O PORTEIRO DO CÉU
Pouco depois de ser
nomeado porteiro do céu, pediu São Pedro licença ao Senhor, para
vir à terra visitar uns velhos amigos que tinha por aqui.
— Pois sim —
diz-lhe o Senhor — tens oito dias de licença.
Já havia passado mais
de um mês, quando o porteiro do céu voltando ao seu emprego, se
apresentou ao bom Deus, envergonhado e um pouco receioso
pela demora.
— Tinhas por lá
muitos amigos, homem!
— Desculpai-me,
Senhor, mas graças à vossa infinita bondade, a terra estava tão
agradável, tão formosa, que me esqueci completamente do tempo que
passava; todos os dias um sol esplêndido; as aves e as flores
enchiam o ar de harmonia e de fragrâncias; as árvores vergavam com
os frutos, e as searas maduras ondulavam, acariciadas pela brisa, que
temperava a atmosfera de suave frescura; o mar espreguiçava-se
indolente no seu vasto leito, e acompanhava, com o murmúrio das
ondas, o canto dos pescadores; por toda a parte a alegria, a
abundância, a felicidade: um paraíso! Não havia doenças, não se
ouviam queixumes, nem orações.
— Muito bem —
diz-lhe Deus, que tinha escutado com atenção — estimo que
gostasses do passeio e te divertisses; volta para o teu lugar.
Passou-se tempo e o
Santo porteiro, cada vez com mais saudades daquelas primeiras férias,
que tinha gozado, pediu outra vez a Deus mais oito dias de licença.
— Pois sim —
diz-lhe o Senhor — podes demorar-te um mês, se quiseres.
Ao cabo de quatro dias,
ei-lo de volta.
— Que? Tão cedo? —
perguntou-lhe Deus.
— Ai! Senhor! O que
lá vai por baixo! Não se pode lá parar nem um dia. Que miséria.
Que inferno. Ventanias, trovoadas, tempestades incessantes; as searas
destruídas; a peste e a fome dizimam as populações. Não se ouve
senão lamentos de dor ou imprecações de desespero. As procissões
de penitencia são aos centos...
— Aí tens tu —
interrompeu o Senhor — aí tens... pudeste desenganar-te, ver com
os teus olhos quanto a prosperidade torna os homens ingratos, e como
precisam de ser visitados pelo infortúnio para se aproximarem de
mim.
O título do livro é A
ÁRVORE DE NATAL.
O nome do autor não
foi possível identificar, mas na parte da capa que resta aparece um
nome Tycho Brahe.
A editora é LIVRARIA
QUARESMA, Rio de Janeiro, 1959.
O livro inicia-se com
AO LEITOR.
Mais um livro de
histórias é hoje oferecido às crianças brasileira.
A ÁRVORE DE NATAL
ou TESOURO MARAVILHOSO DE PAPAI NOEL, revela mais uma vez ao
bom público que nos tem protegido e amparado com sua benevolência,
o progresso que temos incutido à nossa Biblioteca Infantil que é a
única no Brasil.
O presente volume que
foi confiado a reconhecido e autorizado escritos, contém muitas
histórias originais e várias adaptações de novelas de mestres
como Shakespeare, Tolstoi, Perrault, La Fontaine, etc. ... Não são
a repetição do que já temos publicado ou mesmo parodiado, mas sim
trabalhos coligidos de maneira que a ficção, sempre imaginosa, ande
a par com o fim de todo o livro infantil: deleitar, instruindo.
Tais contos, como agora
damos à luz da publicidade, são um precioso elemento de educação
doméstica, pois, como diz La Fontaine: “ Quem não acha um prazer
extremo em ouvir histórias mesmo inverossímeis?” São uma formosa
coletânea que agradará a nossos leitores e principalmente aos seus
filhos e que virá demonstrar nosso constante empenho de ser útil e
agradável às crianças que falam a nossa bela língua portuguesa.
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