Grace Stuart Nutlley.
Conversar e convencer. Tradução:Iracema Paiva Castelo Branco.
Editora Record
Li em 2010.
9
um cidadão que viajava pelo estado norte-americano de New Hampshire
foi atraído por um milharal plantado numa encosta muito íngreme
.Vendo um fazendeiro á entrada da propriedade, freou o carro e
perguntou-lhe, apontando naquela direção:
—como é que o senhor
consegue arar aquele terreno? Parece-me tão íngreme...
—e quem lhe disse que
eu aro alguma coisa? —fez o outro. —quando chega a primavera e a
neve derrete, são as pedras que rolam lá de cima que abrem os
sulcos.
—formidável! —
exclamou o forasteiro. — e como consegue plantar?
—plantar? Eu? Só o
que faço é encostar-me aqui,na porta e atirar as sementes com a
espingarda.
—o quê? Verdade?
—perguntou o outro, estupefato.
—ora, claro que não!
—tranqüilizou-o o fazendeiro. —Conversa minha!
É que o fazendeiro
reconhecia a importância básica da conversa com um intercâmbio
entre duas ou mais pessoas —o que explica falar e escutar, dar e
receber.
17
A conversa é o meio mais importante de que dispomos para
transformamos conhecimentos casuais em verdadeiras amizades.
É impressionante o
número de vezes em que não sabemos o que nos vai dentro da cabeça
senão quando as idéias se filtram através do cérebro,
exprimindo-se em palavras!
18
Emerson exprimiu essa noção de forma sucinta: “É absolutamente
certo em uma conversa sincera e feliz duplica nossas faculdades e
que, no esforço de revelar nossas idéias a um amigo, nós as
tornamos ainda mais claras para nós mesmos ,envolvendo-as com
ilustrações que nos ajudam a deleitam”
24
“Você” — O seu melhor tema
Comece desde já a
procurar temas de conversa dentro de você mesmo,pois é aí que se
encontra sua melhor fonte de suprimento. Reexamine vida e experiência
passadas. Tudo que lhe aconteceu tem real interesse, e importância
também, pois fez de você o que é agora.
Medite sobre sua
pregressa e responda as seguintes perguntas:
PRIMEIRA: “Que
experiência tive?”
Nesta pergunta, inclua
a sua infância, tempos de escola , férias, estudos funções que
exerceu, hobbies e interesses que cultivou, tanto no passado quanto
no presente.
Não se apresse demais,
pois há muitos ângulos proveitosos a serem explorados. As
experiências que se destacarem com nitidez em sua mente serão, é
claro, bom material de conversação, sem que, por isso, você vá
desmerecer fatos mais corriqueiros.
Por exemplo: passou a
infância no campo ou na cidade? Ou numa cidadezinha do interior? Num
outro país, talvez? São fatos que por si sós , já fornecem boa
base para uma conversa, permitindo-lhe comparar ou estabelecer o
contraste entre as diversas facetas de sua vida infantil com a de
outras pessoas.
Pense em sua vida
escolar, seguindo o mesmo critério. O que gostava mais de estudar?
Do que não gostava? Ás vezes, (25)
recuando no passado, você poderá chegar a entender por que
reagia de certa forma aos diversos estudos. recorde professores,
fazendo-os passar pelo mesmo crivo.afinal, todos contribuíram
potencialmente para torná-lo o que é hoje.e não se surpreenda se
descobrir que deve muito mais àqueles de quem menos gostava!
Penetre agora em sua
adolescência com a mesma curiosidade e espírito crítico. “águas
passadas” retornarão á sua mente coisa fascinante poderá ser
evocada em diálogos agradabilíssimos!
SEGUNDA: “o que
estudei e o que li?”
Comece por um resumo de
sua educação, examinando-a nos mínimos detalhes. Analise, depois,
os conhecimentos adquiridos através de livros, peças teatrais,
música, arte e televisão. O que leu ultimamente sobre o momento
atual — política,conquistas científicas, assuntos internacionais?
Será que alguma vez já
estudou, em um sentido menos formal, as regras de um jogo popular ou
chegou algum dia a participar de competições esportivas? Ou como
simples espectador? Já se dedicou alguma vez,por exemplo, á
jardinagem ou a algum trabalho manual? Coleciona, por acaso,selos,
moedas,botões?
TERCEIRA: o que
imaginei ou sonhei?
Se você parar para
pensar nisso verá que nem todas assuas fantasias são de foro intimo
e pessoal. Muitas se prestam a discussão. Não fuja timidamente
diante da idéia de que passa tempo precioso dando asas à
imaginação, pois sonhar de olhos abertos é, geralmente, tão
construtivo quanto agradável. Muito deve o progresso do mundo aos
sonhos dos homens!
QUARTA: o que sinto e
em que creio?
Seu objetivo na vida,
ambições e projetos grandiosos fazem parte de sua fé em você
mesmo. Opiniões e crenças sobre questões vitais e pontos
controvertidos surgem, frequentemente, no meio das conversas. Se você
não tiver opiniões ou convicções, sentir-se-á desarvorado.
Melhor tratar de ter alguma!
... No momento, porém,
estamos apenas interessados num ponto: o tema. Uma vez que você
tenha algo a dizer, vá pensando na técnica a aplicar para melhor
lidar com seu material. A fim de conseguir a forma ideal de
conversação e o estilo mais adequado.
27
A humanidade é uma
graça — e como é variada! Não há duas pessoas iguais. E a gente
tem de reconhecer e respeitar o fato de que, na Terra, cada ser
humano difere de seus semelhantes. Talentoso ou embotado, fascinante
ou insípido — cada qual é único à sua maneira. E isto,
certamente, desperta interesse!
27
Até a pessoa mais
cacete do mundo pode ser tolerada, e até mesmo apreciada, se
encarada como um problema humano. E você nunca se cansará, caso se
aproxime de alguém com a (28) idéia de compreende-lo e descobrir o
que mais o entusiasma. Não por uma questão de superioridade ou
inferioridade. Esforce-se por ser um ouvinte atento e lucrará com
uma vibrante exposição de pontos de vista.
28
É como na velha
história do candidato a jurado, que declarou peremptoriamente ao
juiz:
— Não posso servir
de jurado, Meritíssimo Juiz! Só de olhar a cara deste homem já
estou convencido de que é culpado!
— Pissss! — fez o
juiz. — este aí é o advogado de defesa!
28
A arte do contista,
como de quem narra contos, desenvolve-se através de cuidadoso
espírito de observação. No ato banal de recolher um pedaço de
barbante, Maupassant inspirou-se para a feitura de um de seus mais
notáveis contos. Chekhov, para escrever uma de suas histórias,
baseou-se no modo bastante peculiar como os amigos de determinada
dama a cumprimentavam (“Você querida”) e foi pela repetição
dessa frase que Chekhov analisou o caráter da mulher.
32
Evite, também, a
“fofoca”. Além der infantil e demonstrar imaturidade, é
inaceitável num grupo social. Na melhor das hipóteses, é
estupidez; na pior, pura maldade. Se entre amigos é essa a sua
maneira predileta de ser, que dúvidas terão do que deles você dirá
pelas costas! Só os espíritos muito mesquinhos, vazios ou medrosos
contentam-se com conversas tão banais e maliciosas!
32
É sempre gostoso ouvir
alguém capaz de rir de si mesmo — o que geralmente se receia são
as pessoas que riem à custa dos outros.
32
É através da troca de
idéias que se alcança o pleno desenvolvimento mental.
33
Como dizia Francis
Bacon: “Há livros que devem ser saboreados; outros, engolidos; e
bem poucos, mastigados lentamente e digeridos.” Varie sua técnica
de leitura e leia segundo a disposição do momento. Não deixe de
iniciar a leitura de um novo livro só porque não acabou de ler o
anterior.
36
Mede-se a pessoa
interessante por sua agilidade mental e alegria de viver. Poucas
pessoas — se é que há alguma — lhe perguntarão pelo diploma
superior. O que todo mundo quer saber é se você sabe agradar, e
apenas o avaliará pelo que (36) como personalidade à parte, você
lhe puder oferecer.
36
... Assim sendo, saber
o que os outros lêem faz, também, parte de seu horizonte cultural,
e isso lhe permitirá, em certas ocasiões contrapondo opiniões,
injetar espírito e vida numa conversa enjoada.
38
Então, se você
escolher um livro de leitura demorada, um tanto monótona (Thackeray,
H.G.Wells ou mesmo Platão!), verá que é um meio mais eficiente de
chamar o sono do que contar carneirinhos!
39
Cabe aqui um bom
conselho de Francis Bacon:
“Há livros que devem
ser saboreados; outros, engolidos; e bem poucos, mastigados
lentamente e digeridos. Isto é: alguns livros devem ser lidos por
partes; outros, lidos, mas sem curiosidade; e bem poucos, lidos
integralmente, com diligência e atenção.”
39
Um romance (40) começa
pela exposição de uma idéia ou princípio — o tema — que a
história ilustra, explora e desenvolve. Retire de um bom romance o
miolo — sua história — e ainda sobrará o tema básico. A idéia
que a inspirou, o princípio que o autor quis ilustrar.
40
Por exemplo: por que
John Steinbeck denominou seu livro Homens e Ratos? Se
recordarmos o poema de Robert Burns acerca de um ninho de inofensivos
ratinhos do mato destruído por culpa de ninguém, encontraremos o
sentido da idéia de Steinbeck: “Os melhores projetos de homens e
ratos podem perder-se”. Vê-se logo que se trata de uma história
de gente humilde e insignificante, e que vai ocorrer uma destruição
de projetos e sonhos, que os personagens, impotentes, não
conseguirão evitar.
Da mesma forma, o
estranho título escolhido por Ernest Hemingway para seu livor Por
quem os sinos dobram tem um significado oculto. A citação da
primeira página é de Devoções, de John Donne: “A morte de
qualquer homem reduz-me porque estou envolvido na Humanidade / E, no
entanto, nunca pergunto por quem os sinos dobram;/ Dobram por você.”
Ficamos assim, logo sabendo tratar-se da história de um homem cuja
morte é uma tragédia para toda a Humanidade e para cada um de nós
mesmos, em particular, pois dela fazemos parte. Sua perda é nossa
perda. À medida que lemos a história desse homem, vemo-lo, pelos
olhos do autor, não apenas como um símbolo da guerra em que está
envolvido, mas de todas as guerras e de todos os heróis.
41
Como Arnold Bennett
dizia: “A pessoa que não gasta tempo pensando no livro que leu,
como fazia enquanto lia, insulta o seu autor e a si mesmo.”
41
“Que livro encantador
eu li no outro dia!
O autor, quem é? Dizer
não saberia.
Um Fulano-de-Tal
qualquer. Mas esqueci
Tão depressa! Espere!
Tenho o nome aqui
Da obra. Qual é mesmo?
Eu sei! Sei que sei!
Tão linda história,
que ao fim do livro cheguei...
O que dizia? Ó cabeça
dura a minha!
O tema — bem comum —
tinha herói e mocinha,
E, ou me engano ou não,
no caso entrava o amor.
Capa?! Sim! Amarela!
Linda, a sua cor!”
43
Não é metendo-se em
apuros que a gente adquire novas experiências. A aventura e a
excitação de saber coisas novas valem pela abertura de novas
perspectivas e novos horizontes.
45
A mente pode, é claro,
deteriorar-se em qualquer época, não por questão de idade, mas por
falta de uso. Esta a razão por que aos adultos parece mais difícil
aprender que às crianças.
47
A imaginação e a
reflexão ou meditação são essenciais para a boa saúde mental e
emotiva. Se você não tiver muita imaginação, ou se a deixou
perder-se, reviva-a! Trate de exercitar a imaginação, vendo além
da aparência das coisas.
48
Coloque vinte e um
objetos diferentes numa bandeja ou sobre uma mesa — carretel de
linha, um selo etc. Dê, a cada pessoa, papel e lápis,
concedendo-lhes exatamente dois minutos para contemplar os objetos.
Cubra a mesa ou bandeja e peça a todos que escrevam tantos objetos
quantos conseguirem recordar.
50
Desenvolva o hábito do
caderninho de anotações para tudo o que deseja lembrar e
descobrirá com que cuidado passou a ler e a escutar — e quanta
coisa deixa de lado! O fato de saber que vai anotar alguma coisa faz
de você um leitor e ouvinte mais atento. Logo verificará que já
não mais relê as notas quando as deseja relembrar em sua
totalidade. Sua maneira mais cuidadosa e inteligente de escutar,
somada ao hábito de escrever, será o suficiente.
52
A pessoa sempre
realista, prática, sem imaginação, que receia viver o seu mundo
interior da mesma forma como vive o exterior, merece piedade e
compaixão, pois envelheceu. Há pessoas que chegam a essa espécie
de velhice aos vinte anos, enquanto outras sempre escapam disso.
52
Pensar é tarefa
difícil. É necessário passar tempo pesando e comparando dados,
para se chegar a juízos independentes. O pensar envolve contínuos
reajustes a novas idéias, à constante mutação que é a
característica proeminente da vida.
Meditar tranquilamente,
vez por outra, não é perda de tempo. É, pelo contrário, um
processo extremamente valioso, a que só se pode entregar uma pessoa
plenamente amadurecida.
52
Não se esqueça de que
toda invenção do gênero humano, toda conquista, todo progresso da
civilização nasceu dos sonhos de alguém.
55
O rápido progresso da
civilização nos últimos quinhentos anos, em comparação com os
milênios anteriores, não é devido ao acaso ou a um repentino
aumento da inteligência do homem, mas a um vocabulário enriquecido
que permite a melhor e mais completa compreensão e comunicação.
59
O domínio de um
idioma, com vista à conversação, inclui a dicção e a voz.
59
A voz normal pode ter
um extensão de pelo menos oito inflexões. Numa conversa normal, a
gente usa de quatro a cinco.
59
Não confunda inflexão
com intensidade. A inflexão significa colorido ou variedade de
diapasão.
60
Para bem pronunciar,
você precisa usar plenamente o maxilar inferior, a boca, os lábios,
a língua e os músculos faciais. Evite falar por entre os dentes,
com os dente cerrados ou com o lábio superior contraído. Evite,
igualmente, franzir os lábios, arreganhar os dentes, passar a língua
pelos lábios ou qualquer outro trejeito que prejudique a enunciação
das palavras, deformando-as. Pratique ler em voz alta,
preferivelmente olhando, de vez em quando, para o espelho e
pronunciando cada palavra lenta e exageradamente.
62
A cortesia e as boas
maneiras pagam dividendos numa conversa, abrandando a oposição e o
antagonismo. Até a pessoa mais obstinada e de mais difícil trato
amansa um pouco sob o impacto constante de uma sincera cortesia.
63
É o bom senso que faz
com que você pense antes de falar, mas é o bom gosto que dita as
linhas do pensamento: “Será que alguém se vai ofender ou
embaraçar com o que vou dizer?” Ninguém fica à vontade estando
embaraçado e não há pior interlocutor que aquele que está pouco à
vontade.
É o bom senso que
aconselha discrição quando se revelam segredos pessoais, mas é o
bom gosto que faz com que se fuja das conversas subjetivas — a
saúde, os filhos, o marido (ou a esposa) e o problemas pessoais —
em lugar de assuntos de interesse geral. O bom gosto impede que se
introduzam assuntos ofensivos ou que se participe de uma discussão
de forma exageradamente emotiva ou agressiva.
64
A razão pela qual
certas pessoas ficam em má posição quando discutem determinados
assuntos — principalmente onde haja controvérsia, como a política
— é que elas pouco ou nada sabem sobre eles, emb ora mantendo uma
opinião fixa. Por isso, refugiam-se nos epítetos, recurso infantil
a que nunca se deve recorrer, ainda que se tenha de aceita-lo
gentilmente... nos outros! Jamais permita que a falta de educação
alheia o induza a dar tão lamentável exibição de mau gosto!
64
É de boa política
evitarem-se afirmações de opiniões empregando as palavras
“positivamente”, “definitivamente” ou “absolutamente”.
São palavras que criam antagonismos, cerrando a porta à discussão
geral e à livre exposição de idéias.
64
Você pode tomar por
exemplo a cerimônia japonesa do chá, forma social sumamente
elaborada, baseada em regras muito definidas, todas com o objetivo de
minimizar a própria pessoa e pôr em relevo as demais. Entre as
diversas regras dessa cerimônia, a que se refere à conversação
considera gafe social qualquer tipo de declaração categórica e
positiva. Admite-se (65)qualquer tema de conversa, da mesma forma que
a exposição de opiniões e fatos, mas toda observação deve ser
feita de tal modo que um outro convidado possa desenvolvê-la ou
orienta-la para uma nova discussão. Estranho como pareça, é
considerado vulgar expressar-se uma opinião pessoal definitiva ou
declaração dogmática durante tais cerimônias.
65
Os epítetos e as
alusões irônicas jamais revelam bom gosto, seja onde for. Os nomes
vulgares, designativos dos diversos grupos étnicos ou raciais, são
desagradáveis e ofensivos para qualquer um que pertença ou não a
tais grupos. Seu emprego apenas indica mau gosto, preconceito e
intolerância, insegurança e complexo de inferioridade. Abstenha-se
de empregar tais expressões, tão desagradáveis em qualquer
ocasião; caso contrário, elas poderão escorregar inadvertidamente
em meio ao que você diz, embaraçando não apenas você mesmo, como
quem o estiver escutando!
Estreitamente ligados
às alusões irônicas, estão os comentários depreciativos, feitos
por quem subestima uma ação ou fato na presença de quem deles se
orgulha.
66
A simplicidade é pano
de fundo do bom gosto.
66
A sinceridade é o
produto da honestidade e da simplicidade.
68
A brevidade e
simplicidade são fatores dominantes em boa técnica de conversação.
Quando você quiser dizer alguma coisa, certifique-se, antes de
começar, de que tem a idéia bem formada na mente, a fim de que a
possa expressar de forma razoavelmente concisa.
70
No mundo dos adultos
não há medalhas para a onisciência.
71
O sarcasmo geralmente
contém uma certa dose de inteligência, mas você pode muito bem ser
inteligente sem ser necessariamente sarcástico. Se for capaz de
fazer comentários inteligentes, faça-os, pois eles valorizarão seu
modo de conversar. O sarcasmo é que não é válido.
71
Ninguém pode ser
céptico. Na verdade, o cepticismo nada mais é que uma fuga à
realidade e à responsabilidade, não sendo, de forma alguma, uma
atitude aconselhável. Ninguém pode ser céptico em um “bom papo”
ao mesmo tempo, pois a atitude do céptico, por si só, já acaba com
qualquer conversa “genial”.
72
Bom gosto
Conhecimento dos demais
Moderação de
expressão
Cortesia
Bom humor
Sinceridade
Agilidade mental
Concisão simplicidade
Modéstia
Maneira positiva de
encarar as pessoas e a vida.
72
Por exemplo, faça com
que eles participem de uma conversa com o decidido propósito de
evitar qualquer declaração ou opinião que possa matar a discussão
do assunto. Explique-lhes as regras, antes de iniciar o jogo — será
um interessante e instrutivo jogo de salão.
76
Despertar a curiosidade
é um dos métodos. A curiosidade é uma característica fundamental
da humanidade, muitas vezes atribuída erroneamente apenas à mulher
(Como dizia Oscar Wilde: “Sabe como é a curiosidade da mulher.
Quase tão grande como a do homem”)
77
Por “ego”
entendemos a necessidade geral que todos nós sentimos de nos
expressarmos, o prazer que encontramos na apresentação de idéias,
conhecimentos e opiniões. Um dos meios mais seguros de fazer com que
os outros falem é dirigir-lhes perguntas acerca de seus passatempos,
ocupações, ou idéias.
78
O terceiro método pelo
qual lhe será possível despertar o interesse numa conversa é
atrair por meio do desafio, o que de certa forma, é comum em todos
nós. Pouca gente resiste a um desafio amável. Os mais tímidos
podem não se erguer para defender ou atacar, mas até eles se
sentirão geralmente tentados. Esta é uma técnica muito eficaz de
atrair atenção.
79
Quando aplicar a
técnica do desafio, a você cabe a responsabilidade de manter a
conversa dentro dos limites.
79
O quarto método, com o
qual você conseguirá interessar os demais pelo que tem a dizer, é
atrair através do espírito criador de cada um. Aqui você tem de
representar o papel de detetive amador para descobrir em que terreno
reside o talento da pessoa com que estiver falando.
81
Aprenda a arte de
expressar uma sincera admiração e você dará e terá muito prazer.
Verá como o hábito de dizer coisas agradáveis e admirar, em voz
alta, tudo o que merece admiração traz verdadeiras compensações.
Fuja dos falsos elogios, pois são poucos os que neles acreditam.
Todo mundo recebe com agrado um elogio honesto.
81
Mantenha uma atitude
cordial e uma expressão alegre enquanto conversa, deixando que o
assunto, mais que seu tom de voz, exprima o desafio.
82
Aos produtos preparados
falta sempre o sabor das observações improvisadas. Não se apegue
demais às frases feitas — ou aos poucos deixará até de pensar.
83
Você não precisa de
justificativa especial alguma para fazer comentários agradáveis.
Seu interesse por todos os membros da espécie humana aumentará até
ao ponto em que você sinta um desejo autêntico e sincero de agradar
aos demais!
85
Se a outra pessoa é
que lhe faz as perguntas, aproveite-as, pois, com certeza, revelam
aquilo por que ela mesma se interessa. O negócio é estar de olho
vivo, preparado para o que der e vier. O entusiasmo e interesse que
você demonstrar serão a fagulha, e com o tempo se estabelecerá um
delicioso intercâmbio social.
86
Numa conversa a dois, a
gente tem amplas oportunidades de falar. Não será necessário
desgastar energias para atrair a atenção do outro, uma vez que,
sendo apenas dois, ninguém será ignorado. E mais: não há por que
se preocupar em se mostrar muito inteligente ou perspicaz, ou mesmo
profundo demais, uma vez que não há competidores por perto.
Acalme-se, falando e agindo descontraidamente.
87
William Hazlitt,
ensaísta inglês, disse uma vez: “Queira agradar e todos
infalivelmente se agradarão de você”.
87
Will Rogers já dizia:
“Jamais conheci alguém de que não gostasse.”
88
Por vezes,
principalmente quando você está num grupo muito numerosos e muitos
dos presentes lhe são estranhos, uma boa idéia é separa-los por
categorias. Não espere sucesso total nesse tipo de classificação,
mas você terá de adivinhar bastante e experimentar um bocado. Por
exemplo: as pessoas de idade (uma geração mais velha, pelo menos)
e os jovens formam categorias fáceis de distinguir. O sexo oposto
faz outra categoria que deve ser subdividida em grupos menores à
medida que você prossegue nessa tarefa. As pessoas importantes são
outra categoria não tão fácil de reconhecer, exigindo, algumas
vezes, cuidados especiais.
89
Os jovens são muito
sensíveis e idealistas, apesar de todas as suas jactanciosas
pretensões. Não tente tirar-lhes as ilusões! Aproveite-as.
Deixe-os expressarem-se livremente, pensar em voz alta e
extroverterem-se! É assim que crescerão e amadurecerão.
90
Via de regra, é melhor
deixar que a pessoa de categoria elevada conduza a conversa. Enquanto
a estiver escutando, não se sente na beirinha da cadeira.
Descontraia-se, mostre-se atento. Esta é uma das formas de
demonstrar respeito.
90
Não fale nunca com
ares de superioridade a ninguém, ainda que considere tal pessoa um
subalterno.
91
Relendo um velho livro
de Etiqueta, publicado na Inglaterra em 1870, encontrei este
delicioso conselho para as damas, no capítulo sobre conversação:
“Falando de um modo
geral, não é prudente que as damas procurem conversar com os
cavalheiros sobre assuntos políticos ou financeiros. Toda informação
que uma dama talvez possa adquirir ou reter sobre tais assuntos é
tão pequena em comparação com o conhecimento dos homens, que a
discussão não as elevará no conceito masculino. Entretanto, é
louvável que uma dama deseje ilustrar-se, para que possa compreender
algo do que se discute em sua presença. Deve, porém, abster-se de
toda controvérsia sobre tais assuntos, uma vez que a mentalidade
feminina raramente é capaz de reter coisa alguma. Os homens são
muito intolerantes com as mulheres dadas à discussão ou à
polêmica, quando se trata de coisas consideradas fora de sua esfera,
mas são muito indulgentes com a ouvinte atenta e modesta, que só
faz perguntas para instruir-se mais. Os homens gostam de ensinar; mas
poucos acreditam que, em ramos exclusivamente seus, possam aproveitar
qualquer sugestão feminina.”
92
Se você é mulher,
cuidado quando conversar com os homens, para não confirmar o velho
adágio: “Os homens são capazes de travar amizade com uma mulher
quando falam, geralmente rompendo-a quando passam a escutar”. Não
fale demais! Os homens gostam de falar, também!
92
A maioria dos homens
está convencida de que as mulheres são criaturas ciumentas,
incapazes de apreciar realmente um outro membro do mesmo sexo. Prove
ser uma verdadeira dama, encontrando sempre algo de bom para dizer.
Uma pessoa amável como Benjamin Franklim fez a seguinte observação
cínica: “Para conhecer os defeitos de uma dama, elogie-a a uma
amiga!” Não caia nunca nessa armadilha!
93
Quanto menos pensar em
você mesmo e mais pensar nos outros, com maior segurança será bem
sucedido socialmente!
94
Saber escutar exige
sacrifício. E mais: um esforço mental ativo. Esqueça-se de você
mesmo! Escutar é uma das muitas fontes do saber.
95
A mulher, depois de
prolongado monólogo com o marido, interrompe-se, repentinamente,
censurando-lhe sua atitude.
— Mas, querida! —
protestou ele. — Há meia hora que você está falando e eu não
disse nada!
— Pois é! —
exclamou a mulher. — Não estou gostando é mesmo do seu jeito de
escutar!
95
Como ouvinte, o seu é
um papel secundário. Cabe-lhe anular seu “ego” e o desejo de
falar e, simultaneamente, permanecer mentalmente desperto, a fim de
acompanhar na íntegra o fio da conversa ou o pensamento de quem
estiver falando. Uma boa conversa depende tanto de quem sabe ouvir
como de quem sabe falar!
95
Para provar isso, uma
dona-de-casa, enquanto oferecia bolinhos durante um chá, disse,
sorrindo, para seus convidados:
— Os de glacê verde
contêm um pouco de limão, os rosados contêm estricnina.
Sem a menor
preocupação, todos apanharam e comeram uns e outros e ainda lhe
agradeceram!
96
Maria passeava, numa
noite de luar, com o namorado e estava muito feliz com o que diziam.
— Jorge — arrulhou
Maria — os meus cabelos brilham como o ouro?
— Hum-hum.
— Jorge, os meus
dentes são como pérolas?
— Hum-hum.
— Jorge, querido,
meus olhos brilham como estrelas?
— Hum-hum.
— Jorge, querido!
Você diz coisas tão bonitas!
97
É comum o tipo de
pessoa que estraga o ritmo de uma conversa ótima, interrompendo-a
com um “Antes que eu me esqueça...” ou um “Isto me lembra
que...”
98
Há gente que fracassa
no seu papel de ouvinte por covardia mental. Tem medo de ouvir novas
opiniões. Afasta-se com frases do tipo: “Não quero saber disso”,
ou “Não é assunto meu” ou “Não havia pensado nisso”. E dá
por encerrado tudo o que ainda se poderia dizer sobre o assunto. Se
pensa que assim age por modéstia, engana-se a si mesma, pois apenas
procura defender-se. Apavora-a enfrentar idéias novas, examina-las
mentalmente — por isso, foge. Mera covardia!
99
Lembre-se de que o
silêncio é usado para demonstrar nosso respeito mais profundo e
nosso mais reverente tributo.
99
Muito diferente é o
silêncio de pedra que certas pessoas usam quando se aborrecem ou não
concordam com alguma coisa. Com isso, esperam silenciar a pessoa que
fala, ou demonstrar cabalmente desaprovação e desinteresse. Na
verdade, porém, as pessoas que assim agem estão geralmente certas
de sua incapacidade para discordar ou orientar a conversa em outros
rumos; por isso, escolhem o caminho muito reprovável e irritante do
silêncio. Pode-se perfeitamente ignorar tais pessoas em um grupo,
mas se lhe perfeitamente ignorar tais pessoas em um grupo, mas se
lhe acontecer encontrar duas delas, juntas, mantenha o senso de humor
diante de tal grosseria e caia fora o mais rápido possível!
99
Outra espécie de
silêncio negativo é aquele que Samuel Johnson descrevia como “a
melancólica calma do ocioso vazio”. Caracteriza-se por um rosto
absolutamente inexpressivo, “parado como uma porta fechada”. Ao
contrário do silêncio de pedra, que pode ser defensivo ou ofensivo,
o silêncio vazio existe porque o ouvinte não usa a cabeça — não
se interessa por nada e não faz o menor esforço em contrário. Essa
é uma grave infração às mais comezinhas regras de etiqueta social
— adormecer mentalmente, da mesma forma que adormecer fisicamente,
na presença de outras pessoas!
100
A verdadeira atenção
atinge não só o corpo, como o espírito. Quando os olhos divagam, a
mente divaga também. Não se sente encolhido na cadeira como quem
espera um trem atrasado! O rosto, os olhos, o corpo todo deve
refletir sua atenção. Não brinque com os cabelos ou roupa, nem
amacie o braço da poltrona ou gire o relógio de pulso, ou volte,
distraidamente, as páginas de um jornal ou revista. Uma boa atenção
requer a ativa cooperação de cada partícula de seu ser!
100
Suas observações como
ouvinte deverão servir de estímulo para quem fala, assegurando-lhe
seu interesse e atenção. Muitas vezes, quem fala faz uma pausa à
espera de qualquer comentário. Em tais casos, você poderá oferecer
um comentário aparentemente sem importância, mas que contribua para
o prosseguimento da conversa — se o afastar do papel de ouvinte!
Exemplos:
— Que interessante!
— O que aconteceu?
— O que fez, então?
— Imagino como se
sentiu.
— Isso deve ter-lhe
tornado as coisas bem difíceis.
101
Claro que é melhor
ficar calado, em caso de dúvida, mesmo que o julguem um tolo. Pior é
falar e desvanecer qualquer dúvida a seu respeito!
102
Escutar é uma das
muitas fontes do saber. Você aumenta o conhecimento dos fatos,
descobre a atração de certas palavras bem escolhidas, a necessidade
de expressar claramente as idéias — se quiser ser compreendido.
Talvez o fato mais importante: você aprende a conhecer as pessoas,
pois é através do que dizem que, inconscientemente, elas revelam
muitos traços que lhes marcam a personalidade. Se você sabe
escutar, não revelando seus próprios sentimentos e reações quanto
ao que se diz, tem uma vantagem sobre os demais: quem fala vai pensar
que você não entende o que ele diz e acrescentará mais detalhes
não previstos inicialmente.
103
Quando leio um romance
moderno, lembro-me das palavras de Mark Twain: “O Homem é o único
animal que pode ruborizar-se... e que tem motivos para isso!”
103
A pessoa que escuta e
resolve, finalmente, falar dá mais ênfase ao que diz. Um bom
ouvinte é sempre pessoa popular.
105
Ao tomar a mão de um
deles, porém, examinou-a com crescente excitação.
— Meu Deus! —
exclamou, erguendo os olhos. — Já tinha ouvido falar desta linha,
mas nunca a tinha visto antes! A linha do assassino!
Seguiu-se pesado
silêncio, no meio do qual o homem em questão se levantou, apanhou o
chapéu e saiu da sala sem dizer uma só palavra. A pobre senhora
olhou à volta, consternada.
— Falei alguma coisa
que não devia?
— A senhora não
sabia? — Disse-lhe a anfitriã. — Na semana passada ele foi
absolvido do assassinato da mãe!
106
O momento (107) para se
pensar em cortesia vem antes — não depois — do que se fala!
107
Já houve quem
definisse o tato como a parte não dita do que se pensou. O bom gosto
é refletido pelos bons modos. Ninguém pode ter boas maneiras apenas
seguindo as regras de um livro de etiqueta.
107
As boas maneiras
refletem uma atitude interior, uma certa sensibilidade para os
sentimentos e fraquezas das outras pessoas. São a expressão externa
do tato — uma questão mais de coração que de cabeça.
108
Se você não se
interessa pelo assunto em foco ou está cansado dele, isso não
significa, necessariamente, que todos pensem da mesma forma. Não
permita que sua impaciência o faça esquecer que deve esperar o
melhor momento para mudar a conversa.
109
A verdadeira razão da
distração é a desorganização mental. Na nossa moderna
civilização, somos obrigados a ver e a ouvir muitas coisas ao mesmo
tempo. Mas o impacto não nos deve tornar distraídos. É necessário
que você lute contra a distração com toda a energia possível.
Para ser uma pessoa completa, você precisa dominar sua mente,
dirigindo-a à sua vontade.
110
Às vezes um sorriso
cordial, suficientemente agradável, e uma ligeira pausa farão com
que o “desconhecido” lhe ilumine a mente.
Se não chega a tanto a
sua amabilidade, você pode salvar a situação recorrendo à
franqueza, perguntando-lhe, por exemplo: “Pode-me fazer o favor de
repetir seu nome?” Ou mesmo admitir, com segurança: “Sinto
muito, mas eu lhe pediria que me dissesse seu nome.” São alusões
bem melhores do que dizer “Não me lembro do seu nome”, pois não
acentuam demais seu próprio esquecimento.
111
Quando é você quem
reconhece outra pessoa primeiro, sentindo que ela nem de longe se
recorda de você, ou que ela esqueceu seu nome, seja cortês e
refresque-lhe a memória: “Sou Fulano de Tal, jogamos tênis na
equipe do Clube, lembra-se?” Ou “Nós nos encontramos na casa de
D. Sicrana”. Mas nunca — nunca mesmo — lhe pergunte: “Não se
lembra de mim?”
111
O tato tanto importa na
hora de ouvir um caso como na hora de contá-lo. Num banquete
presidido por Mark Twain, um de seu últimos oradores começou
dizendo:
— Se algum dos
cavalheiros já ouviu esta história antes, interrompa-me.
Ao que Mark Twain,
interrompendo-o, exclamou:
— Meu caro amigo, um
cavalheiro nunca ouviu uma história antes!
112
Se alguém lhe
perguntar categoricamente se á ouviu um caso e realmente você o
conhecer, diga-lhe, por exemplo: “Sim, mas gostaria de ouvi-lo
novamente — não me lembro dele muito bem” ou “Sim, mas pode
contá-lo. É muito bom...” E continue a usar de todo o tato, não
tentando melhorar a narrativa.
112
Se quiser contar outra
história, não faça comparações, nem inicie declarando “Eu sei
de outra muito melhor...” É muito mais delicado dizer em tom de
reminiscência: “Isto me lembra um caso que ouvi...” E lembre-se
sempre de estar atento e compreensivo enquanto estiver esperando a
sua vez de falar!
112
Talvez o defeito mais
comum entre pessoas bem-educadas seja não distinguir entre a
discussão e a disputa. Não há lugar para a disputa numa conversa —
é violenta demais, conclusiva e, infelizmente, mas com muita
freqüência, demasiadamente pessoal para ser uma forma de
entretenimento. Quanto à discussão, é a alma de uma conversa
animada. A exposição, brilhantemente conduzida, de um ponto de
vista diverso dá calor a qualquer troca de idéias.
112
Benjamin Franklin era
um homem de idéias firmes, muitas delas revolucionárias para seu
tempo. No entanto, que habilidade em atrair ouvintes! Em sua
Autobiografia, ele nos conta como lhes atraía a atenção e evitava
a animosidade, pois reconhecia o valor da modéstia no falar:
“Impus-me a norma de
abandonar toda contradição direta aos sentimentos dos outros e
todas as minhas afirmações. Proibi-me, inclusive, o emprego de toda
palavra ou expressão que comportasse uma opinião fixa, como
certamente, sem dúvida etc., e adotei, em seu lugar, expressões
como “Eu penso”, “Eu depreendo” ou “Creio que isso deva ser
assim ou assado”, ou “No momento, parece-me que...” Quando
alguém afirmava alguma coisa que eu julgasse errada, recusava-me o
prazer de contradize-la (113) bruscamente
ou de mostrar-lhe algum absurdo em sua proposição; e, ao
responder-lhe, começava por comentar que, em certos casos ou
circunstâncias, seria correta a sua opinião, mas que, naquele
momento, parecia haver ligeira discrepância. Não tardei a notar as
vantagens dessa modificação nom meu proceder — as conversas em
que intervinha desenvolviam-se de forma mais agradável. A maneira
discreta com que expunha minhas idéias atraía uma percepção mais
fácil e menos contradições.”
113
Uma pessoa convicta
impõe respeito, se é com tato que ela expressa suas convicções.
Cultive o hábito de usar expressões como:
— Sinto não poder
concordar com você sobre este assunto.
— Minha impressão é
outra.
— Poderia dizer-me
como chegou a esta conclusão?
Frases como essas nunca
ofenderão, exceto a um fanático — e um fanático não está
normalmente presente num grupo que se reúne a conversar.
115
No caso de uma
mexeriqueira incorrigível, do qual não se conseguirá livrar de
forma alguma, o jeito será abandonar a diplomacia e declarar
firmemente que não deseja ouvir nada! É um caso em que não se
aplicaria o famoso ditado de Voltaire: “Discordo do que você diz,
mas defenderei até à morte o seu direito de dizê-lo.”
119
A seguir, dedique-se a
aprender bem as histórias que selecionou. Para contá-las de forma
leve e espontânea e no momento oportuno, é preciso que você tenha
praticado previamente. Não conte nunca uma história pela primeira
vez diante de outras pessoas — nem de uma apenas! Uma vez que
esteja dominando completamente suas histórias, conte-as de olhos
fechados, de maneira suave e pausada. Você se dará conta de que,
enquanto as pratica, ajuda-o muito fazê-lo em voz alta.
119
O melhor caso é o que
não exige introdução especial, uma vez que se amolda perfeitamente
à conversa em si. Um caso oportuno sempre ilustrará determinado
ponto ou enfatizará certo argumento com mais eficácia e
dramaticidade que longas e detalhadas explanações. Apresentando um
exemplo concreto em forma de história sentenciosa ou humorística,
você trará a discussão para um terreno pessoal e compreensível.
120
— Minha filha de seis
anos recebeu da tia-avó um presente de Natal. Na hora de escrever um
cartão de agradecimento, eis o que pediu à mãe para que lhe
escrevesse: “Querida tia Luísa: muito obrigada pelo anel de prata.
Era exatamente o que queria — mas não muito!”
120
A maioria dos dcasos
giram em torno de emoções, como alegria, medo, excitação ou ódio.
Quanto mais conseguir contagiar seus ouvintes com tais emoções,
maior será o êxito do que contar. Mostre-se animado durante o
relato, fazendo com que (121) seu rosto e corpo, assim como sua voz,
expressem a emoção que deseja comunicar. Se um dos personagens de
sua história estiver excitado ou enfurecido, fale de maneira
rancorosa e explosiva. Se um outro for tímido, mostre-se atoleimado
e humilde, falando em murmúrios. A dramatização do episódio
contagiará quem o escuta, interessando vivamente. Apresente a vez,
mostrando-se tão intrigado quanto os outros pelo seu desenlace.
122
Um conselhinho extra:
não procure superar a história que ouviu com outra bem melhor. E
nunca apresente uma outra versão da que acabou de ouvir.
123
O que é sutileza: a
arte de dividir um comentário analiticamente, devolvendo-o, após,
em partes, mas sempre com um quê de surpreendente originalidade.
126
Familiarize-se com
alguns dos famosos humoristas mundiais — Dorothy Parker, Robert
Benchley, Will Rogers e Mark Twain, entre outros. Para não citar os
locais. Use, vez por outra, parte de seu material, mãos e
esquecendo, porém , de citar a fonte de referência!
127
Há muita gente que a
uma expressão de uso corrente acrescenta logo um lugar-comum, um
chavão. Tal pessoa jamais dirá que um corredor é “veloz”, mas
sim “veloz como o raio”. Da mesma forma uma pessoa muito queimada
pelo sol não está “vermelha”, mas “vermelha como um camarão”,
e o mendigo jamais será meramente “pobre”, mas sim “pobre como
um rato de igreja”, e o rico viverá a “nadar em ouro”.
127
O uso do chavão indica
simplesmente um mau hábito, e, como todo mau hábito, deverá ser
curado.
127
Um bom exercício, que
você poderá utilizar até em forma de brincadeira de salão, é
anotar o maior número de chavões de que tiver lembrança e, ao lado
de cada um, uma frase original correspondente, usando-o em frases a
fim de comparar-lhes o efeito final. Assim, por exemplo, compare “Ele
ficou branco como papel” com “Ele ficou branco como um fantasma”.
127
Evite fazer uso de
banalidades como as que se seguem, ou mesmo frases semelhanates, em
vez de um dito espirituoso bastante pessoal:
— Meu Deus!
— Não diga!
(128)
— Eu, hem?
— Não brinque!
— O quê?
— O que está
dizendo?
— Quem?
— Como?
— Repita!
— Puxa, vida!
128
Fuja também do hábito
de descrever tudo de que goste com excesso de adjetivação —
“lindo”, “excelente’, “maravilhoso” etc.
128
A mordacidade irrita
mais que diverte. A pessoa mordaz estraga constantemente qualquer boa
conversa, uma vez que jamais encara com seriedade nada do que diz.
Cada réplica sua contém ironia e em geral nada tem a ver com o tema
da conversa. A única razão de ser desse tipo de interlocutor é
fazer rir, custe o que custar. Mostra-se permanentemente disposto a
destruir o ritmo de qualquer conversa, cortando-a, derrubando (129)
um ponto de vista arduamente exposto, ou fazendo alguém de palhaço
— não por hostilidade, mas pura e simplesmente para provocar
risadas.
129
A ironia crônica
nasce, geralmente, de um falso conceito de humor.
129
Vivendo a louvar o
humor, infelizmente encorajamos o falso humorismo, que, na melhor das
hipóteses, aborrece e, na pior, nauseia.
129
Como lidar com uma
pessoa mordaz? Ignorando-a. deixando que suas “gracinhas” caiam
no vazio.
130
É o caso do Embaixador
chinês, em Londres, sentado ao lado de um americano bem
intencionado, mas curto de inteligência, durante um jantar de gala.
Enquanto tomavam a sopa, o americano voltou-se para o chinês e
perguntou:
— Gostar sopa!
Cortesmente, o chinês
inclinou-se num assentimento. Mais tarde, durante os brindes, ele fez
um dos melhores discursos da noite — em inglês oxfordiano. E, ao
sentar-se novamente, após o discurso, voltou-se para o americano e
perguntou-lhe, piscando o olho:
— Gostar discurso?
133
A inflexão e o timbre
da voz, o ritmo do fraseado e articulação das palavras contribuirão
para que a pessoa que estiver do outro lado do fio forme a imagem
visual desejada. Se você falar com voz alta demais e com muita
rapidez, será julgado nervoso e intranqüilo. Se você falar
lentamente e com certa vacilação, seu interlocutor poderá ter a
impressão de que você é inseguro e hesitará em depositar
confiança em sua pessoa.
134
Quando o telefone
chama, alguém está prestes a penetrar na intimidade de sua
personalidade, e, portanto, você deve ser capaz de se controlar e
não ficar à mercê de seu humor. Ainda que seja surpreendido
irritado, fora de si, aborrecido, antes de retirá-lo do gancho,
procure serenar-se.
134
Um minuto de cortesia
evita muitos mais gastos, mais tarde, em lamentáveis pedidos de
desculpas.
136
Lembre-se de que
pessoas ocupadas demais nunca têm tempo para conversas muito
prolongadas. Isto ocorre geralmente com as donas-de-casa ou com
pessoas que trabalhem fora. A não ser em caso de muita urgência, é
incorreto chamar quem quer que seja em seu local de trabalho, pois
não somente fará com que a pessoa desperdice tempo que lhe é pago
para trabalhar, como também poderá atrapalhar-lhe as ocupações.
136
Se apenas puder dispor
de alguns minutos, diga-o. que o seu tom de voz, assim como suas
palavras, reproduzam seu sentimento. Se possível, explique-lhe os
motivos que o impedem de prolongar a conversa. E não se esqueça
nunca de voltar a chamar, se, por acaso, o houver prometido.
136
E quando se despedir,
agradeça-lhe a chamada e diga alguma coisa muito amável.
138
Termine sempre as
chamadas telefônicas, pessoais ou de negócios, de uma forma amável.
Se você foi útil no caso, diga que se alegra por ter tido tal
oportunidade. Se foi a outra pessoa que lhe foi útil, expresse-lhe
calorosamente seus agradecimentos. Depois de receber uma chamada
pessoal, demonstre o quanto se sente agradecido por ter sido
lembrado. Cuide de sua atitude ao telefone, da mesma forma como se se
tivesse despedindo de alguém à porta de sua casa. Tenha a certeza
de que a outra pessoa, ao desligar o telefone, conservará na
lembrança a sua verdadeira imagem.
143
O cliente deverá
sempre dar respostas afirmativas. E a atitude vai valer tanto quanto
as palavras. Uma apresentação alegre, cordial e simpática
convencerá.
144
Dê provas de que acha
agradável conversar com a futura cliente. Se for sincero, poderá
conseguir isso facilmente. E estará em condições de oferecer algo
que vai interessar positivamente aos dois.
144
Na conversa de
negócios, como na social, o essencial é um amplo repertório de
interesse. De nada adianta falarmos (145) apenas sobre o assunto que
mais nos interessa — em negócios, tal atitude embrutece e
dificulta a conquista de novos clientes. Afinal, nem todo mundo se
interessa por nossos problemas. Inclinam-se todos muito mais para as
anedotas e casos que lhes ofereçam maiores atrativos. Demonstre
respeito por seu interlocutor falando com clareza. Olhe-o nos olhos,
em vez de desviar o olhar para a janela ou para a parede mais
próxima, e verá que nada é tão difícil como você imaginava!
145
Não hesite em pede ir
uma entrevista às pessoa que você acha que deve ver, mesmo que
pertençam a uma categoria comercial importante. O homem de certa
classe nunca está tão ocupado que não possa conceder uma
entrevista. Apenas o homem insignificante, o que luta por se afirmar
em determinada posição, poderá negar-se a recebê-lo. Quem é
verdadeiramente importante tem tempo para escutar todo mundo. Mas
lembre-se de ter consideração para quem lhe conceda uma entrevista
— seja breve. Nos negócios, o tempo é de ouro.
145
Os ricos também são
gente. Correspondem às mesma técnicas e têm as mesmas reações
que você e eu. Se você tiver de participar de uma conversa mais
séria com uma importante personalidade comercial — talvez mesmo
seu chefe — numa festa, no local de trabalho ou em qualquer outra
circunstância, aproxime-se dele com naturalidade e sem timidez. Não
tente causar impressão, falando demais ou com excessiva rapidez. Não
grite, não conte vantagens e, acima de tudo, não adule.
146
Não se deixe apanhar
desprevenido em tais entrevistas. Pense em como desenvolverá os
tópicos que lhe serão apresentados. Saiba como expressar seus
sentimentos e suas habilidades. Familiarize-se e seja capaz de usar a
técnica de conversação previamente exposta. Lembres-se de que vai
ser empregado, ou seja, que você precisa ajustar-se a um grupo, que
participará de uma equipe. Todo emprego, qualquer que seja seu
nível, requer uma capacidade verbal em diversos graus: a faculdade
de falar facilmente com colegas, clientes, chefes, amigos e clientes
do chefe. A faculdade de criar boas relações humanas é um fator
importante, tanto para seu chefe eventual quanto para o êxito de sua
carreira.
147
Parte de seu trabalho
consistirá em saber quando não deve falar. Por exemplo, se você
trabalha num escritório, certifique-se de que desejam seus
comentários antes de se aventurar numa conversa geral, sobre
negócios ou de outro gênero. Nunca faça perguntas pessoais e seus
colegas durante as horas de trabalho.
147
Não se descuide de
cultivar a arte de objetar sem ser desagradável. Procure a
compreensão, em vez de se refugiar por trás de idéias
preconcebidas.
151
Ao aprender a conversar
bem, você aperfeiçoou sua personalidade, mas deverá valorizá-la
ainda mais. Faça a si mesmo estas perguntas: “O que quero
realmente? Que boas qualidades devo reforçar? Que pequenos defeitos
deverei corrigir? Que detestáveis falhas deverei eliminar de vez?”
151
Aprenda a ser sincero
com você mesmo e acerca de você mesmo. Examine seus pontos
favoráveis, pesquise seus pontos (152) de atração. Depois,
verifique suas responsabilidades. De que se vai querer libertar? Do
pessimismo? De espírito excessivamente crítico? Da agressividade ou
atitude negativa perante a vida? Para criar uma nova personalidade,
você deve começar por saber o que pretende conseguir e contra o que
está lutando.
152
Feições feias e
vulgares que lhe parecerão realmente belas, e isso porque você lhe
conhece a vida, como homem. a personalidade pode realçar a obra de
Deus, o ser humano, dele fazendo um objeto de rara beleza.
152
Volte ao espelho. Que
impressão lhe causa sua postura? Peito afundado, barriga saltada,
ombros caídos? Está precisando, então, de uma postura mais
correta, fácil, viva, que poderá ser alcançada com um pouco de
prática. Descanse o peso de seu corpo sobre as plantas dos pés. Dê
um passo à frente e outro para trás a fim de se certificar que o
peso recai sobre o ponto certo. Erga a parte superior do corpo, jogue
os ombros para trás e para baixo, não para cima. Erga o queixo, não
o deixando repousar sobre o peito — que seja impaciente e
agressivo, como que sempre a chegar meia hora antes do resto do
corpo... Que tal? Melhor, não? Agora você domina realmente seu
corpo.
153
Como é seu rosto?
Esqueça-lhe o formato ou feições. Será que ele reflete entusiasmo
pela vida? ou vive permanentemente fechado? Seus músculos faciais
comportam-se bem? Ou se retorcem com hostilidade, quando alguém lhe
diz algo desagradável?
153
E seus olhos? São
vivos e brilhantes, ou apagados e sem vida? Você olha fixamente as
pessoas com facilidade, enfrentando-lhes o olhar, sem temor? Aprendeu
a sorrir com os olhos? As crianças adoram mirar-se ao espelho e
fazer gestos especialmente com os olhos. Experimente fazê-los,
também, e verá que benefício lhe irá trazer, ainda que use
óculos. Felizmente, em nossos dias, não é feio usarem-se óculos.
Os modelos tanto os masculinos como os femininos, são bonitos e,
geralmente, favorecem o rosto. É sempre é melhor usa-los do que
apertar os olhos para enxergar melhor.
154
Se não gosta da
maneira como ri, crie uma nova forma, que pareça natural e soe bem a
quem o ouvir. Nada de gritinhos, nem gargalhadas, ou risinhos
abafados — mas um riso franco, bem modulado, que dê prazer aos
demais. Como quer que seja ele, modifique-o se julgar necessário,
mas não exagere, ou não sentirá prazer em rir. Os atores aprendem
a rir de maneira agradável. Sem cultivar um riso teatral,
artificial, você poderá rir de forma que contagie os demais.
154
Os gestos sem
finalidade prejudicam, desfavorecem. Trate de verificar se comete
alguma destas atitudes reprováveis:
Brinca com as mãos
enquanto fala?
Agita os braços como a
fazer sinais semafóricos?
Aponta as pessoas com o
dedo?
Agita as mãos e cerra
os punhos?
Mexe nos cabelos ou
ajeita a roupa?
155
Para alcançar uma
personalidade brilhante, cultive uma atitude positiva perante você
mesmo e o mundo ao redor. Concentre-se nas coisas boas que tem no
interior de seu ser, em sua vida e no mundo em geral. Não poderá
ignorar as preocupações, mas não precisa andar-lhes atrás por
toda parte. Na realidade, a distância entre a atitude positiva e a
negativa é menor que a espessura de um fio de cabelo. Por exemplo,
numa manhã triste e cinzenta, você poderá dizer:
— Vai chover a
cântaros daqui a pouco!
Ou poderá dizer:
— Se o sol esquentar
mais, desmanchará essas nuvens.
O que sai ganhando em
começar a ver tudo negro?
155
Como seria melhor
falarem de seus dons positivos, de seu equilíbrio, de sua calma nos
momentos críticos, ou das virtudes e qualidades que possuam. Os que
escreveram a Bíblia possuíam conhecimentos suficientes para
aconselhar-nos a não ocultarmos nossos talentos num saco. O
amor-próprio, desde que não seja cego, egoísta, é uma
característica vital de qualquer personalidade sadia. Aprecie seus
próprios méritos, não os desmereça nunca.
156
Comprove-o na primeira
vez em que se sentir triste. Force os lábios a esboçarem um
sorriso, com ou sem a intervenção do espelho, e se sentirá melhor.
A sensação talvez seja momentânea apenas, mas poderá repetir a
dose quantas vezes o desejar, especialmente pela manhã, até criar o
hábito.
156
Num dia cinzento de
inverno, alguns operários estavam trabalhando numa obra urbana. No
fundo do buraco aberto, muitos centímetros de água da chuva
tornavam o trabalho duplamente desagradável. Um transeunte perguntou
a um deles:
— O que os senhores
estão fazendo?
— Ora, então não
está vendo? — resmungou ele, mal-humorado. — Estamos consertando
o esgoto.
O mesmo transeunte
perguntou, mais adiante, a um outro operário:
— O que estão
fazendo?
Ele ergueu a cabeça
com um sorriso e respondeu, alegremente:
— Construindo uma
catedral, não está vendo?
157
Você pode escolher
entre avançar na vida abrindo esgotos ou edificando catedrais!
Nenhum comentário:
Postar um comentário