FIORAVANTE-TRISTÃO,
Daniele Pedrosa. Psicologia
da educação II.
São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010.
Lido em 2011.
Livro
emprestado
por aluna da Unopar – curso de pedagogia
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Dessa
forma, apenas no século XIX e início do século XX é que se
observa uma preocupação mais ampla e sistemática em relação ao
estudo da criança e à necessidade de educação formal, apesar de a
disciplina ser ainda exercida de forma violenta, por meio de
agressões e castigos, atitude que só começou a se modificar a
partir dessa análise científica iniciada efetivamente nesse século.
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Embora
tenha uma predominância no pensamento pedagógico, a Psicologia se
vê hoje ameaçada pela Medicina: não tendo podido dar conta do
fracasso escolar e contribuir efetivamente para a melhoria da
performance
escolar das crianças, a Psicologia perde sua hegemonia e educadores
se voltam cada vez mais para a Medicina para a solução dos
problemas de aprendizagem.
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Assim,
Moser (2002) lembra que a aprendizagem processa-se em três fases:
a)
fase de identificação: na qual se começa a perceber um determinado
objeto de conhecimento, no intuito de aprendê-lo.
b)
fase de significação: que corresponde à busca por atribuição de
algum significado a esse objeto, de acordo com o interesse que se tem
por ele.
c)
fase de aplicação: na qual todos os conhecimentos aprendidos são
empregados na vida do sujeito de acordo com suas necessidades e
propósitos.
19
Assim,
o que se deveria buscar realmente, em termos de aprendizagem, seria
a interpenetração entre o saber e o conhecimento, de modo que o
produto da aprendizagem seja sistematizado e transformador,
constituindo aquilo que chamamos de práxis: “a
práxis pode ser definida como a contínua conversão do conhecimento
em ação transformadora e da ação transformadora em conhecimento”
(GROSSI, 1990, p. 47)
É
nesse sentido que as teorias da aprendizagem buscam colaborar,
auxiliando os educadores na compreensão do modo como as pessoas
aprendem e das condições necessárias para a sua concretização,
bem como acerca do próprio papel do professor nesse processo. Dessa
forma, torna-se possível entender
um pouco mais as causas das dificuldades de aprendizagem reveladas
pelos alunos, por meio da identificação dos fatores que contribuem
para esse problema.
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Além
disso, um melhor entendimento acerca das teorias da aprendizagem pode
contribuir para uma formação mais adequada de todos que participam
do sistema educacional. Essas teorias são importantes porque
possibilitam ao professor adquirir conhecimentos, atitudes e
habilidades que lhe permitirão alcançar os objetivos do ensino com
seus aluno.
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Já
faz muitos anos que Wallon salientou que o psiquismo humano é uma
conseqüência do entrecruzamento entre o que ele metaforicamente
chamava de dois “inconscientes”: o inconsciente biológico e o
inconsciente social (WALLON, 1931).
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Concluindo,
parece claro que o processo de crescimento é muito organizado, com
uma evolução prescrita pelos genes, controlada pelo cérebro e
pelos hormônios e aberta às influências do ambiente. Essa
abertura, no entanto, não ilimitada, mas ocorre dentro de
determinadas margens preestabelecidas pela herança particular que
cada indivíduo recebe de seus pais.
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De
acordo James, deveríamos aprender a lidar com o mundo dessa forma,
uma vez que não existem verdades absolutas e as teorias científicas
são apenas aproximações da verdade, sendo mais ou menos
verdadeiras quanto mais satisfatórias forem ao nos instrumentalizar
para lidar com o mundo a nossa volta.
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A
vida humana seria impossível sem aprendizagem. Ela está presente em
praticamente tudo o que fazemos. Você não seria capaz de se
comunicar com outras pessoas, reconhecer-se como um ser humano e até
mesmo saber quais as circunstâncias adequadas para comer caso você
não fosse capaz de aprender nada. Neste capítulo, falaremos sobre
vários tipos de aprendizagem. Um deles diz respeito a aprender a
associar um evento a outro.
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Thorndike
resumiu as influências das conseqüências em sua
lei do efeito:
é provável que o comportamento que produz um efeito satisfatório
(reforço) seja realizado novamente, ao passo que o comportamento que
conduz um efeito negativo (punição) provavelmente será eliminado.
Os psicólogos contemporâneos geralmente se referem a essa lei como
o princípio
do reforçamento.
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O
treinamento por biofeedback
é uma técnica de condicionamento operante, na qual são empregados
instrumentos que fornecem aos pacientes informações a respeito da
intensidade da resposta biológica sobre a qual eles desejam ter
controle. Um aparelho de biofeedback registra informações sobre uma
resposta biológica particular ―
contrações musculares, pressão sanguínea, batimentos cardíacos,
ondas cerebrais ―
que em geral ocorre fora do alcance da nossa percepção consciente.
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Eles
acreditam que oferecer certos tipos de reforçadores (doces,
dinheiro, tempo livre) a princípio recompensadores para uma tarefa
pode, de fato, minar a motivação de realizar tal tarefa. As pessoas
podem começar a pensar que estão se esforçando apenas pelo prêmio
e perder o entusiasmo pelo que estão fazendo. Elas podem deixar de
ver o seu esforço como um desafio intrinsecamente interessante, no
qual deveriam investir sua criatividade e seu empenho por excelência.
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Para
que a punição seja eficaz deve ser imposta de modo apropriado.
Primeiramente, deve ser rápida. Se demorar, não funciona tão bem.
Mandar uma criança malcomportada imediatamente para o castigo (mesmo
quando não é conveniente fazê-lo) é muito mais eficaz que esperar
uma “hora melhor” para puni-la. A punição também deve ser
suficiente, sem ser cruel. Se um pai repreende brevemente um filho
por bater em outras crianças, o efeito disso provavelmente será
menos pronunciado do que se a criança ficasse de castigo no quarto
durante um dia inteiro. Ao mesmo tempo, a punição precisa ser
consciente.
Deve ser imposta para todos os caso de infração a uma regra, e não
apenas para alguns. Se os pais permitirem que alguns atos agressivos
fiquem impunes, é provável que seus filhos continuem a maltratar
outras crianças.
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A
punição severa pode encorajar a pessoa punida a reproduzir o mesmo
comportamento severo e agressivo em relação a outras pessoas. Em
estudos de laboratório, macacos severamente punidos tenderam a
atacar outros macacos ―
o mesmo aconteceu com pombos e assim por diante (B. Schwartz, 1989).
Além disso, em geral a punição faz com que as pessoas fiquem
nervosas e, consequentemente, mais agressivas e hostis.
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O
comportamento operante, como o próprio nome diz, é o comportamento
que opera no ambiente, direta ou indiretamente, e produz
consequências em relação ao próprio ambiente.
79
Assim,
para Skinner, todos os comportamentos, sejam eles adaptativos ou
desadaptativos, são aprendidos e mantidos de acordo com a
contingências ambientais em vigor (STURMEY, 1996). Conforme visto,
quando se fala em comportamento, para o autor, está se falando
dentro de uma perspectiva funcional, e não topográfica, ou seja,
não importa como se abriu a porta, se com o pé, ou com a mão ou
com as duas mãos, importam as consequências desse comportamento,
que seriam ter a porta aberta e a visita entrar em casa.
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Segundo
Abib (1999), subjetividade é um conceito que substantiva uma
reflexão quando o termo subjetivo é atribuído a algo. Portanto,
refletir sobre a subjetividade corresponderia a pesquisar o que
significa qualificar algo como subjetivo, uma vez que tal
classificação poderia ser definida em termos de uma natureza
mental
ou privada.
Nesse sentido, subjetividade se referia a “[...] eventos, estados,
processos e disposições mentais ou privadas, que, por causa dessas
qualidades, só podem ser de, ou pertencer a, ou estar em um sujeito”
(ABIB, 1999, p. 55).
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Com
relação a essas variáveis responsáveis pela ocorrência do
comportamento verbal, muitas vezes, de modo encoberto, poderíamos
destacar (GONGORA, 2003):
a)
conveniência: porque se toda fala ocorresse de forma aberta tenderia
a ser punido.
b)
interesse e confidencialidade: porque grande parte dos temas das
falas encobertas só diz respeito à própria pessoa.
c)
audiência: porque cada indivíduo constitui a melhor audiência para
si mesmo. Um falante pode, ainda, encobrir sua fala por encontrar
situação de isolamento social ou porque ela tenderia a ser punida
por sua comunidade verbal.
d)
comportamento irrelevante: porque essa fala, não sendo comportamento
produtivo, é de pouco interesse até mesmo para o falante.
e)
rapidez: porque falar encobertamente é mais rápido e produz mais
imediatamente a autoestimulação.
f)
esquiva da punição: porque, quando estão em vigor contingências
punitivas, o comportamento se recolhe a nível encoberto, já é
possível errar sem ter de assumir as consequências.
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Verifica-se,
então, que Skinner (1974), ao restaurar a introspecção, o faz por
razões de ordem epistemológica, e não por compartilhar uma
tendência histórica de construção da psicologia como uma ciência
da vida mental. Para o autor, os conteúdos introspectivamente
observados corresponderiam não a elementos de um mundo imaterial,
mas ao próprio ‘corpo do observador se comportando’, ou seja,
aos estados corporais e aos comportamentos encobertos já discutidos,
para os quais somente uma pesquisa fisiológica não poderia culminar
com explicações satisfatórias (SKINNER, 1974; GONGORA, 2002).
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Isso,
porem, dentro de uma perspectiva molecular, pois, de acordo com
parâmetros molares, tanto esses comportamentos quanto os próprios
eventos privados seriam explicados remetendo-se a contingencias
ambientais, já que é nesse domínio que se encontram as variáveis
responsáveis pelos processos de variação e seleção. Além de ser
nesse contesto que as coisas mais importantes de nossa vida acontecem
(GONGORA; ABIB, 2001), tal concepção permite, ainda, a previsão e
o controle do comportamento.
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O
acesso ao conhecimento já produzido por uma cultura permite ao
individuo ampliar suas possibilidades de expandir seus domínios e,
por conseqüência, a própria cultura (VILLANI,2002). É desta
perspectiva que se deve entender o propósito da educação:
transmitir
conhecimento
acumulado pelas
gerações e ensinar aptidões e práticas sociais adaptativas.
90
A
educação envolve o planejamento de condições adequadas à
aprendizagem. Segundo
Skinner (1998), a escola seria uma das agências
de controle responsáveis
por ensinar, juntamente com a família, a planejar a vida de modo a
facilitar a aquisição de comportamentos vantajosos para o indivíduo
e para seu grupo em algum momento futuro. Nesse processo, a escola
cria situações específicas de tornar mais provável a emissão de
alguns comportamentos de seus alunos.
90
A
escola é uma fonte de conhecimento e tem como função treinar
habilidades específicas de seus alunos. Nela,
as crianças podem aprender habilidades que lhe serão úteis no
futuro, mesmo que ainda não estejam vivendo essa realidade.
O
aprendizado dessas habilidades se dá basicamente por meio de
instruções em que passos graduais são programados com base em
comportamentos que a criança já apresenta, ou seja, ele já tem em
seu repertório
(VILLANI, 2002).
91
Assim,
a punição
positiva,
anteriormente representada pela palmatória, hoje se faz presente por
meio das advertências e repreensões verbais dos professores e seus
alunos. Em outras palavras: se um aluno apresenta um comportamento
considerado inadequado pelo professor, ele recebe como conseqüência
um estímulo aversivo como bronca ou desaprovação do professor.
91
Outra
forma de punição empregada para evitar a ocorrência de respostas
incompatíveis com o estudar é a punição
negativa. Nesse
caso, tenta-se evitar a indisciplina (ou outros comportamentos
indesejáveis) mediante a retirada de algum benefício e/ou
privilégio do aluno, como acontece nos castigos.
91
Não
se pode negar que o uso da punição é eficaz: o professor consegue
fazer com que se aluno deixe de apresentar aquele comportamento
indesejado. No entanto, é imprescindível lembrar que, ainda que
seus resultados mais imediatos remetam à suspensão do
comportamento-alvo, tais efeitos são temporários e ocorrem somente
na presença do agente punitivo, ou seja, do professor que aplica a
punição. Além disso, toda forma de controle, segundo Skinner
(1998), pode levar a alguma reação de contracontrole, que é
expressa pelos alunos mediante as tentativas de matar aula, ‘colar’
na prova e fazer piadinhas com a figura do professor, por exemplo. O
uso da punição também gera efeitos colaterais como medo, raiva e
comportamentos agressivos. Tais efeitos colaterais, na maioria das
vezes, atrapalham o processo de ensino e aprendizagem, visto que,
conforme mencionado, esses comportamentos, de certa forma, participam
na determinação de comportamentos públicos como o estudar.
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O
principal objetivo da educação deve ser o ensino
da aprendizagem,
garantindo, assim, o desenvolvimento da habilidade de criar
habilidades. Dessa forma o aluno terá condições de administrar com
sucesso não apenas as situações conhecidas, mas também as
situações novas e inusitadas.
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Ou
seja, desincumbido das tarefas de corrigir provas, preencher o livro
de chamada ou de atribuir notas, o professor pode se ocupar com
atividades mais importantes, como programar o material a ser
introduzido nas máquinas de ensino e atender os alunos
individualmente. Essas vantagens têm sido hoje reconhecidas por
muitas instituições que, como a nossa, oferecem cursos de educação
a distancia, sejam eles de nível médio, superior ou de
pós-graduação.
E,
se o professor adquire um novo papel, de acordo com a concepção
skinneriana de educação, seria preciso investir em sua formação,
para que ele passe a desempenhar adequadamente esse papel.
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Não
se deve deixar que o professor aprenda a ensinar com base em sua
experiência pessoal ou em experiências alheias. Segundo Skinner
(1972), aprender errado ou aprender espontânea e naturalmente são
maneiras limitadas e custosas de aprender, podendo até não levar a
aprendizagem alguma.
96
No
entanto, se estão surgindo problemas no processo de aprendizagem do
aluno, as condições oferecidas pelo professor e sua adequação às
características do aprendiz precisam ser revistas. Assim, para que
se possa se resolver o problema da educação, é preciso que se
observe a relação professor-aluno, e não comportamentos isolados
de cada um, verificando e manipulando tanto os antecedentes quanto as
conseqüências de cada desses comportamentos com vistas à melhoria
dessa interação.
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Para
Skinner (1995, p. 125), as escolas: serão um lugar muito diferente
de qualquer que tenhamos visto até o momento. Elas serão
agradáveis. Da mesma forma que as lojas bem administras,
restaurantes, teatros, elas serão bonitas, soarão bem, cheirarão
bem. Os estudantes virão para a escola, não porque serão punidos
por ficarem longe dela, mas porque serão atraídos pela escola.
professores terão mais tempo para conversar com seus estudantes. A
competição entre os alunos terminará e o estudante excelente não
precisará mais fingir que não sabe de vez em quando para poder
continuar a ser aceito em seu grupo. Professores do futuro
funcionarão mais como conselheiros, provavelmente ficando em contato
com seus alunos por mais de um ano e conhecendo-os melhor.
102
Piaget
(1989), por sua vez, preconiza a interação do sujeito com o
ambiente, postulando que agindo sobre o meio que o sujeito
epistêmico, ou o sujeito do conhecimento, é capaz de adquirir
conhecimento. Contudo o autor afirma, ainda, que aquilo que o sujeito
é capaz de aprender por suas ações no meio ambiente depende do
nível de suas estruturas cognitivas, ou seja, que ele só será
capaz de aprender, dessa interação os elementos sobre os quais
conseguir refletir cognitivamente.
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Assim,
a aprendizagem seria justamente a modificação duradoura
(equilibrada) do comportamento, em função das aquisições
adquiridas por meio da experiência no meio ambiente. Essa
estabilidade, no entanto, é eventual, pois, uma vez satisfeita uma
necessidade ou uma dúvida, novas necessidades ou dúvidas acabam por
surgir, levando novamente ao desequilíbrio e a todo esse movimento
para restauração do equilíbrio. Poderíamos, então, definir todo
esse processo de equilibração como um sistema de compensações
prováveis das perturbações exteriores por meio das atividades do
sujeito (PIAGET, 1989).
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Na
verdade, em linhas gerais, poderíamos dizer que sempre precisamos
assimilar um objeto é também necessário acomodar nossos esquemas
para receber as novas informações. Entretanto, após essa
acomodação se faria necessário o processo complementar de
assimilação, ou seja, não existe acomodação sem assimilação,
nem assimilação sem acomodação, já que toda experiência é
assimilada
a uma estrutura de ideias já existentes (esquemas), podendo provocar
uma transformação nesses esquemas, isto é, gerar um processo de
acomodação.
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