sábado, 5 de abril de 2014

MERECE SER LEMBRADO 22


O PORTEIRO DO CÉU


Pouco depois de ser nomeado porteiro do céu, pediu São Pedro licença ao Senhor, para vir à terra visitar uns velhos amigos que tinha por aqui.
— Pois sim — diz-lhe o Senhor — tens oito dias de licença.
Já havia passado mais de um mês, quando o porteiro do céu voltando ao seu emprego, se apresentou ao bom Deus, envergonhado e um pouco receioso pela demora.
— Tinhas por lá muitos amigos, homem!
— Desculpai-me, Senhor, mas graças à vossa infinita bondade, a terra estava tão agradável, tão formosa, que me esqueci completamente do tempo que passava; todos os dias um sol esplêndido; as aves e as flores enchiam o ar de harmonia e de fragrâncias; as árvores vergavam com os frutos, e as searas maduras ondulavam, acariciadas pela brisa, que temperava a atmosfera de suave frescura; o mar espreguiçava-se indolente no seu vasto leito, e acompanhava, com o murmúrio das ondas, o canto dos pescadores; por toda a parte a alegria, a abundância, a felicidade: um paraíso! Não havia doenças, não se ouviam queixumes, nem orações.
— Muito bem — diz-lhe Deus, que tinha escutado com atenção — estimo que gostasses do passeio e te divertisses; volta para o teu lugar.
Passou-se tempo e o Santo porteiro, cada vez com mais saudades daquelas primeiras férias, que tinha gozado, pediu outra vez a Deus mais oito dias de licença.
— Pois sim — diz-lhe o Senhor — podes demorar-te um mês, se quiseres.
Ao cabo de quatro dias, ei-lo de volta.
— Que? Tão cedo? — perguntou-lhe Deus.
— Ai! Senhor! O que lá vai por baixo! Não se pode lá parar nem um dia. Que miséria. Que inferno. Ventanias, trovoadas, tempestades incessantes; as searas destruídas; a peste e a fome dizimam as populações. Não se ouve senão lamentos de dor ou imprecações de desespero. As procissões de penitencia são aos centos...
— Aí tens tu — interrompeu o Senhor — aí tens... pudeste desenganar-te, ver com os teus olhos quanto a prosperidade torna os homens ingratos, e como precisam de ser visitados pelo infortúnio para se aproximarem de mim.


O título do livro é A ÁRVORE DE NATAL.
O nome do autor não foi possível identificar, mas na parte da capa que resta aparece um nome Tycho Brahe.
A editora é LIVRARIA QUARESMA, Rio de Janeiro, 1959.

O livro inicia-se com

AO LEITOR.

Mais um livro de histórias é hoje oferecido às crianças brasileira.
A ÁRVORE DE NATAL ou TESOURO MARAVILHOSO DE PAPAI NOEL, revela mais uma vez ao bom público que nos tem protegido e amparado com sua benevolência, o progresso que temos incutido à nossa Biblioteca Infantil que é a única no Brasil.
O presente volume que foi confiado a reconhecido e autorizado escritos, contém muitas histórias originais e várias adaptações de novelas de mestres como Shakespeare, Tolstoi, Perrault, La Fontaine, etc. ... Não são a repetição do que já temos publicado ou mesmo parodiado, mas sim trabalhos coligidos de maneira que a ficção, sempre imaginosa, ande a par com o fim de todo o livro infantil: deleitar, instruindo.
Tais contos, como agora damos à luz da publicidade, são um precioso elemento de educação doméstica, pois, como diz La Fontaine: “ Quem não acha um prazer extremo em ouvir histórias mesmo inverossímeis?” São uma formosa coletânea que agradará a nossos leitores e principalmente aos seus filhos e que virá demonstrar nosso constante empenho de ser útil e agradável às crianças que falam a nossa bela língua portuguesa.

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