-primeira tese sobre Feuerbach:
“Os filósofos têm se limitado a interpretar o mundo; trata-se, no entanto, de transforma-o.”


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